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Jornada mais do que tripla: como Ana Oliva concilia o triatlo e a direção de duas empresas

Nadar, correr, pedalar. E gerir duas empresas. Essas são as tarefas diárias de Ana Oliva, presidente do conselho da Astra e diretora da Japi

Ana Oliva: triatleta e presidente do conselho de administração da Astra e diretora da Japi. (Leandro Fonseca/Exame)

Ana Oliva: triatleta e presidente do conselho de administração da Astra e diretora da Japi. (Leandro Fonseca/Exame)

Júlia Storch
Júlia Storch

Repórter de Casual

Publicado em 14 de junho de 2023 às 06h00.

Última atualização em 23 de agosto de 2024 às 17h04.

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Mesmo uma pessoa fisicamente ativa demoraria semanas ou até meses para pedalar 180 quilômetros, correr 42 quilômetros e nadar 3.800 metros. Não Ana Oliva, presidente do conselho de administração da Astra e diretora da Japi, que percorreu todas essas distâncias em 9 horas e 43 minutos, seu melhor tempo em um Ironman. A empresária, que comanda as marcas que vendem de tubos de PVC a banheiras, passando por espelhos, assentos sanitários, vasos para plantas, janelas, lixeiras e até produtos para pets, já completou a prova cinco vezes.

Oliva começou sua vida esportiva na água, ainda na infância, quando a natação era sua atividade preferida. Ela costumava nadar na piscina municipal de Jundiaí para praticar com o irmão. Ainda que fossem aulas regulares, foi após um incidente na praia de Juquehy, no litoral paulista, em que os irmãos foram levados por uma correnteza, que Oliva decidiu pegar firme no esporte. “Ficamos quebrando as ondas, e meu irmão, que tinha mais treinamento, conseguiu sair quando a correnteza nos levou, mas ele não conseguia me puxar. Quem me salvou foi o meu avô”, lembra. Foi então que ela entrou em uma academia e se inscreveu na Federação Paulista de Natação. “Na academia os treinadores de natação montaram uma equipe de triatlo e chamaram apenas o meu irmão para participar. Não era nada profissional, mais uma brincadeira com corridas em volta do quarteirão, bem raiz mesmo, mas fiquei incomodada”, conta.

Talvez o incômodo e o senso de competição tenham sido fatores para que Oliva se tornasse uma triatleta no futuro. “Sempre tive contato com a corrida também. Nunca fui muito de estudar, deixava para me preparar um dia antes das provas. Quando não aguentava mais olhar para os livros, saía para correr na Avenida Nove de Julho, em Jundiaí. Sempre fui moleca e andava com os meninos de mountain bike na Serra do Japi. Bem ou mal, sempre pratiquei as três modalidades.”

O hábito de correr após as aulas continuou na época da faculdade, quando ia às 23 horas para a academia fazer seus 5 quilômetros diários na esteira. Em uma noite qualquer, um amigo a viu correndo e comentou que ela deveria procurar uma assessoria de corrida. “Ele perguntou onde eu treinava, pois tinha uma postura e mecânica boas. Eu corria por mim, para suar e ser feliz. Brinco que foi ele quem me descobriu.” Sempre se desafiando, Oliva seguiu o conselho do amigo e procurou ajuda. Ao longo dos meses começou a aumentar a quilometragem, e em dois anos foi para Chicago correr sua primeira maratona, finalizada após 3 horas e 52 minutos. “Não era uma atleta fenomenal, tive todas as dores dos corredores. Estava ali para me divertir”, diz. Mas 42 quilômetros foi pouco para a empresária, que queria se desafiar ainda mais. “Tenho o espírito de uma eterna insatisfeita. Não queria baixar o tempo da maratona. Decidi então fazer triatlo.” Faltando dois meses para o Troféu Brasil, Oliva comprou uma bicicleta de alumínio e começou a treinar as três modalidades simultaneamente. “Me apaixonei, me senti em uma gincana de colégio”, brinca. Os treinos aconteciam em horários flexíveis, durante o almoço e antes ou depois do trabalho. “Fiquei até chata, pois é difícil fazer três coisas bem e ainda ter o trabalho.”

Mais do que treino físico, o Ironman requer preparação mental. A primeira prova foi o Meio Ironman, que aconteceu na Suíça. “Acabei me arrastando, mas gostei.” Já na segunda prova, no ano seguinte, na Áustria, Oliva ficou em terceiro lugar e conquistou a vaga para o mundial de Meio Ironman no Havaí. “Não tinha nem dinheiro para pagar na hora, meus amigos fizeram uma vaquinha e acabaram me emprestando”, lembra, rindo. Novamente fez uma boa prova e chamou a atenção dos outros competidores. Afinal, era uma amadora.

Até que em 2010 ela fez seu primeiro Ironman completo. Sua meta era conseguir fazer a prova em menos de 10 horas. “Fui a primeira brasileira a chegar e fui top cinco entre as profissionais.” Mais uma vez conquistou a vaga para o mundial no Havaí. Com isso, conseguiu patrocínio de marcas. No mesmo ano Oliva bateu o recorde de 9 horas e 43 minutos, no Brasil. No ano seguinte, com o calcanhar trincado, foi para o Havaí participar da prova. Rompeu os ligamentos do tornozelo, mas terminou o desafio após 12 horas. “Na prova seguinte comecei a sentir que não estava mais saudável competir. No último treino de bicicleta, na Rodovia dos Bandeirantes, tomei um tombo.” O resultado foi uma costela quebrada, distensão abdominal, edemas e o encerramento da carreira no Ironman. Na semana seguinte o avô, Francisco Oliva, fundador das duas empresas, ficou doente, e Ana assumiu o comando. “Vejo que nada acontece por acaso na vida. Se eu tivesse ido viajar para competir, teria voltado no voo seguinte”, diz.

Ainda que tenha encerrado a participação em competições, Oliva continua dando braçadas, pedaladas e correndo diariamente. “Dou meu jeitinho, acordo às 4h30 para praticar antes de levar meus filhos para a escola.” Dentro das empresas, os funcionários também são incentivados a se exercitar. Desde a década de 1960 funciona o Grêmio Esportivo Astra, um clube de campo em Jundiaí que conta com aulas de circuito funcional, grupo de corrida, dança de salão, hidroginástica, pilates, muay thai, ioga e tênis. A Astra e a Japi também são patrocinadoras do Instituto Escolinha de Triathlon Formando Campeões, que atende 1.250 crianças em 24 núcleos em oito estados. A Astra ainda é patrocinadora da equipe de natação paralímpica. Olhando para trás, mesmo com as lesões, Oliva encerra nossa conversa com uma valiosa lição: “O mundo é dos amadores, aqueles que amam o que fazem”.  


5 passos para ser um triatleta

Seja um “amador”
“Se você não tiver amor pelo que faz, não conseguirá chegar até o final”

Respeite-se
“É preciso saber os limites de seu corpo e entender a complexidade da prova”

Planeje
“Escolha suas prioridades. O Ironman muitas vezes requer abdicação de festas e jantares”

Seja Resiliente
“Saiba lidar com as coisas quando saírem do controle”

Mantenha a cabeça fresca
“Tenha controle da mente. Sem isso você não consegue chegar ao final”


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