Revista Exame

Da internet para a sala de aula na Anhanguera

Vindo do Google, o executivo Alex Dias assume a presidência da rede de ensino Anhanguera. Sua missão: apresentar a era digital a mais de meio milhão de alunos

Alex Dias (à esq.) e Antonio Carbonari, da Anhanguera: a meta é conquistar 800 000 alunos no ensino a distância, a maioria da classe C (.)

Alex Dias (à esq.) e Antonio Carbonari, da Anhanguera: a meta é conquistar 800 000 alunos no ensino a distância, a maioria da classe C (.)

DR

Da Redação

Publicado em 31 de maio de 2013 às 18h07.

Por tradição, transições no alto comando de grandes empresas costumam ser cercadas de barulho - tanto para quem sai quanto para quem chega. Primeiro porque geralmente representam uma ruptura com o status quo, algo que deixa concorrentes e investidores em estado de alerta.

Depois, porque o executivo recém- empossado passa a ser, para todos os efeitos, a cara da companhia - e é natural que se comemorem grandes "aquisições". Pois na Anhanguera, a maior rede privada de ensino superior do país, com 290 000 alunos e uma receita de 1,3 bilhão de reais, essa transição vem sendo realizada de maneira espantosamente silenciosa.

Desde o dia 9 de setembro, a cadeira de presidente passou a ser ocupada pelo executivo fluminense Alex Dias, de 38 anos. Discretamente, ele deixou a diretoria-geral da subsidiária brasileira do Google, posto que ocupava desde agosto de 2008, e passou a se reunir quase diariamente com executivos da Anhanguera na sede do banco Pátria, no bairro de Pinheiros, na zona oeste de São Paulo.

Embora oficialmente permaneça abaixo de Antonio Carbonari Netto, presidente e fundador da empresa, na prática é ele quem passa a tocar a operação de agora em diante. "O futuro é digital", diz Alexandre Saigh, sócio do Pátria e presidente do conselho de administração da Anhanguera. "E ninguém melhor que um ex-executivo do Google para tirar proveito disso."

Expansão

Embora repentina (a saída de Carbonari do dia a dia da operação só estava prevista para 2012), a escolha de Dias para o comando da Anhanguera é tudo, menos aleatória. Caberá a ele colocar em prática um plano de expansão, traçado há cerca de um ano pelos acionistas da empresa: fazer da Anhanguera uma referência mundial no ensino a distância, chegando a 800 000 alunos em apenas cinco anos - seis vezes mais que o montante atual.

Além de dobrar o número de unidades, Alex Dias ficará responsável por um projeto de digitalização dos alunos da rede. Pelos planos da Anhanguera, até 2015 cada um dos cerca de 500 000 alunos que se matricularem na rede receberá um notebook - ou um tablet como o iPad - no lugar dos tradicionais livros e apostilas.

A ideia é que o conteúdo das aulas seja distribuído em pendrives ou por internet sem fio. Para isso, será investido 1 bilhão de reais nos próximos cinco anos na aquisição de escolas e na reorganização da infraestrutura da rede, migrando-a para o sistema digital. "Essa será nossa grande diferença em relação aos concorrentes", afirma Dias. "Ainda não sabemos como chegaremos lá. E é por isso que estou aqui."


Formado em engenharia civil pela Universidade de Campinas, Alex Dias não era a primeira opção dos acionistas da Anhanguera para ocupar a presidência - antes dele, outros nove candidatos foram entrevistados. O ex-presidente do Google foi o último a ser sabatinado no início de junho. Quinze dias depois, estava escolhido graças, sobretudo, a seus conhecimentos no mercado de tecnologia.

A despeito da crise, a subsidiária brasileira do Google manteve um crescimento próximo de 100% ao ano entre 2008 e 2009, atraindo grandes clientes, como Renner e Fiat. "Não precisávamos de um gestor", diz Carbonari Netto. "O que faltava era alguém que conhecesse bem o negócio de internet."

Ao analisar o potencial de crescimento do ensino a distância no Brasil, fica fácil entender por que um alto executivo troca uma empresa sexy como o Google por uma rede de universidades voltadas principalmente para as classes emergentes.

Um recente relatório do banco Santander mostra que o número de alunos matriculados nessa modalidade de estudo - que depende basicamente do uso de um computador com acesso à internet - deve crescer a uma taxa média anual de 19% até 2012, seis vezes mais que o tradicional ensino presencial. Até lá, estima-se que cerca de 1,5 milhão de estudantes participem de algum tipo de curso a distância no país.

É quase um terço das matrículas da rede privada de ensino superior. "Boa parte desses estudantes vem da emergente classe C", diz Vitor Pini, analista de educação do banco Bradesco. "Eles são atraídos pelo preço da mensalidade, que chega a custar até metade do valor de um curso presencial. Para a empresa, é um jeito barato de expandir sua atuação, uma vez que os custos desse sistema são 75% menores." A própria Anhanguera é um bom exemplo do potencial desse mercado. Em 2008, a rede contava com 40 000 alunos matriculados no ensino a distância, ou 25% do total. Até o final do ano passado, esse número havia crescido para 125 000, chegando a 40% do total de alunos e a 18% da receita, ou 163 milhões de reais.

Chegar a um número cada vez maior de alunos gastando menos dinheiro é certamente uma estratégia tentadora - o que ainda não está claro é como a Anhanguera vai executá-la. A frenética rotina de aquisições realizada desde a abertura de capital da empresa, em março de 2007, transformou a Anhanguera numa potência do setor, mas produziu um efeito colateral tão importante quanto indesejável: o endividamento.

A compra de 21 instituições de ensino deixou a companhia com uma dívida de 105 milhões de reais, apenas 160 milhões de reais líquidos em caixa, abaixo da Universidade Estácio de Sá, sua principal concorrente.

Pelo menos por enquanto, os investidores estão satisfeitos com o caminho trilhado pela Anhanguera. As ações da empresa na bolsa subiram 20% de janeiro para cá, ao passo que os papéis da Estácio desvalorizaram 28%. Um sinal de que os investidores permanecem confiantes que o crescimento espantoso que a Anhanguera mostrou nos últimos anos pode ser mantido daqui para a frente.

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