Revista Exame

Integrar para entregar

Crucial para uma boa experiência do usuário, a integração de dados ainda é um desafio nas empresas — mas novas tecnologias têm acelerado o processo

Thaise Hagge, diretora-geral do Compra Agora: “Lojistas que usam a plataforma digital compram mais e com maior frequência” (Claudio Belli/Divulgação)

Thaise Hagge, diretora-geral do Compra Agora: “Lojistas que usam a plataforma digital compram mais e com maior frequência” (Claudio Belli/Divulgação)

Juliana Pio
Juliana Pio

Editora-assistente de Marketing e Projetos Especiais

Publicado em 12 de dezembro de 2023 às 06h00.

Última atualização em 18 de dezembro de 2023 às 10h57.

Comprar online está cada vez mais fácil. Bastam alguns cliques e, voilá, o produto chega à casa do cliente. Mas quem só aproveita essa praticidade nem imagina que ela é movida por uma engrenagem de pelo menos 35 sistemas que precisam conversar entre si e de maneira perfeitamente orquestrada.

O “maestro” dessa orquestra se chama integração de dados, um processo fundamental para que as empresas consigam se manter eficientes, competitivas e inovadoras. Não à toa, 88% dos líderes de tecnologia veem a integração de dados como imprescindível para entregar uma experiência fluida e sem atritos ao usuário, segundo estudo recente da Salesforce.

Um bom exemplo disso é o Compra Agora, marketplace para atacadistas e pequenos comerciantes. A marca surgiu em 2016, como uma iniciativa de digitalização dentro da Unilever que, na época, sentiu que poderia usar tecnologia para atender melhor os seus varejistas. O gigante de bens de consumo queria oferecer a possibilidade de comprar via aplicativo, sem a necessidade de aguardar a visita de um vendedor.

A solução era boa, mas, para fazer sentido aos varejistas, precisava haver outros produtos além dos da Unilever. Foi então que, em 2020, o projeto se emancipou e passou a oferecer o portfólio de diversas indústrias — cuidando, inclusive, da distribuição dos pedidos, o que aumentou o tamanho da operação e a geração de novos dados diariamente.

“Quando éramos um piloto, todas as extrações e cruzamentos de dados eram feitos ‘na unha’, como se diz. Mas a plataforma foi crescendo de tal forma que logo não tínhamos mais condições de conti­nuar no modo manual”, explica ­Thaise Hagge, diretora-geral do Compra Agora.

Foi quando a integração de dados entrou em cena e mudou o jogo. O trabalho foi automatizado, e os times de dados passaram a focar seus esforços em tarefas mais complexas, que necessitavam de mais atenção humana. Hoje, já são mais de 500.000 “varejos de vizinhança” conectados ao Compra Agora, além de 400 distribuidores e 50 indústrias — e todos se valem dos insights que a plataforma fornece.

“Com os dados das atividades dessa ­tría­de­ de clientes [indústrias, distribuidores e lojistas, consigo devolver a eles informações cada vez mais relevantes”, explica ­Hagge. “Dessa forma, é possível recomendar o mix de produtos ideal para o lojista recomprar, como também ajudar a elevar o nível de serviço da indústria.”

Segundo a executiva, os lojistas que aderiram à plataforma digital compram em média 30% mais do que aqueles que ainda fazem os pedidos offline, além de comprar em uma frequência 50% maior. “É um resultado expressivo, fruto de um trabalho que começou lá atrás, ainda no Excel, e que cresceu graças à integração de dados.”

Jhonata Emerick, CEO da Datarisk: “Decisões precisam ser baseadas em dados estruturados e que reflitam a realidade do negócio” (Datarisk/Divulgação)

Desafios

A escalabilidade e a disponibilidade das integrações de dados estão entre os principais desafios para as equipes de tecnologia. Especialmente quando as empresas são mais tradicionais (nascidas fora do ambiente digital), quando crescem muito rápido ou quando esse crescimento envolve fusões e aquisições — que, de um dia para o outro, obrigam diferentes sistemas a conversarem entre si.

“Esse é um dos cenários mais desafiadores, porque você precisa enxergar o negócio como um todo, mas ele está sendo operado em sistemas diferentes. Parte do faturamento está em um sistema, parte está em outro”, explica o especialista em dados Jhonata Emerick, CEO da Datarisk. “Tudo isso precisa ser integrado para que as tomadas de decisão sejam baseadas em informações mais estruturadas, que reflitam a realidade do negócio.”

Ainda que a prática seja mais complexa que o discurso, as empresas que se propõem a enfrentar essa jornada logo colhem os frutos. É o caso da Tigre, multinacional brasileira que atua há 80 anos no ramo da construção civil. Por lá, a integração de dados era tratada de forma intuitiva e isoladamente, projeto a projeto. Até que, em 2018, a companhia passou a ter um olhar mais estruturado sobre essa pauta, observando necessidades momentâneas e futuras.

“Os desafios eram e continuam sendo grandes, principalmente para compatibilizar a diversidade tecnológica dos ambientes”, destaca Eduardo Müller, gerente de Relacionamento e Arquitetura de TI do Grupo Tigre. “Mas, nas áreas em que tivemos um avanço estruturado da arquitetura de integrações, percebemos uma redução importante nas inconsistências e no volume de interações de suporte. Conseguimos atuar de forma preventiva com monitoramento ativo das integrações mais críticas.”

Resultado semelhante foi observado na SumUp, fintech focada em soluções para micro e pequenos empreendedores. Com múltiplas áreas de negócio, e com a introdução de produtos financeiros, a empresa teve de lidar com novas dimensões de dados ao longo dos anos. Um exemplo é o SumUp­ Bank, a conta digital da SumUp, que acrescentou milhões de transações bancárias de clientes, em diversas etapas da jornada deles, a um ecossistema que já lidava com numerosas transações de pagamento.

“Uma integração precisa ser muito bem especificada conceitual e tecnicamente. Muitas vezes, esse planejamento só acontece em etapas posteriores”, analisa Vinicius Carvalho, gerente de Projetos em Operações da SumUp.

Eduardo Müller, gerente de Relacionamento e Arquitetura de TI do Grupo Tigre: “Compatibilizar a diversidade tecnológica dos ambientes ainda é um desafio” (Grupo Tigre/Divulgação)

“Empoderar a ponta”

Líder mundial em CRM (sigla em inglês para “gerenciamento de relacionamento com o cliente”), a Salesforce adquiriu, em 2018, a MuleSoft, até então líder de conectividade por meio de APIs, para acelerar ainda mais a transformação digital de seus clientes.

Superando as integrações por projeto (como acontecia antigamente na Tigre e em diversas outras empresas), a MuleSoft tem como base a filosofia de arquitetura desacoplada. A ferramenta oferece uma biblioteca de conectores que ligam uma infinidade de sistemas uns aos outros, que podem ser usados e até mesmo personalizados.

“É como um grande sistema de Lego, cheio de peças prontas para você montar conforme a necessidade. Num primeiro projeto, é preciso construir algumas integrações do zero, mas, nos seguintes, desenvolve-se apenas o delta, o que for diferente”, explica Danilo Bordini, líder da MuleSoft para a América Latina. “Isso permite entregar em semanas o que antes levava meses, diminuindo o time to market das inovações.”

Com o MuleSoft Composer, um módulo desenvolvido especialmente para agregar as áreas de negócio, qualquer colaborador consegue automatizar fluxos de trabalho conectando aplicativos e dados simplesmente “arrastando e soltando”. É o que a diretora-geral do Compra Agora chama de “empoderar a ponta”. “As pessoas precisam ser capazes de cruzar dados e tirar insights desses cruzamentos no dia a dia, porque isso gera valor para o negócio”, diz Hagge. “Diminui o backlog e otimiza o tempo dos times de dados, que são escassos, caros e bastante disputados no mercado.”

Além de empoderar a ponta, recentemente a MuleSoft passou a contar com um novo recurso que facilita também o trabalho dos desenvolvedores back-end. É o Anypoint Code Builder, que usa inteligência artificial generativa para auxiliar no desenvolvimento de integrações e conectores utilizando linguagem natural, e não códigos brutos — turbinando a produtividade.

“Ele também guarda uma série de templates e blueprints segmentados por indústrias, eliminando a necessidade de reinventar a roda a cada nova demanda”, explica Bordini. “Isso faz da MuleSoft uma ferramenta bem completa, que atende desde o desenvolvedor especializado, que tem preocupações de performance, escalabilidade e segurança, até um desenvolvedor ou alguém da área de negócio, que precisa simplesmente montar a melhor aplicação possível e entregar uma boa experiência ao consumidor final.”

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