Andrea Andrezo, cofundadora e presidente da Sempre FEA: “Queremos conectar ex-alunos e alunos para tirar projetos da comunidade do papel” (Germano Lüders/Exame)
Marcelo Sakate
Publicado em 11 de fevereiro de 2021 às 05h45.
Última atualização em 12 de fevereiro de 2021 às 10h15.
Nos Estados Unidos, os endowments acadêmicos reúnem bilhões de dólares e ajudaram a forjar a cultura da filantropia no país. Lá, esses fundos gerem as doações de empresas e pessoas físicas, de modo a perpetuar seus recursos ao longo do tempo, e são tão tradicionais como as próprias universidades — o da Universidade Harvard, criado em 1974, administra 42 bilhões de dólares. No Brasil, o movimento chegou bem depois e agora começa a ganhar velocidade. A Lei dos Fundos Patrimoniais, que permitiu a criação dos endowments, acaba de completar dois anos, e as iniciativas se espalham pela sociedade.
Um dos exemplos mais recentes é o da Sempre FEA, um fundo patrimonial que reúne ex-alunos e alunos da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo, a FEA-USP. Fundada há um ano e meio por quatro ex-alunos de uma das instituições mais tradicionais do país, ela tem como objetivo angariar recursos para apoiar projetos de transformação social que envolvam a comunidade “feana”. No fim do ano passado, a Sempre FEA selecionou 23 projetos em áreas como empreendedorismo, excelência acadêmica, diversidade e inclusão para investir cerca de 250.000 reais.
A Sempre FEA foi inspirada no Amigos da Poli, um fundo de ex-alunos da faculdade de engenharia da USP, criado em 2011, que conta hoje com mais de 35 milhões de reais de patrimônio.
“A mensagem que passamos é que a Sempre FEA não nasceu para impor nada; estamos para agregar, retribuindo o que recebemos da FEA e da sociedade. É uma iniciativa que serve para fazer a ponte entre alunos, ex-alunos e professores”, diz Andrea Andrezo, presidente da Sempre FEA e uma das quatro fundadoras.
“Queremos ajudar a tirar ideias da comunidade do papel e conectar alunos e ex-alunos da instituição que estão dispersos.” O fundo conta com cerca de 200 voluntários, todos não remunerados, incluindo a diretoria e os membros de seus conselhos.
A Sempre FEA cresceu até outubro passado de forma essencialmente orgânica, por meio de uma rede de contatos que conectava doadores e voluntários que ficavam sabendo da iniciativa e avisavam amigos e conhecidos. A partir de outubro, ganhou perfis em redes sociais e passou a promover eventos virtuais com ex-alunos famosos, como Pérsio Arida, ex-presidente do BNDES e um dos pais do Plano Real, e Guilherme Leal, um dos fundadores da Natura.
O fundo patrimonial da Sempre FEA encerrou o ano passado com 4,3 milhões de reais. O objetivo é mais do que dobrar o volume sob gestão até o fim do ano e chegar a 10 milhões de reais. O número é considerado animador diante do pouco tempo de existência da Sempre FEA, ainda que seja modestíssimo se comparado ao dos fundos das principais instituições de ensino dos Estados Unidos.
O fundo de ex-alunos da FEA tem outros objetivos até dezembro, como iniciar um programa de mentoria e chegar a 500 doadores pessoas físicas, multiplicando por 4 o número atual. Por fim, a meta é que os projetos socioeducacionais atinjam 90% de sucesso, algo medido por meio de indicadores-chave de performance. É um reflexo da preocupação com a governança e a transparência na tomada de decisões. “A prestação de contas permite que se tenha a dimensão do impacto das doações em casos concretos. E isso ajuda a fomentar a cultura da doação”, diz Andrezo.