Revista Exame

Ex-banqueiro do Cruzeiro do Sul diz ser mantido pela família

Luis Octavio Indio da Costa tinha um vidão até seu banco, o Cruzeiro do Sul, quebrar. Hoje, dirige um carro usado e diz que é sustentado pela família. Mas a polícia não está acreditando


	Luis Octavio Índio da Costa, ex-dono do Cruzeiro: hoje diz viver com a ajuda de familiares
 (Fernando Moraes/EXAME.com)

Luis Octavio Índio da Costa, ex-dono do Cruzeiro: hoje diz viver com a ajuda de familiares (Fernando Moraes/EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 21 de agosto de 2014 às 13h41.

São Paulo - Quando ainda comandava o Banco Cruzeiro do Sul, o carioca Luis Octavio Indio da Costa tinha um estilo de vida que fazia a alegria de seus amigos. Ele organizou shows privados dos cantores Elton John e Tony Bennett — este último aconteceu no jardim de 6 000 metros quadrados de sua casa na Granja Viana, a 31 quilômetros de São Paulo, e teve a presença de cerca de 500 convidados.

Também em casa, almoçou, reservadamente, com a cantora Madonna. Conversa vai, conversa vem, acabou doando cerca de 2 milhões de dólares a uma ONG apoiada pela artista. Nos fins de semana, convidava amigos para fazer viagens pelo litoral do Rio de Janeiro num iate avaliado em 9 milhões de reais. 

O vidão foi interrompido de forma um tanto brusca em setembro de 2012, quando o Cruzeiro do Sul quebrou. Acusado pela Polícia Federal de cometer crimes contra o sistema financeiro, Indio da Costa foi preso por alguns dias. 

O julgamento não tem data marcada, mas, se for condenado, seus bens serão usados para ajudar a ressarcir os antigos clientes. Na pior das hipóteses, ele poderá voltar para a cadeia. Na melhor, viverá até o julgamento com os bens bloqueados. Ou seja, o vidão acabou. Mas acabou mesmo?

Assim que saiu da prisão, em novembro de 2012 — depois de passar 19 dias no Centro de Detenção Provisória de Pinheiros, na zona oeste de São Paulo —, Indio da Costa decidiu que precisava espairecer. Em janeiro de 2013, viajou para Fernando de Noronha com amigos.

Em julho, foi a uma estação de esqui no Chile, onde tem um apartamento, e começou a organizar outra viagem para esquiar, dessa vez em Aspen, nos Estados Unidos. No início deste ano, passou algumas semanas no apartamento de Nova York e saiu em colunas sociais dos grandes jornais brasileiros.

É claro que, para usar o vocabulário da turma de finanças, o vidão de Indio da Costa sofreu um “downgrade” — esquiar no Chile é bem diferente do que bancar um show de Elton John. Mas, para alguém com os bens bloqueados, era uma situação estranha. 

Até que foi alertado por alguns amigos: não pega bem, para alguém nessa situação, ser visto por aí fazendo o que a imensa maioria dos brasileiros jamais terá dinheiro para fazer. Foi quando decidiu ficar na moita. A EXAME,­ Indio da Costa disse que todos os gastos que tem hoje são bancados por familiares. 

“Diante da impossibilidade de trabalhar em minha profissão e de dispor de meu patrimônio, todos os recursos necessários para o custeio das despesas do dia a dia e para minha defesa são fornecidos por familiares, com os quais o banco Cruzeiro do Sul nunca operou”, afirmou por e-mail. 

Embora tenha um carro esportivo Maserati avaliado em cerca de 400 000 reais, dirige no dia a dia um Golf GTI modelo 2007/2008, de 100 000 reais. As viagens, por enquanto, foram suspensas; restaurante chique, só em ocasiões especiais.

Show de Madonna: símbolo da fase esbanjadora de Indio da Costa (Cory Schwartz/Getty Images)

De qualquer forma, fica a dúvida — a generosidade de familiares seria suficiente para bancar os gastos de Indio da Costa?

O Ministério Público, com a ajuda da Polícia Federal, está investigando. O ex-banqueiro é sócio de duas empresas próprias. 

Uma delas é a Star Investimentos e Participações. A PF suspeita que a empresa tenha sido usada para ocultar bens. 

Os credores e ex-gerentes do banco pedem que o Ministério Público analise outra empresa, a OCFIC Real­ty. 

Três dias antes de o Banco Central intervir no Cruzeiro do Sul, o capital social dessa empresa aumentou de 1 000 reais para 3,5 milhões de reais e seu contrato social foi alterado para incluir o filho e a ex-mulher de Indio da Costa na sociedade.

O ex-banqueiro tem dito que essa operação foi feita pensando na herança de seu filho e que a empresa é dona de sua casa em São Paulo. Esse tipo de arranjo chamou a atenção e levou a Justiça americana a bloquear, em maio deste ano, seu apartamento em Nova York, que era propriedade de outra empresa de Indio da Costa, com sede nas Ilhas Virgens. 

Um mercado complicado

De 2008 a 2013, seis bancos médios brasileiros foram à lona. Os motivos são diversos, mas por trás de todos os casos está um mercado que se tornou mais difícil para esse tipo de instituição — custos de captação altos e concorrência com bancões como Itaú e Bradesco, especialmente no crédito consignado, atrapalharam a vida de todos. Bancos como Matone, Morada e Prosper ficaram pelo caminho. 

Mas sobre três instituições pairam suspeitas de que, para fingir que estava tudo bem, seus executivos apelaram para a fraude. Além de Cruzeiro do Sul, estão nesse grupo o BVA e o Pan (antigo PanAmericano, que foi comprado pelo BTG Pactual em 2010 com um déficit patrimonial de 4,3 bilhões de reais). 

Hoje, seus ex-executivos têm os bens bloqueados e se defendem das acusações. Rafael Palladino, ex-presidente do Pan, presta consultoria a pequenas empresas e assessora amigos na compra e venda de imóveis por meio de duas empresas, uma em São Paulo e outra em Miami. 

Esta última, a Max America of Florida, foi investigada pela Polícia Federal. Segundo o processo, a que EXAME teve acesso, Palladino teria transferido recursos de sua empresa imobiliária em São Paulo para a Max America of Florida logo depois da venda do Pan e estava tentando trazer esses recursos de volta por meio de negócios de fachada — como a instalação de fios elétricos em residências e a fabricação de autopeças. 

Palladino nega as acusações. Ele e outros 16 ex-executivos do Pan estão sendo julgados por lavagem de dinheiro, fraude em balanços e pagamentos irregulares de bônus. A principal batalha de Ivo Lodo, ex-presidente do BVA, é provar que a culpa pela quebra do banco não é dele, e sim do empresário Carlos Alberto de Oliveira Andrade, dono da rede de concessionárias Caoa.­ 

Em sua defesa, entregue ao Banco Central — que o considera responsável e o proibiu de trabalhar no mercado financeiro durante 20 anos —, Lodo diz que Andrade sacou recursos do BVA com o intuito de fragilizar a instituição para exigir condições melhores para seus investimentos. Mas há outras disputas. 

Uma delas é travada com o Bradesco, que ajuizou uma ação contra Lodo para exigir que ele pague um empréstimo de 800 000 reais tomado por meio de sua empresa Omaha Consultoria. Lodo diz que não tem como pagar a dívida porque seus bens estão bloqueados.

Um mês antes da liquidação do BVA, em junho de 2013, Lodo fundou a Valentina Investimentos e Participações, mas diz que, até hoje, a empresa não teve atividade. A EXAME, ele afirmou, por e-mail, que paga suas despesas graças ao “auxílio financeiro de familiares e amigos”. 

Em junho, o Ministério Público pediu à Justiça que Lodo e outros executivos do banco paguem quase 2 bilhões de reais para ressarcir o prejuízo causado aos antigos clientes. Esse caso, como os outros descritos nesta reportagem, não tem data para ser julgado.

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