Fábrica da catarinense WEG (Germano Lüders/Exame)
Daniela Barbosa
Publicado em 19 de junho de 2017 às 17h29.
São Paulo – Não são poucas as empresas no Brasil que, já há algum tempo, se veem diante do seguinte dilema: cuidar da sobrevivência no curto prazo, o que as leva a adotar medidas como cortes nas despesas e nos investimentos, ou continuar a apostar na modernização de sua estrutura para não perder oportunidades que surgirão no futuro — afinal, uma hora a economia reage, pois não há crise que dure para sempre.
Os dados levantados para a edição de Melhores e Maiores 2017 mostram que, na elite empresarial do Brasil, a maioria se inclinou para a primeira opção e está fazendo apenas o básico para manter a operação. As 100 empresas que mais investiram no ano passado destinaram quase 135 bilhões de reais ao reforço da capacidade de produção — uma queda real de 21% em relação ao valor investido no ano anterior. A Petrobras, empresa que mais investiu em 2016, diminuiu seus aportes em 37%. Na mineradora Vale, segunda colocada no ranking, o recuo foi de 39%. As cifras referem-se aos investimentos no imobilizado, os quais incluem o dinheiro aplicado em itens como aquisição de máquinas, modernização de instalações e absorção de tecnologia.
A melhora em alguns indicadores econômicos, como queda da inflação e da taxa de juro, reativou a esperança de recuperação dos negócios. Entre as companhias de capital aberto, dados da consultoria Economatica confirmam a retomada da confiança no início do ano. Em março, o índice “despesa de capital/depreciação”, que indica o nível de investimento das empresas, ficou em 110%, ante 102% em dezembro passado — quanto maior esse número, maior o nível de investimento. “Após uma trajetória de queda acentuada nos últimos anos, tivemos um viés de crescimento dos investimentos no primeiro trimestre”, diz Einar Rivero, gerente de relacionamento institucional da Economatica. “Agora, a volta da instabilidade política coloca em xeque a sustentação dessa trajetória positiva.”
No universo das companhias de capital aberto, o nível dos investimentos no Brasil era tradicionalmente superior ao das empresas nos Estados Unidos — o que é compreensível, pois é preciso gastar mais por aqui para superar a defasagem tecnológica. A idade média das máquinas industriais no Brasil, por exemplo, é de 17 anos, dez anos mais do que nos Estados Unidos. Desde 2013, porém, os investimentos das empresas brasileiras caíram para patamares inferiores aos das companhias americanas, o que deve aumentar ainda mais a distância tecnológica entre os dois países.
Outro número negativo é que a taxa de investimento no Brasil em relação ao PIB caiu no primeiro trimestre deste ano para 15,6%, o menor índice desde que esse dado começou a ser oficialmente levantado em 1996. Para o Brasil modernizar o parque industrial e repor o estoque de infraestrutura, o ideal seria que essa taxa se situasse entre 20% e 25% do PIB. “Sem investimentos suficientes, quando houver um aumento da demanda no país, ela será contida pela falta de oferta na indústria e pelos gargalos da infraestrutura”, afirma o economista Fernando Camargo, sócio da consultoria LCA.
O desempenho do setor de bens de capital — que fornece máquinas e equipamentos para outras indústrias — é um termômetro de que não vai ser fácil as empresas recuperarem as perdas dos últimos anos. Em 2016, o setor faturou 80 bilhões de reais, quase 50% menos em relação aos anos de economia mais robusta. Foram 100 000 demissões somente no ano passado. Para 2017, a previsão inicial era um crescimento de 5% nas vendas, mas, diante da crise política, a projeção agora é apenas repetir o desempenho de 2016.
A catarinense WEG, fabricante de motores elétricos, é um caso sintomático. Neste ano, a empresa planeja investir cerca de 350 milhões de reais, 7% mais do que no ano passado. A maior fatia desse dinheiro, porém, será destinada à expansão e à modernização de fábricas no exterior, como na China e no México. “No Brasil, neste momento de incertezas, temos muita cautela. Aqui, vamos manter o valor investido em 2016”, diz André Luis Rodrigues, diretor financeiro da WEG. Se cautela é a palavra de ordem numa empresa que depende do investimento de outras indústrias na ampliação da capacidade produtiva, o que dizer nas demais.