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Gina Rinehart, a bilionária louca por um barraco

Dona de uma das maiores fortunas do mundo, a bilionária australiana Gina Rinehart briga com os filhos, com a madrasta, com o governo e com seus compatriotas

Gina, a “Big G”: a magnata quer dividir a Austrália ao meio para pagar menos impostos (Paul Kane/Getty Images)

Gina, a “Big G”: a magnata quer dividir a Austrália ao meio para pagar menos impostos (Paul Kane/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 27 de setembro de 2012 às 06h00.

São Paulo - No final dos anos 70, a então primeira-ministra do Reino Unido, Margareth Thatcher, travou uma tensa batalha contra os sindicatos, as estatais ineficientes e as benesses bancadas pelo governo. Ao final de três anos, Thatcher recolocou a economia britânica no caminho do crescimento e ficou mundialmente conhecida como a Dama de Ferro.

Gina Rinehart é australiana, empresária, nunca ocupou um cargo público, mas também tem sido chamada da mesma forma. Motivos para se referir a ela como dama de ferro não faltam. Gina é dona de uma das maiores mineradoras da Austrália, tem uma coragem desmedida para apoiar causas polêmicas e é conhecida pela intransigência com que expõe seus pontos de vista. 

A última dela foi defender, em um artigo publicado numa revista australiana em agosto, que, para restaurar a competitividade dos negócios na Austrália, seria necessário reduzir o salário mínimo semanal, atualmente em 640 dólares. No mesmo artigo, ela afirma: “Se você tem inveja daqueles que têm mais dinheiro, trabalhe mais e pare de perder tempo bebendo, fumando ou se divertindo”.

Duramente criticada pelas declarações, Gina insinuou, mais tarde, que os países africanos eram mais competitivos do que a Austrália. “Os africanos querem trabalhar. E estão dispostos a trabalhar por menos de 2 dólares por dia.”

Com uma fortuna estimada em 20 bilhões de dólares, a magnata tem um longo histórico de polêmicas. Gina já propôs dividir a Austrália em dois países. A ideia pode ter sido inspirada por seu pai, Lang Hancock, fundador do grupo empresarial e notório separatista da região nordeste, onde ficam as minas de ferro.

Mas uma eventual secessão serviria também para Gina conseguir uma legislação tributária mais branda e regras de imigração mais lenientes. Em junho, a empresária alarmou o país ao ameaçar aumentar sua participação na editora Fairfax, que publica dois influentes jornais.

Primeiro, Gina pediu um assento no conselho da empresa por ter 15% das ações. Quando ouviu que só ganharia o que queria se assinasse um termo em favor da independência editorial das publicações, disse que iria comprar o controle da empresa. Só voltou atrás diante da reação negativa da opinião pública.

Na questão do aquecimento global, Gina se mantém irredutível. A despeito dos protestos de ambientalistas, a bilionária continua bancando grupos que fazem lobby contra a ideia de que o aquecimento global existe. Para a maior parte de seus compatriotas, a bilionária só se preocupa com seus negócios, e não com o país. Gina chegou a defender o uso de explosões nucleares para a extração de minério. 


Lang Hancock foi um dos expoentes da mineração na Austrália e deixou como herança um patrimônio avaliado em 50 milhões de dólares em 1992. Em duas décadas, sua fortuna foi ampliada 400 vezes. A empresa investe atualmente na mina Roy Hill, com reservas estimadas em 2,5 bilhões de toneladas (ou um terço de Carajás, a maior do mundo).

Os últimos anos foram especialmente generosos com a família. A valorização do minério de ferro, que chegou praticamente a quintuplicar de valor entre 2007 e 2011, e os investimentos no exterior (sobretudo na Nova Guiné e na Nova Zelândia) chegaram a alçar Gina à condição de mulher mais rica do mundo em alguns períodos dos últimos anos — ultrapassando Christy Walton, herdeira do varejista Walmart.

Aproveitando o boom de commodities, Gina — também apelidada pela imprensa local de “Big G” — emergiu no debate público. À medida que sua fortuna crescia, o peso de suas declarações aumentava. Hoje quem contesta as ideias de Gina é a primeira-ministra, Julia Gillard.

O secretário do Tesouro, Wayne Swan, que defende maiores taxas na mineração e a tributação das emissões de carbono, virou desafeto da bilionária.

No âmbito familiar, ela já era uma conhecida barraqueira. Nos últimos 20 anos, Gina esteve em conflito permanente com a família para preservar o patrimônio dos Hancock. Na biografia não autorizada sobre Gina, The House of Hancock (“A casa de Hancock”, numa tradução livre), a jornalista australiana Debi Marshall descreve a magnata como uma litigante incansável.

“A combinação de sua determinação com sua riqueza faz com que ela esteja disposta a brigas sem fim”, diz Debi. Até agora, a maior vítima da magnata foi a madrasta, Rose Porteous. Durante 11 anos, a terceira e última esposa de Hancock foi acusada por Gina de ser responsável pela morte do pai.

O caso, um dos mais arrastados da história do Judiciário australiano, acabou em 2003 com um acordo, selado após a autópsia que reafirmou que o velho Hancock morreu de causas naturais. Gina também foi acusada de assediar sexualmente um antigo segurança, que moveu um processo contra a bilionária após sofrer retaliações por ter se recusado a casar com ela.

Hoje, sua fúria litigante está direcionada a três de seus quatro filhos. Os herdeiros questionam a condução dos negócios e brigam para controlar parte da fortuna. Bem ao seu estilo, a dama de ferro australiana já declarou que não vai poupar munição para atacá-los.

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