Fundo Pitanga: chega ao país um dos primeiros fundos de capital de risco formado apenas por aportes de indivíduos (Daniela Toviansky/EXAME.com)
Da Redação
Publicado em 8 de junho de 2011 às 06h00.
Alguém que hoje observe o panorama da produção científica do Brasil pode se deparar com dados um tanto animadores. Com cerca de 30 000 artigos por ano, os cientistas brasileiros bateram os russos, e o país caminha para alcançar o segundo lugar entre os Brics em trabalhos científicos publicados.
Segundo a Unesco, o número de pesquisadores em atividade no Brasil cresceu 73% em seis anos — no total, já são mais de 125 000 profissionais, o equivalente aos pesquisadores de Argentina, México e Turquia combinados. O problema é o que se consegue (ou o que não se consegue) a partir disso.
Nos mesmos seis anos, o número de patentes internacionais registradas por brasileiros recuou 7%. Diferentemente do cenário de países desenvolvidos, o grosso do corpo de pesquisa nacional ainda está concentrado em universidades. Contas reavaliadas, o resultado é conhecido.
O Brasil ainda patina no que talvez seja o mais importante indicador de progressos na área: a capacidade de transformar descobertas científicas em tecnologia — e de transformar tecnologia em empresas lucrativas.
Um grupo de nomes conhecidos do empresariado brasileiro está convencido de que essa história pode mudar — e de que, no caminho, também é possível lucrar com isso.
Inspirado na experiência dos primeiros fundos de capital de risco americanos, o recém-criado fundo Pitanga, com sede em São Paulo, nasce com um perfil pouco comum no cenário brasileiro.
À semelhança de um clube de investimento, o fundo não possui cotistas além dos próprios fundadores. Também não há dinheiro do governo ou de empresas envolvido no negócio: os investimentos, 100 milhões de reais no total, vêm exclusivamente de porções de fortunas pessoais de seus sócios.
Fernando Reinach, ex-diretor executivo da Votorantim Novos Negócios, e Eduardo Vassimon, conselheiro do Itaú BBA, são os sócios-gestores do novo fundo.
Do lado dos sócios-investidores estão Pedro Moreira Salles, do Itaú Unibanco, Fernão Bracher e Cândido Bracher, do Itaú BBA, e os três fundadores da Natura, Luiz Seabra, Guilherme Leal e Pedro Passos.
Experiência
Fundos de capital de risco não são novidade no país. Segundo a Fundação Getulio Vargas, há hoje em atividade no Brasil pelo menos 140 gestores de venture capital e private equity. Apenas nos últimos 12 meses, o mercado brasileiro viu a chegada de alguns dos maiores fundos de capital de risco do mundo, como o Benchmark.
Dinheiro, para uma empresa jovem, pode ser essencial. Mas não é o único componente importante na arte de transformar avanços científicos em empresas lucrativas.
Mais do que capital, a história do desenvolvimento de empresas de tecnologia em regiões como o Vale do Silício é recheada de casos em que o empenho pessoal e a experiência dos investidores foram essenciais no êxito de companhias investidas. “Queremos participar ativamente do dia a dia das empresas”, diz Fernando Reinach, um dos gestores do Pitanga.
A mira, como é comum entre fundos de venture capital, são empresas em estágio embrionário com potencial de crescimento rápido e fortes características de inovação. Tipicamente, fundos de capital de risco ficam de três a sete anos em uma empresa. No estatuto do recém-criado Pitanga, porém, há poucas regras.
“Em muitos casos, apenas uma ideia de negócio poderá bastar”, diz Reinach. O fundo não focará determinados setores da economia, tampouco regiões geográficas.
“Nada impede que possamos investir em companhias de fora do país”, diz Vassimon. A despeito do clima de vale-tudo, há pistas sobre preferências em relação aos investimentos.
Áreas em que o Brasil tem hoje destaque em tecnologia, como açúcar e álcool e mineração, estão entre as principais candidatas. A estimativa é que, por empresa, o investimento seja de 15 milhões de reais, em média — quantia suficiente, espera-se, para transformar o árduo esforço dos cientistas brasileiros em inovações no mundo real.