Luiz Eduardo Falco, da Oi: ele deixa a empresa com um bônus 50% maior do que o recebido em 2009 (Marcelo Correa/EXAME.com)
Da Redação
Publicado em 2 de maio de 2011 às 07h42.
Nos últimos três meses, dois processos sucessórios se tornaram alvo preferencial nos bate-papos entre altos executivos brasileiros. O primeiro foi o da Vale, maior companhia privada brasileira. A substituição de Roger Agnelli, presidente da mineradora por mais de dez anos, foi discutida publicamente durante quase três meses, até que, em 4 de abril, os controladores da empresa decidiram finalmente indicar para o cargo o administrador de empresas mineiro Murilo Ferreira.
A segunda troca de presidente mais aguardada do país envolve outra companhia de proporções colossais — a Oi, quarto maior grupo privado do país, com uma receita de 46 bilhões de reais em 2010 e uma carteira de 64 milhões de clientes.
A saída de Luiz Eduardo Falco do comando da companhia — posto que ocupava desde 2006 — era carta marcada. Mas estava prevista para acontecer somente no segundo semestre deste ano, quando o contrato de Falco venceria.
No dia 13 de abril, porém, os controladores da Oi anunciaram que a saída de Falco seria antecipada para 30 de junho, seis meses antes do prazo previsto. “Falco foi muito importante para o crescimento da Oi.
Mas estamos encerrando um ciclo”, diz Pedro Jereissati, vice-presidente do Grupo Jereissati, que, ao lado de Andrade Gutierrez, Portugal Telecom e de fundos de pensão, faz parte do bloco de controle da operadora. “O novo presidente da Oi passará 60% de seu tempo em Brasília. E esse não é o perfil de Falco.”
Internamente, a decisão de não renovar o contrato de Falco já havia sido tomada desde dezembro passado. O desempenho da Oi ao longo de 2010 teria desagradado a alguns dos controladores da empresa, sobretudo o Grupo Jereissati. Das seis metas estipuladas para o ano, Falco cumpriu plenamente apenas duas: a redução da dívida e o lucro líquido.
As demais, todas operacionais, ficaram aquém do esperado. A Oi perdeu participação de mercado em todos os setores em que atua — na telefonia fixa, foi a única das grandes operadoras a perder clientes. Foram 1,3 milhão de linhas a menos. O desgaste aprofundou-se em janeiro, quando a receita líquida prevista para o mês ficou 70 milhões de reais abaixo da meta estabelecida.
Embora se trate de um valor pequeno para uma companhia com uma geração de caixa de 10 bilhões de reais ao ano, o resultado funcionou como a gota d’água para o fim de uma relação que havia meses estava desgastada. “Não dá mais para aceitar números abaixo do esperado”, diz um membro do conselho de administração que pediu que seu nome não fosse revelado.
Saída antecipada
No final de fevereiro, os acionistas cederam à pressão de Pedro Jereissati para antecipar a saída de Falco de dezembro para junho. A transição, no entanto, deveria ocorrer em sigilo. Otávio Azevedo e Sérgio Andrade, presidente e presidente do conselho de administração da Andrade Gutierrez, exigiram que a troca de comando acontecesse apenas quando um sucessor fosse encontrado.
O processo, entretanto, rapidamente se tornou público. Com o passar do tempo, os boatos se intensificaram. Isso mais o enorme ruído gerado pela substituição de Agnelli na Vale tornaram a antecipação do anúncio da saída de Falco inevitável. Em telefonemas trocados no domingo 10 de abril, Jereissati e Azevedo decidiram, enfim, comunicar ao mercado o novo prazo de saída do executivo.
Falco, que havia retornado recentemente de um curso de uma semana sobre inovação no setor de telecomunicações no MIT, recebeu a notícia dois dias depois, na sede da Andrade Gutierrez, no Rio de Janeiro. O comunicado oficial foi enviado à CVM na mesma semana.
O desgaste de Falco com os controladores começou depois da aquisição da Brasil Telecom, em abril de 2008, dando origem ao que foi batizado de “supertele”. A aquisição custou 12 bilhões de reais e elevou a dívida líquida da Oi para 22 bilhões de reais. Em 2009, o conselho de administração determinou que no ano seguinte fosse feito um corte de 40% no volume de investimentos.
Falco defendeu a posição de que a medida comprometeria o crescimento da empresa no futuro — o que de fato viria a acontecer. Embora discordasse, o presidente da Oi liderou um profundo corte de custos. O objetivo era reduzir a dívida líquida a pelo menos 21 bilhões de reais. Falco conseguiu diminuí-la bem mais que o previsto, para 18,7 bilhões de reais.
Como 40% da remuneração variável do alto escalão da companhia estava atrelada à redução da dívida, os executivos receberam um bônus 50% maior em 2010.
Em agosto do ano passado, os controladores encomendaram à consultoria McKinsey um estudo para definir um novo organograma para a Oi. O modelo proposto pelos consultores previa a divisão do cargo de presidente em dois — um executivo comandaria todas as funções operacionais, e o outro ficaria responsável pelas relações institucionais —, modelo semelhante ao adotado pela Telefônica.
A partir daí, Falco passou a ter de submeter todas as suas decisões estratégicas a três comitês formados por representantes dos acionistas: remuneração e RH, finanças e riscos. Em dezembro, o executivo precisou reapresentar sua proposta de orçamento para 2011 ao conselho de administração pela terceira vez até que os controladores aprovassem os planos.
“Ao final do processo, Falco concordou com as metas impostas pelos acionistas, mas deixou muito claro que não as garantiria”, diz um conselheiro da Oi. Em março deste ano, o irlandês James Meaney, então presidente da empresa de call center Contax, assumiu o recém-criado posto de diretor de operações da Oi, reunindo abaixo de si oito das 13 diretorias.
Com a saída de Falco, em junho, Meaney deverá ser mantido no cargo, e outro executivo será contratado como presidente, cuidando das relações institucionais.
Enquanto os controladores definiam o futuro de Falco, os sócios da Portugal Telecom se preparavam para imprimir sua marca na administração da maior empresa de telefonia brasileira. A operadora portuguesa entrou para o grupo de controle da Oi em 28 de março, depois de realizar um aporte de 8,3 bilhões de reais.
O português Zeinal Bava, presidente da PT, participará do conselho e comandará o novíssimo comitê de tecnologia da Oi, responsável pela expansão da banda larga e do serviço de TV por assinatura no país. A ideia é realizar uma reestruturação na Oi ao longo deste ano, de modo que a companhia esteja pronta para brigar com Net, Telefônica e GVT a partir do início de 2012.
Para isso, Bava contará com a ajuda do carioca Shakhaf Wine, presidente da PT no Brasil, e do português Pedro Gutierrez, responsável pelas operações de planejamento e controle em Portugal e recém-apontado vice-presidente executivo da PT no Brasil.
A partir de agora, começa uma nova fase para a Oi. E, dessa etapa, Falco, que permaneceu na companhia por uma década, desde o bem-sucedido nascimento da operação de telefonia móvel, não vai participar.