Para quem quer fazer uma grande limpeza para o início do novo ano, um item que definitivamente pode ser jogado fora é o comando e o controle (Boris Suntsov/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 16 de dezembro de 2021 às 05h25.
Última atualização em 4 de janeiro de 2022 às 12h29.
Diferentes países cultivam diferentes rituais de ano-novo. No Japão, por exemplo, é feito o Oosouji, uma faxina minuciosa para limpar a casa e jogar fora ou doar objetos que não foram utilizados nos últimos tempos. Já no Equador, muitas pessoas têm o hábito de queimar fotos e recortes de revistas com cenas que querem esquecer ou que representam tudo aquilo que não querem no próximo ciclo.
No Brasil, temos vários para propósitos diferentes. Quem procura pela paz no ano que se inicia costuma usar roupas brancas; já quem busca uma grande paixão aposta no vermelho; para prosperidade, os rituais vão desde comer lentilha até guardar sementes secas de romã na carteira. E tem o "clássico" pular as sete ondinhas. Há quem diga que o rito simboliza, ao mesmo tempo, a ideia de deixar para trás o passado, com todos os seus problemas e suas memórias ruins, e de se mover para frente, desejando momentos melhores no próximo ano.
Independentemente de suas origens e das culturas que representam, esses rituais compartilham um significado: a renovação. Despedir-se de um ano significa também despedir-se de velhos hábitos e práticas, de acúmulos e de erros. Conosco, só desejamos levar o que é bom e, assim, nos abrir para as oportunidades que o ano-novo promete.
No caso do mundo corporativo, a renovação também é importante e deve ser buscada, ainda que não tenhamos um rito específico para marcar esse compromisso de deixar o passado para trás e abrir caminho para o que está por vir. O orçamento do ano seguinte e os planejamentos estratégicos são práticas obrigatórias, mas a renovação deve ir além disso, considerando também um pilar central nos negócios — e sobre o qual sempre comento nos meus artigos. Me refiro à gestão de pessoas. Meu convite, então, é para que nos inspiremos nesse repertório cultural para tratar esta virada em especial, após quase dois anos de pandemia, como uma oportunidade única.
Para quem busca fazer uma grande limpeza como a dos japoneses — só que, no caso, no modelo de gestão —, um item que definitivamente pode ser jogado fora é o comando e o controle. O trabalho remoto ou híbrido provou para quem ainda tinha dúvidas que, sim, os colaboradores conseguem ser produtivos sem a necessidade de uma liderança autoritária.
Aproveite para tirar pó da confiança, muitas vezes esquecida em um canto da prática da gestão, e dê autonomia para seu time caminhar, se organizar e entregar grandes resultados nos próximos 12 meses. Pode parecer algo básico, mas continuamente a atitude de confiar é deixada de lado no dia a dia do trabalho em negócios dos mais variados tamanhos — principalmente quando passamos por momentos de turbulência, como o atual, e a inclinação é de usar uma voz de comando para se sentir no controle. A pandemia mostrou que isso acontece tanto no trabalho presencial quanto numa rotina à distância.
Agora, inspirada no ritual equatoriano, sugiro que você se livre da imagem de uma organização mecanicista. As empresas serão cada vez mais orgânicas e com modelos flexíveis, sem hierarquias rígidas. Como consequência disso, teremos decisões compartilhadas e maior abertura para as adaptações que as constantes mudanças do mundo exigem.
Por último, na hora de pular uma onda, deixe para trás certezas absolutas para, assim, desbravar outros mares. Em vez de nos apegarmos ao passado e acharmos que não temos mais nada a aprender sobre gestão, podemos — e devemos — nos abrir para novos saberes. Esses últimos anos nos colocaram — e ainda nos colocam — em diversas situações de incerteza, de dúvida e de medo em relação ao futuro próximo e aos acontecimentos mais à frente. Uma forma de superarmos isso é estar abertos para questionamentos e ter o desejo constante de ampliar nosso conhecimento. O momento é ideal para aprender com a concorrência, de estudar cases de gestão do Brasil e de fora, de mergulhar em livros, filmes e séries, de estar disposto a ouvir e a mudar.
Independentemente de acreditar em rituais de passagem de ano ou não, pense neles como símbolos de um compromisso com a renovação. Um compromisso que pode ir além da sua festa de Réveillon com amigos e familiares, e também ser uma reflexão importante para sua carreira e para sua empresa. Afinal, o que você gostaria de deixar para trás na sua gestão para começar 2022 com o pé direito?