Fazenda Boa Vista: 848,4 milhões de reais em vendas em 2020 (Divulgação/Divulgação)
Da Redação
Publicado em 21 de maio de 2020 às 05h15.
Última atualização em 12 de fevereiro de 2021 às 12h59.
Quarentena não é férias, repete-se, a cada segundo, desde que o isolamento social se mostrou indispensável você sabe por quê. A frase é endereçada à turma que não vê nada de errado em ir à praia com grupos de amigos ou dar festas no apartamento com a pandemia a pleno vapor, para citar duas incorreções dos novos tempos. Mas há quem siga as orientações das autoridades de saúde à risca e ainda assim pareça estar de férias. Quem tem casa na Fazenda Boa Vista, por exemplo, e lá se refugiou com a família, como o publicitário Nizan Guanaes e o médico José Luiz Egydio Setubal, um dos acionistas do Itaú. A 100 quilômetros de São Paulo, o condomínio em Porto Feliz se espalha por um terreno maior do que sete parques do Ibirapuera e tem direito a dois campos de golfe, uma hípica e um hotel Fasano. Este último, como a maioria das áreas coletivas, ficou fechado até o fim de maio em razão do novo coronavírus. Nada que impedisse os condôminos de circular entre os belos bosques e lagos da propriedade — a pé, de bike ou em carrinhos de golfe — e usufruir suas irretocáveis casas de campo.
“A Fazenda Boa Vista nunca esteve tão cheia como na quarentena”, diz Thiago Alonso de Oliveira, CEO da JHSF, a incorporadora do empreendimento. Ele conta que as vendas no condomínio aumentaram com a covid-19. “Moradores de apartamentos em São Paulo que não pensavam em ter um espaço mais amplo, em meio à natureza, estão mudando de ideia”, diz ele. As vendas no primeiro trimestre deste ano cresceram 143% em comparação com o mesmo período de 2019. Dos 885 lotes, só 150, aproximadamente, continuam vagos. Inaugurado em 2007, o empreendimento oferece desde terrenos para quem almeja construir por conta própria, da forma que quiser, até residências prontas assinadas por arquitetos incensados, a opção de 30% dos compradores até agora.
As mais conhecidas, vendidas por completo, saíram das pranchetas do arquiteto Isay Weinfeld, autor do Fasano local. A autoria das casas erguidas no entorno do circuito de triathlon é do escritório franco-brasileiro Triptyque. Ainda à venda, custam a partir de 4,9 milhões de reais, com cinco suítes, só um pavimento, piscina e 457 metros quadrados de área construída. Quase dispensam decoração. Isso porque só um quinto das paredes é de alvenaria, com revestimento de madeira queimada, que confere um aspecto rústico chique. As demais paredes, emolduradas por poucas vigas, são todas de vidro. “O objetivo é expor ao máximo a cinematográfica paisagem do entorno”, diz o arquiteto Grégory Bousquet, um dos donos do Triptyque. “No fim das contas, os compradores só precisam trazer os móveis e escolher o piso, o forro e as cortinas.”
O sucesso da Fazenda Boa Vista levou a JHSF a anunciar, em dezembro passado, um empreendimento vizinho, o Boa Vista Village. Esse vai ocupar uma área quase igual à do Parque do Ibirapuera. Prevê edifícios de dois ou três andares e apartamentos a partir de 133 metros quadrados, com amplas varandas, de 2,2 milhões de reais para cima. Terá o próprio campo de golfe, cinco hotéis e uma piscina para surfistas, com ondas de até 2,75 metros de altura e 22 segundos de duração. Mais: uma pequena versão do Shopping Cidade Jardim, que pertence à JHSF, com restaurantes, teatro e cinema. A entrega das primeiras edificações está prevista para o primeiro semestre de 2021 e o valor geral de vendas (VGV) estimado para o condomínio todo é de 4,5 bilhões de reais — um alento para uma companhia que, por razões óbvias, precisou fechar temporariamente seus quatro shopping centers, assim como os sete hotéis da rede Fasano, controlada por ela, e suspender o atendimento presencial dos 27 restaurantes.
Se o Boa Vista Village terá uma piscina para surfar, a Fazenda da Grama, em Itupeva, a 60 quilômetros de São Paulo, promete uma praia artificial com 700 metros de extensão, areia que não esquenta e ondas de até 2 metros a cada 8 segundos. Com inauguração prevista para dezembro, será o novo cartão de visita do condomínio, outro que tem ficado lotado durante a quarentena ao mesmo tempo que viu subir a procura por compradores em potencial. “Em vez de investir em viagens longas, muita gente vai preferir gastar com moradias no campo”, acredita Oscar Segall, fundador da incorporadora responsável, a KSM. Como na Fazenda Boa Vista, dá para adquirir só o terreno ou encomendar uma casa concebida, por exemplo, pelo renomado arquiteto Thiago Bernardes. Não sai por menos de 7,3 milhões de reais.
A procura por imóveis que espelham um estilo de vida marcado pela tranquilidade e pelo contato com a natureza também elevou o interesse por condomínios fora de São Paulo, como o do Frade, em Angra dos Reis, e por propriedades mais em conta afastadas das grandes metrópoles. “A quarentena trouxe uma urgência por espaços abertos e ensinou todo mundo a trabalhar à distância”, diz Fernanda Ralston Semler, às voltas com a criação de um novo residencial, o Botanique Community. É vizinho do hotel Botanique, na região de Santo Antônio do Pinhal, em São Paulo, e tem os mesmos investidores — ela e o marido, Ricardo Semler, dono do grupo Semco; David Cole, fundador da AOL; e Gordon Roddick, um dos criadores da The Body Shop. Prevê 42 residências e os interessados podem optar entre cinco projetos. O de 120 metros quadrados custa cerca de 1,2 milhão de reais. O que foi desenvolvido pelo escritório de arquitetura Andrade Morettin, como os outros, chama a atenção pela profusão de paredes de vidro e pelos traços minimalistas. Iniciadas em março, as vendas foram suspensas até a pandemia arrefecer, sem que nenhum contrato fosse assinado. “Na lista de interessados há 60 nomes e a expectativa é fechar 20 vendas até o fim do ano”, calcula Fernanda Ralston.