Ricardo Mateus, da Brasil ao Cubo: de 6 milhões para 650 milhões de reais em cinco anos (Leandro Fonseca/Exame)
Repórter Exame IN
Publicado em 20 de abril de 2023 às 06h00.
O investimento de grandes empresas em ideias vindas de startups movimenta 3 bilhões de reais no Brasil, de acordo com estudo da ABVCAP, associação de fundos de investimento com atuação no país. Um mercado praticamente marginal até bem pouco tempo atrás, o chamado corporate venture capital, ou CVC, virou uma alternativa em tempos de exigências redobradas em cima dos empreendedores em busca de recursos para expansão. Quem associou um negócio nascente a quem tem mais anos de trajetória — e mais crédito na praça — pode turbinar suas possibilidades.
É o caso da Brasil ao Cubo, startup aberta há sete anos em Tubarão, no sul de Santa Catarina, que trabalha com uma técnica inovadora de construção de módulos de aço pré-fabricados. Na pandemia, a Brasil ao Cubo fechou contratos com os gigantes Vale e Ambev, além do Einstein — este último, para erguer um hospital na zona sul de São Paulo em 150 dias, 25% do tempo comum a uma obra de porte semelhante.
Os grandes clientes chamaram a atenção de empresas interessadas em aportar recursos na Brasil ao Cubo — seja para acelerar a expansão da startup, seja para utilizar a tecnologia dela em seus negócios. Em novembro de 2020, a siderúrgica Gerdau comprou 33% da empresa, uma participação ampliada para 44% em 2022. No mesmo ano, a Dexco (antiga Duratex) aportou 74 milhões de reais para levar 13% do negócio; a fatia hoje é de 19%.
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A associação com as grandes empresas até este momento foi um ganha-ganha. Para a Gerdau, deu a chance de estar perto de tecnologias construtivas de ponta para o aço produzido por ela desde 1948. Mais do que isso: permitiu diversificar as fontes de receita para além da indústria pesada. “Hoje você olha para a Gerdau e diz que é uma empresa de siderurgia e mineração”, diz Juliano Prado, vice-presidente da Gerdau e líder da Next, braço de novos negócios. “No futuro, queremos que alguém possa dizer que somos uma empresa de siderurgia, mineração, energia e logística, por exemplo.”
Para a Brasil ao Cubo, a união deu fôlego para empreitadas maiores — e para uma expansão digna de unicórnio. Uma obra com a tecnologia patenteada pela empresa requer uma grande quantidade de mão de obra qualificada. Parte disso pelo uso intensivo de pessoal: uma obra grande requer até 100 engenheiros e arquitetos. Os novos sócios permitiram o ganho de escala necessário para projetos simultâneos.
No relacionamento com clientes, o fluxo de pagamentos segue o tradicional da indústria: a cada etapa, um pagamento. “O produto é fácil fazer, não é necessário ter maquinário especial, mas o planejamento bem-feito faz toda a diferença”, diz o CEO e fundador Ricardo Mateus.
A chegada dos sócios parrudos colaborou para um salto nas receitas da Brasil ao Cubo. Em 2023, com base no portfólio de projetos, a empresa projeta vendas de 650 milhões de reais, 100 vezes acima dos 6 milhões de reais obtidos há apenas cinco anos. O plano de Mateus para os próximos meses é abrir uma incorporadora. O pontapé inicial será um prédio residencial de 15 andares em Tubarão, previsto para o fim do ano.
Para a Gerdau, o plano é apoiar a expansão da investida — a venda da participação está fora de cogitação. Investidor e investida estão mesmo é de olho em novos negócios de startups da construção civil, as chamadas construtechs. Um passo recente nessa direção é a presença de ambas no Construliving, um espaço dedicado às construtechs no Cubo, hub de startups a poucos quarteirões da Avenida Faria Lima, coração financeiro de São Paulo.
BRASIL AO CUBO
O que faz: construção modular de empreendimentos com aço
Como driblou a crise: a associação com grandes companhias, como Gerdau e Dexco, deu capital e expertise para entrar em grandes projetos
O resultado: as vendas da empresa saltaram de 6 milhões de reais em 2018 para 650 milhões de reais previstos para 2023
134 milhões de reais a Brasil ao Cubo captou com Gerdau e Dexco até 2022