Luiz Carlos Calil, da Caterpillar: oferta de 40 modelos de máquinas no Brasil (Germano Lüders/EXAME.com)
Da Redação
Publicado em 7 de abril de 2011 às 06h31.
Em junho de 1970, Valentino Rizzioli acabava de chegar ao Brasil vindo da Itália. Aos 26 anos, ele fora enviado pela Fiat para colocar de pé uma fábrica de tratores para construção em Contagem, na periferia de Belo Horizonte. Rizzioli teve então o que chama de sua primeira mágoa com o Brasil: a goleada por 4 a 1 aplicada à seleção italiana pelo time comandado por Pelé, jogo que nos assegurou o tricampeonato mundial no futebol. O país depois lhe deu alegrias — aqui nasceram seus filhos, Cláudio e Fábio. Hoje, especialmente, o Brasil é fonte de um novo entusiasmo para Riz-zioli. A CNH, braço da Fiat para a produção de máquinas, presidida por ele na América Latina, está investindo 1,7 bilhão de reais na expansão de Contagem e de mais duas unidades, em Curitiba e em Piracicaba, no interior de São Paulo. Nos próximos 18 meses, a empresa deve lançar 19 novos tratores especiais para os setores de construção e infraestrutura. É o maior investimento da história da CNH no país. “Em 40 anos, é a primeira vez que vejo o Brasil ter uma perspectiva de crescimento sustentável, aquele que inclui a maior parte da população”, diz Rizzioli.
Diversas outras empresas do mesmo ramo, como as americanas Caterpillar e Terex e as britânicas Rolls-Royce e JCB, estão investindo na ampliação de suas fábricas. “O nosso negócio ganhou impulso”, afirma Luiz Carlos Calil, presidente da Caterpillar. Segundo ele, a operação brasileira tem agora a linha de produtos mais diversificada do grupo no mundo, com 40 modelos de máquinas. Além das ampliações de empresas já presentes no Brasil, a chinesa Sany e as coreanas Hyundai e Doosan anunciaram a montagem de suas primeiras fábricas aqui. Os anúncios mostram que o cenário da indústria no Brasil é heterogêneo. Há áreas em que a perda de competitividade leva à desmontagem de fábricas e à substituição de produtos nacionais por importados. Mas o país ainda oferece espaço para a industrialização. O setor de bens de consumo, empurrado pelo aumento da renda da população, é uma das fronteiras da indústria. A outra é a infraestrutura. As ampliações de fábricas de bens de capital miram a demanda criada por mais de 1,4 trilhão de reais em investimentos, estimados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para o período de 2011 a 2014 em construção, infraestrutura, petróleo e mineração.
Empurrão do governo
Esse volume é 65% maior do que o investido por esses setores nos últimos quatro anos — um sinal de que o Brasil está retomando a trajetória de elevação dos investimentos produtivos que havia sido interrompida em 2009 pela crise. Em 2010, os investimentos alcançaram 19% do produto interno bruto, 2 pontos acima do ano anterior. A previsão é que a taxa continue a crescer até 22% em 2014. Para sustentar um crescimento econômico vigoroso, o país precisa chegar pelo menos a 25% — a China investe 47% do PIB, e a Índia, 32%. “Ainda não é o ideal, mas o bom é que nossa taxa de investimento voltou a crescer a uma média que será o dobro da prevista para o PIB”, diz Ernani Teixeira Torres Filho, superintendente de pesquisa do BNDES. Na área de equipamentos, o Brasil, com investimentos de 7,8% do PIB, está acima da média mundial de 7,5%. Para um investimento total mais robusto, de acordo com Torres Filho, falta ampliar a construção civil e de grandes obras, um processo iniciado nos últimos anos. Com o mercado aquecido, já existe o temor da falta de máquinas nos próximos anos. Isso se agravará com a gradual recuperação dos Estados Unidos. No ano passado, o mercado americano, em crise, consumiu 99 000 máquinas de construção. O Brasil, perto de 25 000. Mas, a pleno vapor, o consumo americano pode ir para 180 000 unidades.
Parte da explicação do movimento no setor de máquinas está num empurrão do governo. Na área do petróleo, fabricar no país faz a diferença entre participar ou não do mercado. O motivo é o índice mínimo de 65% de conteúdo nacional fixado para as compras da Petrobras. A medida trouxe novas multinacionais ao Brasil. Uma delas é a britânica Rolls-Royce, que investe 170 milhões de reais na montagem de geradores de energia para plataformas. “É uma regra, e quem quiser ser fornecedor tem de se enquadrar”, afirma Francisco Itzaina, presidente da Rolls Royce. “O produto nacionalizado custa até 25% mais que o importado, mas a Petrobras está disposta a pagar.” É uma opção questionável. Além de levar a aumentos de custos repassados à economia, representa uma distorção. “Hoje, os investimentos dependem cada vez mais da vontade do governo”, diz Sérgio Vale, economista-chefe da consultoria MB Associados. “Os setores escolhidos vão bem. Outros, nem tanto.” Quem pode aproveita a onda.