Revista Exame

A escalada da Locaweb

A maior empresa de hospedagem de sites do país vive um momento decisivo: aposta tudo na onda do cloud computing, mas precisa reverter um grave problema de imagem

Gilberto Mautner, da Locaweb: 111 milhões de reais em investimentos nos próximos sete anos (Germano Lüders/EXAME.com)

Gilberto Mautner, da Locaweb: 111 milhões de reais em investimentos nos próximos sete anos (Germano Lüders/EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 18 de fevereiro de 2011 às 11h38.

Em 1997, dois primos de 20 e poucos anos, Gilberto Mautner, engenheiro eletrônico formado pelo Instituto de Tecnologia Aeronáutica (ITA), e Claudio Gora, publicitário que trabalhava com o pai em uma confecção em São Paulo, resolveram montar uma empresa. A ideia era construir uma rede virtual de negócios entre empresas têxteis. O plano rapidamente naufragou: a concorrência chinesa estava dizimando o setor no Brasil, e a presença na internet definitivamente não estava entre as prioridades dos empresários. Com pequenas mudanças técnicas no projeto original, os primos decidiram aproveitar a estrutura para oferecer algo inédito no Brasil: espaço barato na internet para quem quisesse montar um site. Concorrendo com pouquíssimos serviços semelhantes disponíveis na época, que chegavam a custar mais de 1 000 reais mensais, a Locaweb, cobrando 29 reais por mês, viveu a primeira de várias explosões de crescimento que se seguiriam nos negócios. "Em apenas seis meses, chegamos à marca de 100 clientes e ao limite da capacidade que montamos para começar", diz Mautner. Foi com esse servidor solitário, instalado nos Estados Unidos, e com um investimento de 30 000 dólares que Mautner e Gora começaram uma das companhias mais longevas e bem-sucedidas do mundo digital do país. Hoje a Locaweb é uma empresa que fatura 131 milhões de reais e lidera o segmento de hospedagem de sites no Brasil. Mas, pelos planos traçados por Mautner, o presidente, a caminhada está só começando.

A Locaweb vive um momento de transformação. A primeira delas é de modelo de negócios. A empresa apostou tudo na ideia do cloud computing, ou a computação em nuvem. O serviço de simples hospedagem de sites continuará existindo, mas Mautner quer que em quatro anos a prestação de serviços de infraestrutura tecnológica via nuvem passe a ser a maior fonte de receita da empresa. Com o novo modelo, a Locaweb tem dois objetivos. O primeiro, da porta para dentro, é utilizar tecnologias de virtualização, que permitem um uso muito mais eficiente dos servidores. O segundo, da porta para fora, é decorrência direta do primeiro: com as novas tecnologias, a empresa pode oferecer pacotes de serviços flexíveis. Em última análise, o modelo permite que toda e qualquer empresa possa terceirizar sua área de tecnologia com a Locaweb, pagando uma mensalidade de acordo com os recursos consumidos. "A comparação é com a energia elétrica", diz Mautner. "Antigamente as empresas tinham de ter usinas próprias. Hoje é uma loucura pensar nisso. Com os computadores vai acontecer a mesma coisa."

Para dar conta do crescimento e preparar-se para o futuro que enxerga, Mautner está fazendo investimentos de peso. A Locaweb comprou um prédio na zona sul da capital paulista para instalar seu novo data center. O aporte já soma 67 milhões de reais, e a previsão é que nos próximos sete anos outros 111 milhões sejam investidos. Dos atuais 4 500 servidores, a empresa poderá chegar a 28 000 máquinas. A sede administrativa e os 600 funcionários também serão transferidos para o mesmo prédio (que, visto do alto, "tem a forma de microchip", como diz Mautner, com certo orgulho nerd). Para uma empresa que cresceu à força, sempre tentando alcançar a velocidade da expansão da internet, a mudança é um marco importante. Para o mercado, também. "A Locaweb realiza claramente uma transição em sua estrutura, caminhando para se tornar uma grande corporação nos próximos anos", diz Reinaldo Roveri, analista sênior da consultoria IDC.


Além de renovar o parque de servidores e implantar tecnologias mais confiáveis, a Locaweb está elevando o padrão de gestão, um passo que pode ser tão decisivo para a continuidade dos negócios quanto a própria expansão física. Desde o segundo semestre de 2009, a empresa passou a adotar práticas internacionais de governança corporativa em tecnologia da informação. O próprio Mautner admite que a empresa, ocupada com o crescimento, deixou de lado cuidados importantes. O impacto não foi desprezível - pelo contrário. Uma rápida busca no Twitter revela inúmeras reclamações de clientes. Em 2008, uma das plataformas mais utilizadas de e-mail da Locaweb começou a apresentar erros e a ficar fora do ar com frequência, um inconveniente inaceitável para qualquer tipo de usuário e crítico para empreendedores cujos negócios dependem do bom fluxo de informações trocadas pela internet. De acordo com Mautner, esses problemas, ainda não totalmente solucionados, ocorrem porque a programação utilizada nessa plataforma, bem como os equipamentos que a processam, tornou-se obsoleta e inadequada aos padrões de qualidade que o atual volume de sites da Locaweb exige. "Os problemas mais relatados afetam cerca de 1% de nossos clientes, margem que hoje, quando falamos de 200 000 websites no total, não é mais aceitável e precisa ser reduzida", diz Mautner. Se a empresa quer ter sucesso na computação em nuvem, vai precisar inverter a imagem negativa que tem hoje junto a muitos usuários.

Líder isolada

No segmento de hospedagem de sites, a Locaweb lidera confortavelmente o ranking das maiores empresas no Brasil em participação de mercado:

Embora a liderança da Locaweb seja confortável, competidores demonstram apetite. O UOL Host, braço do grupo UOL que também provê serviços de hospedagem de sites, acaba de inaugurar um novo data center na região central de São Paulo com capacidade total para 30 000 servidores. Segundo colocado em market share, Vinicius Pessin, diretor-geral da empresa, diz que quer o primeiro lugar até o final deste ano, seja com crescimento orgânico, seja por meio de aquisições: o UOL comprou oito pequenos provedores nos últimos dois anos. Ao buscar clientes mais sofisticados, que decidam comprar poder computacional além da simples hospedagem de sites, a Locaweb começa a concorrer com gigantes como IBM, HP, Amazon, Google e Microsoft. Para manter-se em evidência, a empresa sempre investiu em marketing. O lançamento da campanha do serviço de cloud computing custou 2,5 milhões de reais e inclui peças na TV aberta com o ator Dan Stulbach. A estratégia lembra a da americana GoDaddy, líder mundial em domínios registrados. A empresa tradicionalmente faz anúncios no SuperBowl, um dos espaços comerciais mais caros do mundo. Visibilidade, porém, não é o que preocupa Mautner. O mais importante é a visão. No futuro, a computação será um serviço como a eletricidade - e a Locaweb está se preparando para esse dia desde já.

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