Ricardo Alves, da Halipar: ele e seus sócios já estão de olho na próxima aquisição (Germano Luders/Exame)
Da Redação
Publicado em 3 de fevereiro de 2016 às 04h52.
São Paulo — Um fenômeno do varejo brasileiro dos últimos anos foi a abertura de franquias de comida. Foram centenas de novas marcas — de hambúrgueres, de paletas mexicanas, de sorvete, de brigadeiro. Outro fenômeno foi o fechamento dessas franquias. Só de paletas mexicanas, 60 marcas abriram e fecharam as portas desde 2010.
Ter sucesso com franquias de comida no Brasil é uma dureza. Quase 20% delas não chegam ao quinto ano de vida, e só 13% das redes chegam a mais de 100 unidades. O mercado continua dominado pelas mesmas empresas de sempre. No fim de 2015, um empresário do interior de São Paulo que abriu sua primeira franquia há sete anos entrou para esse grupo.
Trata-se de Ricardo José Alves, dono das redes Griletto e Montana Grill. Em novembro, ele se uniu a Jae Ho Lee, criador do Grupo Ornatus, que tem 80 restaurantes das marcas Jin Jin e My Sandwich, e criou a Halipar (Holding de Alimentação e Participações).
Com 500 milhões de reais de faturamento e mais de 350 restaurantes em todos os estados do país, Alves comanda a sétima maior rede de restaurantes do Brasil — atrás de Subway, McDonald’s, Bob’s, Giraffas, Spoleto e Habib’s.
Mais do que o tamanho, o que impressiona na trajetória de Alves é a velocidade com que as coisas aconteceram. Ele abriu o primeiro restaurante em 2004. Até a virada do século, era dono de seis açougues na região de Sorocaba, no interior de São Paulo. O primeiro foi comprado com o dinheiro de uma moto e mais alguns trocados.
Até que os supermercados da região construíram os próprios açougues e os restaurantes passaram a comprar carne dos frigoríficos. “Abri meu primeiro restaurante para vender a própria carne que estava estocada. Nunca planejei criar uma rede, menos ainda desse tamanho”, diz Alves.
Ele conseguiu ganhar dinheiro num mercado conhecido pelas más notícias porque investiu num nicho novo, e na hora certa. Não havia restaurantes vendendo comida caseira e vários cortes de carne nos shoppings do interior de São Paulo. E, de 2004 a 2015, o interior do estado viveu uma explosão de shoppings.
O Griletto estava em quase todos. Quanto mais restaurantes abria, mais Alves percebia os benefícios da escala. Por isso, em 2014, quando tinha 150 restaurantes, deu sua grande tacada ao comprar os 95 restaurantes da rede Montana, da dupla sertaneja Chitãozinho e Xororó. Com o negócio, Alves virou dono da maior rede de grelhados do país e começou a estudar novos nichos de mercado.
Mas a criação da Halipar foi ideia do fundo de investimento G5 Evercore Private Equity, dos sócios Marcelo Serfaty, ex-sócio do banco Pactual, e Fernando Gentil, ex-sócio do fundo de investimento Darby. Foi o próprio G5 que apresentou Alves a seu novo sócio, o coreano Jae Ho Lee, dono das redes de restaurantes Jin Jin e My Sandwich.
Além delas, Lee é dono de outras três redes de franquias de moda — a Morana, de bijuterias, a Balonè, de acessórios femininos, e a Lovebrands, de presentes. O crescimento recente fazia essas redes consumir cada vez mais o tempo de Lee, que buscava um sócio que conhecesse o mercado de restaurantes.
Enquanto isso, Alves precisava de um parceiro que pudesse ajudar na criação de outras marcas. Foram oito meses de negociação até a concretização do negócio, que deixou a G5 com uma fatia minoritária da nova empresa. Alves é o presidente. Escala é importante, mas faz sentido juntar uma rede especializada em sushi com outra que serve arroz, feijão e bisteca?
A tentativa de criar grupos com restaurantes de diferentes marcas é antiga. O caso mais conhecido é o da americana Yum!Brands, que surgiu em 1997 ao juntar a Pizza Hut, a Kentucky Fried Chicken, especializada em frango frito, e a Taco Bell, de comida mexicana. Atualmente, são mais de 40.000 restaurantes espalhados por 125 países.
No Brasil, o grupo carioca Trigo, que começou com a rede de massas Spoleto, abriu nos últimos anos redes de pizzarias, temakis e sushi. “A estratégia de juntar grandes empresas de restaurantes, na teoria, corta os custos e cria poder de negociação com fornecedores e outros parceiros. O desafio é fazer empresários acostumados a mandar passar a dividir decisões”, diz o consultor de franquias Marcelo Cherto.
No caso da Halipar, a crise também pesou na união. “Em tempos de crise, é fundamental controlar os custos. E a fusão aumenta muito a eficiência”, diz Serfaty, do G5 Evercore. O número de possíveis alvos para aquisição também cresce. Serfaty, Alves e Lee já pensam na próxima compra — o alvo está numa praça de alimentação perto de você.