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Da Redação
Publicado em 18 de fevereiro de 2011 às 11h40.
Eles estão de volta — ou será que nunca foram embora? São os comandantes do exército internacional de banqueiros de investimento, administradores de fundos com bilhões de dólares à sua disposição, financistas que compram, vendem ou alugam dívidas, especuladores em hipotecas, moedas, derivativos, ações e tudo o mais que possa mudar de preço ou de valor — gente, enfim, que tenta ganhar dinheiro todos os dias fazendo circular papel de um lado para outro do mundo e esperando, basicamente, trocar o que vale menos pelo que vale mais. Seu grande símbolo, no imaginário mundial, é o infame Gordon Gekko — o corsário financeiro interpretado pelo ator Michael Douglas no filme Wall Street, personagem que 25 anos atrás resumiu para o público tudo aquilo que se descrevia como a ‘‘era da ganância’’ da década de 80.
De lá para cá, governos e mais governos, respeitados sábios da ciência econômica e as mais ilustres casas da alta finança internacional ( junto com atos de contrição e promessas de combater os ‘‘excessos’’ do mercado) tentaram quase tudo o que sabiam para colocar ordem nas atividades financeiras do planeta. Não deu, como se sabe. Dois anos atrás a casa caiu — e hoje, apesar das operações de socorro que só nos Estados Unidos já custaram mais de 3,3 trilhões de dólares, está balançando de novo. Cifra por cifra, isso sim é que se pode chamar de ‘‘era da ganância’’; perto dela, a década de 80 mexia com uns trocadinhos. Nada mais adequado, assim, que ele esteja de volta em Wall Street II — ele mesmo, Gordon Gekko em pessoa, interpretado pelo mesmo Michael Douglas, um quarto de século mais velho e tão mau como sempre foi. (‘‘Se você precisa de um amigo, arranje um cachorro’’ — eis o resumo de toda a sua filosofia a respeito de relacionamentos em geral.)
Na verdade, a crise que ronda os bancos e as economias da Europa neste momento, e que mais uma vez coloca a sua moeda comum, o euro, no centro da atenção mundial, não é propriamente uma volta à crise de 2008, que a partir do mercado subprime de hipotecas nos Estados Unidos se espalhou mundo afora. Da mesma forma, a ganância de 2008 não foi uma ressurreição súbita da ganância dos anos 80. As aflições de hoje, mais exatamente, são uma espécie de desdobramento dos problemas que eclodiram dois anos atrás, assim como o comportamento dos atores principais desse drama é, essencialmente, o mesmo que vêm tendo durante todo o tempo. Eles não estão de volta, portanto — sempre estiveram aí.
Todos os esforços feitos ao longo dos dois últimos anos para regular, fiscalizar, limitar ou neutralizar suas atividades não deram, aparentemente, em grande coisa. Economias nacionais inteiras — como é o caso, no momento, da Irlanda — veem seu sistema bancário e sua estabilidade financeira sob ameaça. Em graus diferentes, Espanha e Portugal não conseguem se livrar do ambiente de suspeitas que continua cercando suas economias; a Bélgica, agora, parece se juntar ao time. Ao mesmo tempo, os lucros das casas financeiras internacionais vivem um novo período de exuberância. Os bônus anuais dos executivos do setor, que tanto escândalo causavam ainda outro dia, permanecem, teimosamente, no patamar das dezenas de milhões de dólares. Operações financeiras arriscadas, irresponsáveis ou incompreensíveis continuam sendo imaginadas, desenvolvidas e executadas. Os esforços das polícias financeiras mais bem equipadas do mundo parecem não causar maiores preocupações aos operadores do sistema — não a ponto de fazê-los mudar de conduta.
Pouco adianta a pergunta, cheia de indignação, que volta a ser colocada: ‘‘Mas será que eles não conseguem aprender nada depois de todo o dano que provocaram?’’ Não, é óbvio: como em geral ocorre com o resto da humanidade, não aprendem o que não querem aprender. Continuam a semear tempestades através da economia mundial porque esse é, simplesmente, o resultado de seu trabalho cotidiano. É o que fazem. Não irão embora quando a crise atual acabar, nem a próxima.