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BP quer sair da lanterninha do etanol

Três anos após sua estreia no Brasil, a inglesa BP faz seu maior investimento para tentar, finalmente, ganhar relevância no mercado de etanol

BP: a crise da empresa desviou as atenções do Brasil (Divulgação)

BP: a crise da empresa desviou as atenções do Brasil (Divulgação)

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Da Redação

Publicado em 20 de abril de 2011 às 08h22.

Entre 2008 e 2010, seis grandes grupos globais, como o anglo-holandês Shell e o francês Louis Drey­­fus, entraram na disputa pelo bilionário mercado brasileiro de açúcar e álcool, negócio que movimenta 50 bilhões de reais por ano. Dos seis, cinco estão hoje entre os dez maiores produtores do país. A exceção é a britânica BP, terceira maior produtora de petróleo do mundo, com cerca de 300 bilhões de dólares em receitas no ano passado, e uma das pioneiras entre os grupos estrangeiros a investir nas usinas de etanol brasileiras. A estreia da BP nesse mercado se deu há três anos, com a compra de 50% da usina Tropical, localizada em Goiás. A decisão estava em sintonia com a estratégia internacional da companhia lançada em 2000, quando sua marca corporativa deixou de ser a British Petroleum para se transformar em Beyond Petroleum (ou Além do Petróleo). Começava ali uma série de investimentos da BP em energias renováveis — e, pela lógica, o Brasil não poderia ficar de fora. Ao contrário, porém, do que a estratégia indicava, sua trajetória nos canaviais do país tem sido modesta. Nos últimos três anos, as concorrentes da BP investiram, juntas, 20 bilhões de reais em aquisições e na expansão de suas usinas. Enquanto isso, a BP simplesmente assistia aos movimentos do setor. A letargia só foi quebrada em meados de março, com a compra do controle da usina paulista CNAA — um negócio de 680 milhões de dólares, feito com um grupo de investidores estrangeiros do qual faziam parte o Goldman Sachs e o fundo Riverstone, do Carlyle Group. Com a aquisição, a BP passou do 32o para o 21o lugar entre as maiores produtoras de açúcar e etanol. “Agora estamos prontos para crescer”, diz Mario Lindenhayn, presidente da BP Biocombustíveis no Brasil.

A demora para reagir, nas palavras de Lindenhayn, resulta de uma “curva de aprendizado” que a empresa enfrentou ao entrar num setor desconhecido. Na usina Tropical, a BP, que passou mais de um século apenas extraindo petróleo, teve seu primeiro contato com a plantação de cana e a sazonalidade na venda do etanol. Segundo executivos do mercado, o vazamento no Golfo do México, ocorrido em abril de 2010, que se transformou num dos maiores acidentes ambientais da história, também ajudou a desviar as atenções da matriz. Passado o pior da crise, a subsidiária da BP tenta agora executar o plano de se tornar uma das cinco maiores do país até 2020. Isso seria feito por meio de aquisições e da construção de usinas próprias. O combustível da expansão virá de parte dos
3 bilhões de dólares disponíveis para investimentos em energia renovável anunciados pela matriz no período que vai até 2015. Trata-se de um plano que aparece justamente no momento em que a capacidade de o país abastecer o mundo — e o próprio mercado interno — com combustível renovável é questionada. Em março, em meio a uma quebra de safra e à elevação do preço do açúcar, a oferta de etanol foi reduzida a ponto de o combustível ter sido importado dos Estados Unidos.


Caso a aquisição da CNAA seja autorizada pelos órgãos reguladores, como Aneel e Cade, a BP passará a comandar pela primeira vez a gestão de uma usina sem a interferência de sócios. Na Tropical, onde divide espaço com Brasil Ecodiesel (25%) e Dreyfus (25%), a BP tem direito a indicar metade dos quatro membros do conselho de administração, incluindo o presidente — e todas as decisões do conselho devem ser tomadas por consenso. Na CNAA, o único sócio é a Dreyfus, com 17% de participação, o que garante à BP mais autonomia. A primeira tarefa de seus executivos será sanear financeiramente a CNAA. Parte dos 680 milhões de dólares pagos pela usina foi utilizada para renegociar dívidas que chegavam a 800 milhões de reais, segundo o balanço publicado no ano passado. Formada em 2007 para operar com três usinas em Minas Gerais e Goiás, a CNAA sucumbiu à crise financeira após a quebra de uma de suas sócias, a Santelisa Vale, incorporada pela Louis Dreyfus.

Contra o tempo

Parte da expansão da BP estará baseada nas próprias usinas da CNAA. As duas unidades que estão em operação terão sua capacidade dobrada, e uma terceira usina deverá ficar pronta nos próximos anos. Cumprida essa etapa, a empresa terá ainda de triplicar a produção para se aproximar da meta estabelecida para 2020. “Devemos anunciar novas aquisições neste ano”, diz Lindenhayn. Mas o compasso de espera em que esteve mergulhada nos últimos três anos pode ter afastado a BP das melhores oportunidades. “O número de empresas à venda já é menor e os preços estão subindo”, diz Maria Gabriela Oliveira, chefe de pesquisas da Bloomberg New Energy Finance. Para ir além do petróleo no Brasil, a BP terá de correr contra o tempo.

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