Maurice Levy é CEO da Publicis (Wikimedia Commons)
Da Redação
Publicado em 11 de julho de 2011 às 15h59.
São Paulo - O executivo franco-marroquino Maurice Lévy, presidente do grupo de publicidade Publicis, quarto maior do mundo, é um expansionista.
Sob seu comando, o Publicis passou de uma agência regional, restrita ao mercado francês, para um conglomerado de 45 000 funcionários espalhados por 104 países, faturamento de 6,9 bilhões de dólares em 2008 e uma constelação de subsidiárias, como a americana Leo Burnett e a inglesa Saatchi & Saatchi.
A voracidade de Lévy é tamanha que o jornal inglês The Independent o apelidou recentemente de "Napoleão da publicidade". Mesmo com tal currículo, o executivo surpreende seus interlocutores quando o assunto é a atual crise global. "Ela é grave, mas não há como negar que também é excitante", disse Lévy em entrevista a EXAME numa rápida visita a São Paulo no mês passado.
Desde a eclosão da crise, o Publicis não fez mudanças na estratégia de aquisições de agências mundo afora que tem impulsionado seu crescimento - em novembro, o grupo comprou a agência brasileira Tribal, especializada em publicidade digital, e, no mês seguinte, a chinesa W&K.
Em outro movimento, no qual Lévy teve papel determinante, o Publicis conquistou, em janeiro, a conta global do Carrefour, avaliada em 1 bilhão de dólares - no Brasil, a rede de supermercados será atendida pela F/Nazca S&S, uma de suas subsidiárias. "Sou um administrador serial de crises", afirmou Lévy, sem nenhum sinal de modéstia.
Sua grande aposta para conduzir o grupo Publicis em meio à crise está na internet. Desde 2007, o grupo investe em aquisições na área, como a agência americana Digitas, por 1,3 bilhão de dólares. No ano passado, meses antes da eclosão da crise, o grupo criou uma divisão exclusiva para publicidade online, batizada de VivaKi, e fechou parcerias com Google e Yahoo!
O objetivo de Lévy é ser líder global em propaganda digital até 2010. "Estamos bem próximos disso", diz ele. Em 2008, a área de publicidade digital do grupo foi responsável por 19% do lucro total, ante 15% em 2007. No que diz respeito à publicidade tradicional, a estratégia do Publicis é deixar de lado toda a sofisticação - e os custos - desnecessária e concentrar-se no básico.
"O cenário não é nada animador, mas oferece a oportunidade de buscar respostas que sejam relevantes mesmo em ambiente tão hostil", diz ele. "Num momento de crise há duas saídas: avançar ou recuar. Se meu cliente não avançar, algum concorrente dele certamente fará isso."
Workaholic assumido, do tipo que responde a e-mails às 4 horas da madrugada, Lévy tem status de celebridade na França. Amigo do presidente Nicolas Sarkozy - a quem trata por tu em vez do formal vous, mais indicado para uma autoridade -, goza de um prestígio que outros empresários do setor de publicidade, como o britânico sir Martin Sorrell, não têm em seus países de origem.
No fim do ano passado, Lévy foi convidado por Sarkozy a fazer parte do grupo de dez empresários que funcionam como consultores do governo francês em meio à crise global. Ele também é membro da fundação que administra o Fórum Econômico Mundial, ao lado de nomes como Tony Blair, Kofi Annan e Carlos Ghosn, seus interlocutores frequentes.
Com 67 anos, Lévy tem data marcada para deixar seu posto: 1o de janeiro de 2012. Tempo suficiente, segundo ele, para, mais uma vez, exercitar sua vocação de surfar em águas perigosas.