Remédio horroroso: a equipe econômica já avisou que não haverá crescimento e que a inflação não vai ceder neste ano (Ueslei Marcelino/Reuters)
Da Redação
Publicado em 28 de janeiro de 2015 às 17h00.
São Paulo - Há, basicamente, duas maneiras de definir o Dr. Joaquim Levy, o primeiro ministro da fazenda a ocupar esse cargo desde a infausta partida de seu antecessor, Antonio Palocci, detonado em março do distante ano de 2006, no meio de um escândalo vulgar, constrangedor e até hoje mal explicado.
(E Guido Mantega? O redator está pulando o professor Mantega? Está, mas não há outro jeito: ele teve o título de ministro da Fazenda, o carro oficial, o cartão de crédito “corporativo” e tudo o mais, só que não foi ministro da Fazenda.
No governo do ex-presidente Lula ficou fazendo número na ponta esquerda, como os locutores de futebol de outros tempos descreviam a tarefa do jogador machucado que não saía do campo, para o time continuar com 11; no governo da presidente Dilma Rousseff, não teve oportunidade de fazer nem isso, pois Dilma nomeou-se sua própria ministra da Fazenda e tomou todas as decisões na área econômica, quase sempre erradas — nos últimos meses, inclusive, Mantega ocupou a inédita posição de ex-ministro à espera do sucessor.
Na posse do novo governo, nem apareceu no ministério para passar o cargo a Levy. Fecha parênteses.) Voltando ao início: o ministro Levy é ruim, mas é bom; ou é bom, mas é ruim.
Na primeira hipótese, ele é o homem que aplica um purgante horroroso na economia, mas, no médio prazo, consegue tirar as finanças públicas da UTI em que estão hoje. Na segunda hipótese é o ministro que faz seu dever, mas acaba machucando ainda mais o paciente sem melhorar realmente sua saúde — pois o paciente não está interessado em curar-se.
Em qualquer dos casos, porém, é certo que o Brasil está a caminho de muita dor de cabeça em sua vida econômica. O próprio ministro já deixou claro que não haverá crescimento neste ano. O Banco Central calcula que a inflação não deverá ceder antes do fim de 2016.
A indústria não deve contar mais com os ajutórios caóticos que vinha recebendo de um governo assustado. O Tesouro está quebrado: não consegue pagar nem as contas de luz das embaixadas brasileiras. Em matéria de país vira-lata, é o que há.
E o governo — o que faz diante do desastre criado no primeiro mandato de Dilma? Sob o comando da nova equipe econômica, os juros acabam de subir para 12,5% ao ano, o terceiro aumento depois das eleições; é também a taxa mais alta desde julho de 2011.
Foi declarado um ataque especialmente maligno contra os contribuintes, com aumentos no imposto sobre combustíveis, no imposto de renda da pessoa física e em “contribuições” que nunca conseguiram disfarçar o que realmente são — atos de extorsão.
As tarifas de serviços públicos, da luz ao transporte coletivo, estão mais caras, depois de ser represadas com patente irresponsabilidade para ajudar a reeleição de Dilma. Benefícios trabalhistas que jamais seriam tocados — “nem que a vaca tussa”, prometeu a presidente durante a campanha — já foram tosquiados com máquina zero; a vaca da vida real, na verdade, está tendo um acesso de tosse. Corte a sério nas despesas do governo? Nem pensar.
Tudo isso, naturalmente, é uma vergonha do ponto de vista da decência política. A presidente reeleita, que agora fica em silêncio, passou a campanha eleitoral inteirinha jurando que não iria fazer nada disso; deu sua palavra de honra. Mais ainda, passou todo o primeiro mandato pregando, com ira santa, que todas essas medidas estão erradas.
Acusou o governo dos Estados Unidos, da Alemanha e de outros países infinitamente mais bem-sucedidos do que o Brasil de não saber como gerir sua economia. Decretou que a busca do equilíbrio entre receitas e gastos é coisa “datada” — algo obsoleto, direitista e burro para um colosso da ciência econômica como ela.
Tudo bem. Acontece que não foi Levy quem disse mentiras na campanha nem bobagens rasteiras sobre economia. Ele está fazendo exatamente o que sempre sugeriu que fosse feito para estancar a anarquia criada pela Grande Gerente. Ao governo só resta aturar o homem — ou é como ele está fazendo, ou fica pior.