Agentes da Polícia Federal durante a sétima fase da Operação Lava Jato, em São Paulo (Nacho Doce/Reuters)
Da Redação
Publicado em 31 de dezembro de 2014 às 05h00.
São Paulo - É uma feliz coincidência (ou infeliz, dependendo do ponto de vista) que uma equipe de técnicos do Tribunal de Contas da União (TCU) acabe de sugerir que as contas da última campanha do PT não sejam aceitas pelo TSE, a instância máxima da Justiça Eleitoral brasileira.
Os contadores do TCU, como determina a lei, olharam com cuidado os números apresentados pelo PT para explicar suas receitas e despesas na campanha de reeleição de Dilma Rousseff e não gostaram do que viram — números que não conversam entre si, operações aritméticas que não fecham, excesso de despesas sem comprovante, cifras que violam preceitos da lei eleitoral, e assim por diante.
Justamente agora? A hora não é boa, quando se considera que o governo e o PT, inspirados pelo ex-presidente Lula e pela presidente reeleita, Dilma Rousseff, fazem no momento um imenso e ingrato esforço para anunciar uma de suas últimas descobertas: as contribuições financeiras das empresas privadas para as campanhas eleitorais, concluíram eles, são a grande causa da corrupção neste país.
É um desses disparates que só o talento do PT para a confusão consegue manter de pé. Não ajuda a causa do partido, a esta altura, que, além de suas flagrantes dificuldades com a lógica, haja problemas sérios entre os responsáveis pela campanha e a ciência contábil. Se não sabem nem cuidar de um balancete de entradas e saídas, por que ficam dando palpite no assunto?
O peso do dinheiro no resultado das eleições brasileiras é sem dúvida uma questão de primeiríssima grandeza — e, enquanto ela não receber uma solução pelo menos satisfatória, já que o ideal é altamente improvável, o país continuará a padecer de uma democracia doente.
O grande problema, no momento, é que o PT, muitos de seus aliados e a velhíssima política nacional querem impor, com o apoio maciço da máquina do governo, a solução mais maligna que poderia haver para a situação. É algo tão ruim que seria melhor ficar com o problema em vez de tentar a solução; um desses casos clássicos em que o ruim tem tudo para tornar-se pior.
A solução oficial, conforme vem sendo noticiado há tempos, sobretudo após as eleições, é criar o “financiamento público” das campanhas eleitorais, sistema pelo qual as empresas privadas ficariam proibidas de fazer doações a partidos e candidatos e as despesas dos competidores seriam pagas com dinheiro público.
Parece uma alucinação que o PT e seus associados queiram que o contribuinte brasileiro dê a eles ainda mais dinheiro do que já custam. Fica no reino da insanidade, também, uma possibilidade inseparável do “financiamento público” das campanhas: o eleitor pagará não só pelos prejuízos que os políticos corruptos vão causar mas também para que eles sejam eleitos.
Apesar dessas aberrações, e de muitas outras, o partido oficial se empenha de corpo e alma para aprovar a proposta, e o ex-presidente Lula se apresenta como um de seus defensores campeões.
É óbvio que empreiteiras de obras e outros fornecedores do governo fazem doações às campanhas eleitorais com o objetivo de cobrar em troca, no futuro, favorecimentos dos candidatos a quem deram dinheiro. Mas é óbvio, também, que continuarão fazendo isso,
clandestinamente, depois de adotado o financiamento público, pois continuarão precisando de gente bem colocada no governo — a única diferença é que haverá uma montanha de dinheiro a mais nas campanhas eleitorais, a ser doada pelo Tesouro Nacional. Enfim, dizer que a corrupção no Brasil só existe por causa das doações é um insulto aos fatos. Estão aí, à vista de todos, as provas de episódios de corrupção que nada tiveram a ver com o sistema eleitoral.
A única resposta real para o problema é baixar radicalmente o custo das campanhas. Qual é a necessidade de uma candidata à Presidência, como foi o caso de Dilma, gastar 340 milhões de reais para disputar a reeleição? O que a população brasileira ganha com isso? Gastar menos, porém, é a última coisa sobre a qual o PT quer ouvir.