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É preciso dar um basta na roubalheira, diz consultor

Para o presidente da consultoria americana Grant Thornton, o Brasil tem a chance de mudar o ambiente de negócios com a nova Lei Anticorrupção

Stephen Chipman: “Suspeito que no Brasil e na China a corrupção cotidiana seja algo cultural” (Gareth Jones/Divulgação)

Stephen Chipman: “Suspeito que no Brasil e na China a corrupção cotidiana seja algo cultural” (Gareth Jones/Divulgação)

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Da Redação

Publicado em 21 de maio de 2014 às 06h00.

São Paulo - O americano Stephen Chipman audita multinacionais há mais de 30 anos. Como presidente da consultoria Grant Thornton, também aconselha diversas empresas sobre os cuidados que devem tomar antes de investir no exterior.

Quando o alvo é o Brasil, costuma ouvir perguntas sobre casos de corrupção, uma preocupação constante de quem está planejando colocar os pés no país pela primeira vez.

Para Chipman, há sinais de mudanças positivas nesse campo. “A introdução de uma nova Lei Anticorrupção em janeiro vai no caminho certo. O importante agora é fazer com que a nova legislação seja adotada no dia a dia”, diz.  

1) EXAME - Como o Brasil é visto quando o tema é corrupção?

Stephen Chipman - Não há dúvidas de que a corrupção é um mal que afeta as empresas mundo afora. E o Brasil é um dos países que preo­cupam as empresas porque seu nível de corrupção é considerado elevado. Basta olhar para o ranking da ONG Transparência Internacional, no qual o Brasil aparece em 72º lugar entre 177 países.  

2) EXAME - O senhor acredita que o país perca investimentos por causa disso?

Stephen Chipman - É difícil dizer. O Brasil é um grande mercado, há diversas oportunidades, e muitas empresas querem investir no país. Mas, sem dúvida, a corrupção entra na lista de fatores que são avaliados na tomada de decisão de investimentos — assim como a estrutura tributária e a burocracia.

3) EXAME - A legislação anticorrupção adotada no começo do ano melhora a imagem do país? 

Stephen Chipman - É uma ótima notícia que o Brasil tenha adotado uma medida adicional em relação a esse tema. Mas é preciso fazer valer a nova lei no dia a dia. Sem isso, não haverá melhora no ambiente de negócios. Nos Estados Unidos, a primeira lei anticorrupção foi criada nos anos 70. Mas as empresas só passaram a levar esse assunto mais a sério recentemente, com a introdução de novas leis. 

4) EXAME - O que provocou essa transformação?

Stephen Chipman - Foi a criação da Lei Sarbanes-Oxley, em 2002. Essa lei instituiu critérios mais rígidos de auditoria. Depois, houve o aumento do número de investigações por parte do Departamento de Justiça. Foi quando os conselhos das empresas perceberam os riscos envolvendo casos de corrupção.

5) EXAME - O que mudou no dia a dia?

Stephen Chipman - Os conselhos passaram a se preocupar mais com a gestão de riscos. A estratégia das autoridades foi mirar as grandes empresas para ter um impacto maior no meio empresarial. Isso fez com que boa parte das companhias passasse a olhar com atenção para esse tema.

6) EXAME - O senhor trabalhou alguns anos na China, onde a percepção de corrupção é maior do que no Brasil. Os chineses estão falhando no combate à corrupção?  

Stephen Chipman - O governo está empenhado no combate dentro da máquina pública. Tem buscado grandes casos para dar o exemplo. Mas a corrupção cotidiana ainda é muito presente. Chega a ser cultural. Suspeito que o Brasil enfrente o mesmo tipo de problema.

7) EXAME - Quais são os principais impactos da corrupção? 

Stephen Chipman - Se um país não consegue estancar a ineficiência e o desvio de recursos causados pela corrupção, suas empresas nunca serão verdadeiramente competitivas.

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