Donald Trump, empresário e apresentador de TV: será que ele vai até o fim? (Marc Royce/Corbis Outline)
Da Redação
Publicado em 15 de junho de 2011 às 20h27.
No dia 22 de maio, às 20 HORAS, os americanos vão parar diante das TVs para assistir à final do reality show O Aprendiz. Mas a maioria não vai dar a mínima para o vencedor do programa, uma edição especial cujos participantes são celebridades de terceira categoria. A expectativa é por outra decisão que será anunciada durante a transmissão: será que Donald Trump vai mesmo se lançar candidato à Presidência dos Estados Unidos?
Nas últimas semanas, o dono de alguns dos prédios — e do penteado — mais famosos do país vem dando pistas de que vai concorrer nas primárias do Partido Republicano. Ele prometeu dar a resposta definitiva durante a apresentação da final de seu programa, que será transmitida ao vivo.
Os mais cínicos dizem que seu objetivo é apenas ganhar audiência. Mas as pesquisas sugerem que as ideias do falastrão Trump, por mais disparatadas que sejam, podem estar encontrando eco em muitos eleitores.
Um levantamento feito pela rede CNN e pelo instituto Opinion Research Corporation mostra que Trump está empatado em primeiro lugar entre os possíveis postulantes à candidatura da oposição, quando considerada a margem de erro.
Ainda faltam dez meses para a primeira rodada das primárias que vão escolher o opositor de Obama nas eleições do ano que vem, e as pesquisas ainda são tomadas com muita cautela pelos analistas. Mas, no espetáculo de mídia que é a política americana, Trump já se posicionou na corrida.
Seu primeiro ato de campanha, se é que se pode falar assim, foi repetir em dezenas de entrevistas o rumor de que Obama não nasceu nos Estados Unidos, o que o impossibilitaria de ocupar a Presidência. Sua insistência foi imensamente repercutida pela imprensa americana, e a Casa Branca acabou por divulgar pela primeira vez um fac-símile da certidão de nascimento do presidente.
Trump, que fazia uma visita ao estado de New Hampshire, o primeiro a realizar primárias, comemorou a publicação do documento como uma vitória. Obama, que classificou a controvérsia de “bobagem”, fez piadas inclementes com Trump num discurso realizado num jantar de gala com jornalistas que cobrem a Casa Branca: “Agora ele finalmente vai poder se concentrar no que realmente importa. Como: forjamos a chegada do homem à Lua?”.
O magnata, que estava entre os convidados, saiu de mansinho do evento. Se ele também vai sair de cena depois de ser ridicularizado pelo presidente, ninguém sabe ao certo. Se estiver levando a sério a ideia, Trump vai ter de se explicar à direita e à esquerda. Ele foi ligado ao Partido Republicano no fim dos anos 80. Depois passou brevemente pelo pequeno Partido da Reforma e durante a maior parte desta década foi um democrata. Em 2009, voltou a se declarar republicano.
Hoje, Trump é um crítico contumaz das políticas de Obama — algumas das quais ele próprio defendeu no passado. Há dez anos, por exemplo, ele sugeriu a imposição de um imposto de quase 15% sobre os americanos mais ricos. Também apoiou a ideia de um sistema de saúde público com cobertura universal.
Ambos os temas serão centrais na campanha presidencial — são o exato oposto do que prega a cartilha republicana. Franzindo as sobrancelhas e apertando os olhos, como costuma aparecer em O Aprendiz, Trump diz que o país mudou desde então, assim como suas ideias.
Trump tem pouco a perder se, no fim das contas, anunciar que não vai disputar as primárias. Pelo contrário. Sua empresa, a Trump Organization, e a maior parte de seus empreendimentos imobiliários levam seu nome, e seu status de celebridade ajuda nos negócios.
Embora seja parte da lista dos 400 americanos mais ricos da revista Forbes desde sua primeira edição — na mais recente, a fortuna é estimada em 2,7 bilhões de dólares —, um livro publicado em 2005 fez um cálculo mais conservador. Em TrumpNation — The Art of Being The Donald (“Nação Trump — a arte de ser o Donald”, em tradução livre), o jornalista Timothy O’Brien estimou que ele teria de 150 milhões a 250 milhões de dólares. A revelação rendeu um processo de calúnia contra o autor, ainda não decidido.
A candidatura de Trump é, ao mesmo tempo, uma divertida farsa e um assunto sério. Em primeiro lugar por transformar em questão de Estado um boato de fundo racista, dizem os críticos. “A questão nunca foi sobre a cidadania; simplesmente era um substituto para quem nunca aceitou a legitimidade do presidente, por uma mistura tóxica de ideologia, rancor e, mais insidiosamente, raça”, disse um editorial do The New York Times.
Em segundo lugar porque os republicanos parecem dispostos a levá-lo a sério. Caso decida-se pela candidatura, o bilionário (milionário?) vai ter de enfrentar as piadas sobre seu cabelo, além de esclarecer suas convicções.
E também terá de superar uma limitação pessoal: a germofobia. Negros e brancos, ricos e pobres, muitos já chegaram à Presidência americana. Mas não se tem notícia de algum candidato que tenha sido eleito sem apertar a mão dos eleitores.