Revista Exame

Dólares, a nova dor de cabeça do governo

Eis um produto em escassez: propostas práticas, coerentes e eficazes para enfrentar a excessiva entrada de dólares. O governo não sabe o que fazer porque o Brasil sempre viveu exatamente o problema oposto

Dilma com Obama: a conversa foi boa, mas ele não 
pode fazer nada para impedir que o Brasil atraia dólares (Chip Somodevilla/Getty Images)

Dilma com Obama: a conversa foi boa, mas ele não pode fazer nada para impedir que o Brasil atraia dólares (Chip Somodevilla/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 29 de maio de 2012 às 18h20.

São Paulo - É fato bem comum as pessoas se encontrarem, a uma altura qualquer da vida, diante de situações que nunca viveram antes e que exigem algum tipo de solução. Em geral é uma dor de cabeça. Se o cidadão jamais passou por este ou aquele dilema, não tem experiência nenhuma no assunto; se não tem experiência, não sabe o que fazer para resolvê-lo.

É o que acontece neste momento com o Brasil, atordoado pelas montanhas de dólares que vêm dos quatro cantos do mundo e não param de desabar aqui dentro. Liquidez financeira é quase sempre uma maravilha. Quem não quer? Pois é: o Brasil não está querendo, ou pelo menos não quer tanta liquidez assim.

A encrenca, hoje, é que estamos com liquidez em excesso. É uma situação inédita, e com ela vêm problemas também inéditos — o mais mencionado dos quais é a baixa cotação do dólar, ofertado em demasia, ou a alta cotação do real, procurado no mesmo ritmo.

Isso, naturalmente, torna nossas exportações cada vez mais caras e menos competitivas, e nossas importações cada vez mais baratas e mais difíceis de ser enfrentadas pelo produtor nacional. É complicado.

“Que fazer?”, como perguntava Lenin num dos seus manuais destinados a quem tivesse interesse em adotar a carreira de revolucionário. A vantagem, no caso, é que ele tinha respostas para a pergunta — ou, pelo menos, achava que tinha e, mais do que tudo, acabou conseguindo o que queria.

Hoje, tanto aqui como lá fora, simplesmente não há respostas convincentes ou mesmo razoáveis para o problema do excesso de dólares. A presidente Dilma Rousseff, em suas viagens ao exterior, tem reclamado que há um “expansionismo” monetário das nações ricas, e a consequência disso é a oferta exagerada de dólares que tanto prejudica, no momento, países como o Brasil.

É sem dúvida algo cansativo, por ser mais do mesmo, e certamente um assunto chato para a massa de brasileiros que nem sabem da existência desse problema ou não se interessam em saber mais sobre ele.

É difícil, ao mesmo tempo, imaginar como a presidente poderia falar sobre a economia brasileira sem tocar na questão. Mas o problema real não é falar ou deixar de falar. É o raio da pergunta apresentada no começo deste parágrafo: que fazer?


As complicações brasileiras com o dólar, como acontece numa porção de problemas desta vida, oferecem uma notável facilidade para a multiplicação das palavras e uma crescente dificuldade para a oferta de soluções.

É este, exatamente, o produto em escassez: propostas ou sugestões prá-ticas, coerentes e eficazes para enfrentar a excessiva entrada de dólares na economia do Brasil, sobretudo quando se espera que as possíveis providências sejam tomadas por governos de outros países.

Se o próprio Brasil não sabe direito o que propor ou sugerir, por que os governos estrangeiros iriam fazer isso? É um mérito indiscutível da presidente Dil-ma não ter permitido, até agora, que se pense em soluções exóticas, “não ortodoxas” ou simplesmente baseadas em ideias mortas há longo tempo.

Essa opção pela racionalidade é, com toda certeza, um alívio; quase sempre é melhor não fazer do que fazer errado. Infelizmente, porém, só a razão não basta para que apareçam soluções concretas.

Querer que os Estados Unidos e outras grandes economias do mundo impeçam a saída de dólares rumo ao Brasil não é viável. Barrar ou dificultar seriamente sua entrada aqui também é opção inválida — bem como inventar obstáculos para a sua saída, depois que entraram.

Reduzir os juros a 1% ao ano é impossível. Iludir-se com a aplicação de “controles cambiais” e outros passes de vodu jamais levarão a qualquer coisa útil. O fato é que o governo tem feito aquilo que pode; conseguiu, inclusive, alguma redução no valor do real.

Em 500 anos de história, o Brasil sempre viveu o problema exatamente oposto ao que tem hoje: uma perene e desesperada escassez de divisas. Não é de uma hora para outra que vai encontrar o caminho de saída para uma situação que nunca viveu.

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