Revista Exame

Dilma recorre ao "bazar das mil bocas" para tentar trégua

Dilma empenha-se abertamente em transformar o serviço público num mercado, no qual vende cargos em troca de votos que a salvem da deposição no Congresso

Quem vai querer?: para satisfazer o apetite de uma nova armada anti-impeachment, o governo promete verbas (Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)

Quem vai querer?: para satisfazer o apetite de uma nova armada anti-impeachment, o governo promete verbas (Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)

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Da Redação

Publicado em 6 de abril de 2016 às 18h00.

São Paulo – A esta altura do jogo, ninguém precisa de mais esclarecimentos sobre a conduta de Dilma Rousseff no Palácio do Planalto, sua capacidade de degenerar o próprio governo e a irresponsabilidade soberana com que toma, ou acha que toma, suas decisões. Em todo caso, é sempre útil manter em mente o potencial destrutivo que conserva enquanto estiver exercendo oficialmente as funções de presidente da República.

Não é pouca coisa. Justo agora, em mais um episódio tenebroso de sua biografia, Dilma se empenha abertamente em transformar o serviço público num mercado indecente, onde vende cargos em troca de votos que a salvem do impeachment no Congresso.

Não é mais o que se poderia chamar de negociação política — virou tráfico, puro e simples. São de 500 a 800 postos em oferta, ao que parece; há contas indicando que podem ser 1 000. Se precisasse, Dilma não conseguiria comprovar um único caso de interesse público nas nomeações que se propõe a fazer — trata-se unicamente de compra e venda.

“O PT é o partido da boquinha”, disse certa vez o ex-governador Leonel Brizola. Mal imaginava que o PT acabaria não apenas como o campeão nacional da boquinha, tomando para si tudo quanto é emprego público que lhe passa pela frente; é também, no momento, o maior vendedor de boquinhas da praça.

Dilma conseguirá se safar com isso? Com um governo com a inépcia do dela, não dá para saber. É perfeitamente possível que a operação toda acabe se transformando em apenas mais uma exibição de anarquia explícita e incompetência em estado terminal. O governo não sabe exatamente quantos cargos pode vender nem quais são eles.

Não sabe direito quem quer comprar; apenas imagina que seja gente ligada a colossos da história política nacional, como PP, PR, PSD etc. Dilma não conhece a vasta maioria dos que pretende no­mear, assim como não tem ideia de quem são os que pretende demitir. Não sabe, sequer, se Lula vai ocupar ou não o ministério mais importante de seu governo — talvez já não saiba, nem mesmo, se ele ainda quer o cargo.

Fala-se que o governo vai socar “verbas” nos agraciados. Que verbas? Todo santo dia vem mais uma notícia sobre o estado pré-falimentar do Tesouro Nacional — onde vão achar o dinheiro para satisfazer o apetite da nova armada contra o impeachment? A dívida bruta é recorde. A dívida líquida não é melhor.

A lista dos empregos empenhados na operação inclui, entre outros florões do serviço público brasileiro, repartições especialmente sinistras sob a gestão do PT, como a Fundação Nacional da Saúde (em cuja órbita já se roubou até sangue), o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas, a Companhia Nacional de Abastecimento e até uma Antaq, onde, acredite se quiser, é administrado o “transporte aquaviário” do país.

Um probleminha, nisso tudo, é que entre os possíveis nomeados provavelmente haverá gente tão encrencada com a corrupção quanto todos esses que estão por aí tentando fugir da cadeia; assim que assumirem, começará a emergir a folha corrida de cada um.

Não se pode garantir, enfim, que haverá tempo material para identificar e nomear os 500, 800 ou 1 000 cidadãos com os quais Dilma espera fugir da deposição — o processo de impeachment pode andar mais depressa do que as nomeações e, de mais a mais, ninguém garante que os nomeados entreguem mesmo a mercadoria que venderam.

Quem sabe, em sua calamidade, o governo pudesse vender a algum interessado o comando da Força Nacional, criada para ajudar na segurança da Olimpíada do Rio de Janeiro? É uma ideia. Dilma ganhou de graça essa vaga. O ocupante, coronel Adilson Moreira, se demitiu porque não quer mais, como disse em e-mail aos subordinados, servir a um governo comandado por “um grupo sem escrúpulos, incluindo aí a presidente da República”.

O coronel declarou-se “envergonhado”. Falou o que milhões de brasileiros falariam, e esperam que os servidores públicos decentes falem. É o contrário exato da manada que se precipita sobre as “bocas” que Dilma colocou em leilão em seu bazar.

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