São Paulo - "O mercado acionário”, disse o investidor americano Philip Fisher, um dos gurus do bilionário Warren Buffett, “é cheio de indivíduos que sabem o preço de tudo e o valor de nada.” A história mostra que, de fato, poucos investidores conseguem ignorar a cacofonia do mercado financeiro e ganhar dinheiro de verdade — de forma consistente e ao longo de décadas.
No Brasil, ninguém conhece tão bem o valor das coisas quanto o paulista Luis Stuhlberger, o melhor investidor do país em quase duas décadas. Seu fundo, o Verde, rendeu 8 500% desde que foi criado, em 1997. Sua consistência é notória. Escolha o ano, e seu desempenho terá sido melhor do que o de quase todos os seus pares.
Em 2013, o Verde rendeu 18%. No ano anterior, 19,5%. E por aí vai. Stuhlberger compra e vende qualquer tipo de coisa. E, na média, acerta bem mais do que erra. Nos últimos meses, porém, sua rotina mudou um pouco.
Sob sigilo absoluto, Stuhlberger vem conduzindo uma negociação diferente daquelas que fizeram sua fama: não está em jogo o preço de ações europeias, moedas asiáticas ou títulos americanos — mas sim o valor dele próprio.
Em 2006, Stuhlberger vendeu o controle de sua gestora, a Hedging-Griffo, para o banco Credit Suisse. Cinco anos depois, os suíços exerceram o direito de comprar o restante das ações e adquiriram 100% da gestora. No total, Stuhlberger e seus sócios ganharam cerca de 2 bilhões de reais e se tornaram funcionários do banco.
Como acontece nesse tipo de transação, Stuhlberger assinou uma cláusula que o impede de competir com o Credit Suisse caso deixe o banco. Mas esse acordo termina daqui a um ano — a partir de 2015, o melhor gestor de fundos do país estará livre para fazer o que lhe der na telha.
O que fará Stuhlberger? Venderá seu passe para um concorrente? Criará uma nova gestora? Fechará o fundo para abrir uma pousada na praia? Os boatos são os mais variados.
Mas, segundo EXAME apurou, a boataria deverá terminar rapidamente. Credit Suisse e Stuhlberger estão acertando os últimos detalhes de um novo contrato. É claro que, como nada foi assinado, tudo pode mudar. Mas estão avançadas as negociações para a criação de uma nova gestora, controlada por Stuhlberger, e que terá o Credit Suisse como acionista minoritário.
Essa nova instituição será responsável pelo Verde e pelos fundos de ações que hoje a equipe de Stuhlberger administra no Credit Suisse, o que soma cerca de 20 bilhões de reais em patrimônio. A pessoas próximas à negociação entre ele e o banco, o gestor diz que sua rotina não vai mudar — ele pretende continuar trabalhando no escritório do banco, no 11º andar de um prédio no bairro do Itaim, em São Paulo.
Para os clientes de seus fundos, tudo ficará como está, já que a gestão continuará a cargo da mesma equipe. O dia do fico não tem data marcada, mas deverá acontecer antes do meio do ano.
Stuhlberger é um especialista em comprar barato e vender caro. Mas a verdade é que, no caso da venda da Hedging-Griffo, pode-se dizer que o Credit Suisse certamente não pagou tão caro assim.
Desde 2006, os fundos que ele administra deram uma receita de 4 bilhões de reais ao banco, conta que inclui o pagamento de taxas de administração e de performance pelos cotistas. Ou seja, a compra do passe de Stuhlberger se pagou rapidamente.
Desde 2011, cada centavo gerado por seus fundos vai direto para o Credit Suisse — e Stuhlberger recebe bônus anuais como qualquer executivo. É claro que essa situação não poderia durar para sempre. Com a criação da nova gestora, ele passará a receber uma fatia maior dos resultados gerados por seus fundos. Segundo executivos que acompanham a transição, o Credit teve de “ceder nas cláusulas financeiras”.
Com cerca de 60 bilhões de reais sob administração, o Credit Suisse tem hoje o segundo maior private bank, área responsável por administrar fortunas do país (perde para o Itaú). A criação de uma nova gestora com Stuhlberger segue o modelo adotado há dois anos, quando Antonio Quintella deixou a presidência do Credit Suisse nas Américas para fundar a gestora Península.
O banco tem 25% das ações da Península, o que lhe dá prioridade na hora de distribuir dinheiro dos clientes para a gestora. Em março deste ano, uma equipe de nove pessoas da tesouraria do Itaú pediu demissão para montar uma sociedade nos mesmos moldes, especializada em fundos de renda fixa (o tamanho da participação do Credit Suisse ainda não foi definido). Procurados, Stuhlberger e Credit Suisse não deram entrevista.
Se vai ganhar menos do que ganha hoje, o Credit Suisse evitará o problemão que seria a saída definitiva de Stuhlberger. A vida não está fácil para os bancos de investimento no Brasil. As receitas com fusões e aquisições e, sobretudo, com emissões de ações estão minguando.
Só a gestora tocada por Stuhlberger faturou o dobro da área do Credit Suisse que assessora empresas em negócios desse tipo, segundo a companhia de análise Dealogic. As receitas geradas pelos fundos são mais estáveis — só caem se houver uma onda de saques, o que é improvável quando o gestor atrás do balcão tem o histórico de Stuhlberger.
Fora isso, seu desempenho tem funcionado como um polo de atração de clientes. Pouco depois de fechar a venda da empresa de planos de saúde Amil, em 2012, o empresário Edson Bueno deu uma entrevista dizendo que entregaria os quase 10 bilhões de reais que receberia para Stuhlberger administrar.
Uma parte do dinheiro não foi para o Verde, que está fechado para captações, mas acabou entrando em outros fundos do Credit Suisse. Empresários como Elie Horn, dono da incorporadora Cyrela, e Décio Goldfarb, um dos maiores acionistas das lojas Marisa, estão entre os investidores do Verde, segundo EXAME apurou (procurados, eles não comentaram).
Como Stuhlberger será sócio do banco na nova gestora, o Credit Suisse espera manter o benefício de ter sua marca associada ao melhor gestor do Brasil. Num mercado extremamente concorrido como o brasileiro, é o tipo de coisa que não tem preço.
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1. Investimentos
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1/17 (Marcos Santos/usp imagens)
São Paulo - Um investimento pode ser determinante para
startups. Com a ajuda de um fundo, o negócio pode decolar. Mais do que capital, os fundos trazem experiência e conhecimento aos
empreendedores. A relação, no entanto, tem outro lado. As empresas passam por um processo de profissionalização e precisam manter tudo nos trilhos para prestar contas aos novos sócios. Veja a seguir uma relação de 15
fundos de investimento que estão investindo constantemente em startups brasileiras. A lista foi elaborada pela Associação Brasileira de Startups (ABS), a pedido de EXAME.com.
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2. Redpoint eVentures
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2/17 (Divulgação/Sophie & Juliete)
Criado em 1999, o fundo, um dos mais conhecidos do Vale do Silício, gerencia mais de 2,5 bilhões de dólares e já participou de 41 IPOs e 66 aquisições. A firma tem escritórios na Califórnia, em Xangai e em São Paulo. Entre as empresas investidas estão companhias da área de internet, mídia e mobile. O site de assinaturas de sapatos Shoes4You, a loja virtual de acessórios Shophie&Juliette (foto) e o portal de viagens ViajaNet já receberam investimentos no Brasil.
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3. 500 Startups
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3/17 (Divulgação/Cuponomia)
A 500 Startups é uma incubadora e também atua com investimentos. As áreas mais investidas são de serviços financeiros, e-commerce, educação e saúde. O investimento inicial varia de 25 mil a 250 mil dólares. No Brasil, algumas startups já foram selecionadas para o programa da 500 Startups, como o site de cupons de desconto Cuponomia (foto) e o portal de venda de ingressos Ingresse.
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4. Monashees Capital
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4/17 (Marcelo Correa/EXAME.com)
O fundo brasileiro de investimento soma cerca de 20 startups investidas. O foco é em empresas de internet e educação. O pioneiro de compras coletivas Peixe Urbano (foto), omarketplace de serviços GetNinjas, a loja online especializada em crianças Baby.com, o site de artesanato Elo7 e o e-commerce de móveis Oppa fazem parte do portfólio.
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5. Fir Capital
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5/17 (Divulgação/Axado)
Criada em 1999, a gestora de fundos de venture capital brasileira foca em empresas de tecnologia e internet. Em 2007, o gestor Draper Fisher Jurvetson (DFJ) comprou uma participação no fundo. Dois exemplos de startups que já receberam aporte são o comparador de fretes Axado (foto) e a distribuidora de vídeos online Sambatech.
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6. Confrapar
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6/17 (Divulgação/Canal do Crédito)
A gestora brasileira de fundos de investimento Confrapar foca em empresas de TI e de comunicação. São nove investidas e 275 milhões de reais para investir. O fundo tem escritórios em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Curitiba. A startup de anúncios online Fisgo e comparador de empréstimos Canal do Crédito (foto) fazem parte do portfólio.
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7. Trindade Investimentos
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7/17 (Divulgação)
Criada em 2010, a Trindade Investimentos foca em aportes para startups de tecnologia. Além disso, investe em médias empresas que precisam de capital de giro. Entre as startups que já foram investidas estão a empresa de cartões-presentes Peela, a plataforma de negócios para desenvolvedores Appies e o site de agendamento de consultas médicas BoaConsulta (foto).
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8. e.Bricks
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8/17 (Divulgação/Lets)
Lançada em 2012, a e.Bricks Digital é resultado de um spin-off da unidade de negócios digitais do Grupo RBS. Os setores de atuação do fundo são e-commerce segmentado, mobile e mídia digital. Já receberam aportes empresas como a loja virtual de roupas Lets (foto), o site de vinhos Wine.com.br e a empresa de marketing online Predicta.
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9. DGF Investimentos
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9/17 (Alexis Arnold)
Fundado em 2001, o fundo DGF Investimentos privilegia pequenas empresas com faturamento de até 10 milhões de reais para fazer aportes por meio do DGF Inova. Os investimentos são de até 10 milhões de reais e não há um recorte de tipo de negócio ou atividade. Entre as startups investidas estão o site de venda de ingressos Ingresse (foto) e a empresa de software de relacionamento com o cliente Directtalk.
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10. Accel Partners
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10/17 (Divulgação)
Criado em 1983, o Accel Partners é um dos principais fundos de startups do mundo. Gerindo mais de 6 bilhões de dólares, já investiu em mais de 300 empresas – algumas com ótimos retornos, como Facebook e Dropbox. No Brasil, investiu em startups como o site especializado em artigos para crianças Baby.com.br (foto), o guia colaborativo Kekanto e o site de revenda de artesanato Elo7.
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11. Initial:Capital
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11/17 (Divulgação/Emprego Ligado)
A empresa se especializou em investimentos para startups do Brasil e de Israel. Os aportes ficam em média entre 100 mil e 300 mil reais. O serviço de vagas EmpregoLigado (foto), o site de assinaturas de produtos GlamBox e o serviço de proteção para celular Clube Pitzi já receberam aportes da firma.
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12. Flybridge
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12/17 (Divulgação/Pitzi)
O fundo já fez mais de 60 investimentos em startups com grande potencial de crescimento. Ao todo, gerencia 560 milhões de dólares em aportes. As áreas de consumo, energia, TI e saúde são as mais procuradas. O serviço de proteção para celular Clube Pitzi (foto) e o site de venda de pisos MadeiraMadeira fazem parte do portfólio.
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13. Tiger Global
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13/17 (Divulgação/OQVestir)
Criado em 2001, o fundo Tiger Global Management investe nos Estados Unidos, na América Latina e em alguns locais da Europa e da Ásia. As áreas prioritárias de aportes são imobiliária, telecomunicação, energia, mídia e varejo. No Brasil, o e-commerce de cosméticos Belezanaweb, a loja virtual de roupas OQVestir (foto), o site especializado em itens para animais PetLove e o Peixe Urbano estão entre os investidos.
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14. Rocket Internet
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14/17 (Exame)
O grupo Rocket Internet é quase uma fábrica de startups. Criado em 2007, em Berlim, cria e investe em “clones” de companhias em mais de 40 países. No Brasil, apoia mais de 10 empresas, como o e-commerce Dafiti (foto), a loja online de móveis Mobly e o app de busca de táxis Easytaxi.
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15. Atomico
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15/17 (Divulgação/Bebê Store)
Fundado pelo co-fundador do Skype Niklas Zennström, o fundo começou a olhar as startups brasileiras recentemente. Com escritórios em Londres, Pequim, São Paulo, Istambul e Tóquio, tem aportes em empresas como a criadora do game Angry Birds. No Brasil, a BebeStore, especializada em itens para mães e crianças, é uma das investidas.
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16. Kaszek Ventures
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16/17 (Germano Lüders/EXAME.com)
A Kaszek Ventures foi fundada por Nicolas Szekasy e Hernan Kazah, que ajudaram a criar o Mercado Livre. É uma das firmas que mais investe em startups da América Latina. No Brasil, o site de venda de móveis Oppa, a ótica online Eótica, o guia colaborativo Kekanto (foto) e o site de imóveis VivaReal já receberam aportes.
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17. Agora, leia mais sobre empreendedorismo
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17/17 (Divulgação)