Casa: Usar FGTS para amortizar financiamento de imóvel é vantajoso e deve ser feito assim que possível (Colin Brough/SXC)
Da Redação
Publicado em 12 de novembro de 2014 às 05h00.
São Paulo - O economista carioca Augusto Martinez teve uma ascensão meteórica no mercado de construção civil. Ex-executivo de mineradora e varejista, ele tinha 45 anos em 2004, quando se inspirou no crescimento das incorporadoras de baixa renda Tenda e MRV para criar a própria construtora, a Mudar.
Em 2008, Martinez fechou uma parceria com o Domingo Legal, então no SBT, para patrocinar o quadro Construindo Sonhos. Na TV, ele ajudava famílias a construir sua casa — e garantia, claro, uma exposição de 1 hora em pleno domingo. O programa foi um sucesso e o efeito nos negócios foi imediato.
Em dois anos, a Mudar passou de 150 milhões para 400 milhões de reais em lançamentos no Rio de Janeiro, em São Paulo e Mato Grosso. Martinez era reconhecido nas ruas, circulava nas rodas da elite carioca, andava para cima e para baixo em seu avião. Foi quando o empresário começou a construir pesadelos.
Hoje, até a Justiça tem dificuldade de encontrar Martinez. A Mudar pouco entregou aos clientes desde 2009 e hoje é a construtora de capital fechado com mais processos na Grande São Paulo. Somando outros estados, são 17 empreendimentos atrasados, cerca de 300 ações de clientes e duas ações do Ministério Público contra a construtora e o empresário — que não é visto desde 2013.
A Mudar fechou seu escritório na capital paulista no ano passado e os clientes reclamam de não serem atendidos no escritório do Rio. Nenhum desses clientes recebeu o dinheiro de volta ou as chaves de casa. Segundo a advogada Vanessa Baggio, que tem 106 processos contra a Mudar, foram mais de dez visitas de oficiais de Justiça à cobertura de Martinez no bairro carioca de São Conrado desde 2013.
A única aparição pública de que se tem conhecimento, nesse período, foi na inauguração da loja de roupa feminina da esposa, num shopping de alta renda no Rio, em outubro — o que só serviu para enfurecer ainda mais os clientes e os advogados, que pediram para incluir o patrimônio pessoal do empresário nos processos.
No total, 3 000 clientes foram prejudicados. Só no empreendimento onde o analista Carlos Eduardo de Jesus comprou um apartamento, o Bosque do Ipê, em São Paulo, são cerca de 200 famílias à espera. Era para estar pronto em 2010, mas a obra está parada há quatro anos.
“Comprei porque ia me casar, mas o noivado terminou de tanta pressão familiar e estresse com a situação de não ter onde morar. Tem muito comprador morando de favor”, diz.
Faltou dinheiro
A holding de Martinez, a AGM, chegou a essa situação porque, de 2009 para cá, se atrapalhou no ritmo de lançamentos e no financiamento aos clientes. Segundo ex-diretores, outros negócios de Martinez também consumiram sua capacidade financeira e pioraram mais a situação, como a Samotracia, empresa de tratamento de água, e a construtora de alta renda Vanderbilt.
Quando vieram a crise e o aperto no crédito, em 2009, o que se seguiu foi uma cascata de problemas. As obras da Mudar acumularam-se, os clientes começaram a pedir rescisão de contrato, as empreiteiras contratadas foram substituídas por outras e os funcionários abriram processos trabalhistas.
A Mudar não faz um lançamento há dois anos e acumula dívidas estimadas em 30 milhões de reais. Martinez não foi encontrado por EXAME. Quem respondeu pela empresa foi a analista de marketing Ana Camila Souza, que afirma que a Mudar está retomando as obras conforme sua capacidade financeira e que presta as informações solicitadas por clientes.
O que pode acontecer agora? O cerco está se fechando. No fim de 2013, Fabio Kurtz, que advogava para a companhia, pediu a falência da Mudar depois de receber um cheque sem fundos por seus honorários. O pedido está em análise, mas seria um mau negócio para as famílias.
Se decretada, os clientes assumiriam a obra e poderiam vender o terreno ou os apartamentos em estoque. É uma opção que o MP quer evitar e, por isso, iniciou uma nova ação em setembro, no Rio. “Temos de obrigá-lo a construir e a ressarcir os compradores por danos morais”, diz o promotor Carlos Andresano.
Em São Paulo, há uma nova audiência marcada para 18 de novembro. Pelo menos 3 000 famílias querem saber se Augusto Martinez, o empresário que sumiu da clientela e dos holofotes, vai aparecer desta vez.