Revista Exame

No Boticário, detalhes fazem a diferença no resultado

Mais da metade dos lançamentos recentes do Grupo Boticário recebeu melhorias em aspectos como embalagens, formulação, distribuição e processo de fabricação

Artur Grynbaum, presidente do Grupo Boticário: a meta é que, até 2024, 100% dos novos produtos tenham atributos de sustentabilidade (Marcelo Almeida/Exame)

Artur Grynbaum, presidente do Grupo Boticário: a meta é que, até 2024, 100% dos novos produtos tenham atributos de sustentabilidade (Marcelo Almeida/Exame)

DR

Da Redação

Publicado em 22 de novembro de 2018 às 05h30.

Última atualização em 23 de novembro de 2018 às 13h36.

Em 2017, depois de dois anos seguidos de retração, o mercado nacional de cosméticos cresceu 2,8% em relação ao ano anterior. No mesmo período, o Grupo Boticário cresceu 7,5%, com uma receita de 12,3 bilhões de reais. Segundo a empresa, esse resultado vem da combinação de uma série de detalhes — e dos 300 milhões de itens que fabrica por ano. Dos 1 438 produtos lançados no último ano com suas marcas (O Boticário, Eudora, Quem Disse, Berenice? e The Beauty Box), mais da metade recebeu melhorias de sustentabilidade, seja na formulação ou na embalagem, seja no processo de fabricação, na distribuição ou na comercialização. Para isso, a companhia fez investimentos de cerca de 300 milhões de reais, ou 2,5% do faturamento.

Um dos exemplos de melhoria obtida é a colônia masculina Malbec. A espessura do vidro do recipiente foi reduzida 2%, sem alteração no volume do produto. Só com essa mudança a empresa evitará o consumo de mais de 50 toneladas de vidro por ano. O volume da embalagem do mesmo produto teve redução de 25%, diminuindo a quantidade de papelão em algo equivalente a 50 árvores por mês. Outra melhoria está na linha Nativa SPA, relançada em 2017. A marca O Boticário foi escolhida para ser a primeira a usar frascos e potes com PET reciclado pós-consumo. Com isso, mais de 600.000 garrafas de refrigerante são reutilizadas por ano. Os frascos de xampus, condicionadores e as bisnagas de todos os sabonetes líquidos e loções são fabricados com plástico vegetal, de cana-de-açúcar, o que ajuda a diminuir o consumo de plástico em mais de 1 tonelada por ano.

Além dos detalhes das embalagens, a companhia aprimorou sua forma de produzir. A fabricação e o envase dos cremes e  das loções de Nativa SPA agora são feitos a frio. “Esse processo, desenvolvido por nós de forma pioneira, diminui 71% o tempo de fabricação e 70% o consumo de energia elétrica, reduzindo as emissões de gases de efeito estufa”, diz Artur Grynbaum, presidente do Grupo Boticário.

Um dos objetivos é que a sustentabilidade extrapole as paredes das fábricas e chegue ao varejo. Exemplo nessa linha é o novo modelo de loja de O Boticário, desenhado para reduzir 20% o consumo de energia, além de promover o uso de sacolas retornáveis. Até 2024, a meta do grupo é que 100% dos novos produtos tenham atributos de sustentabilidade. “Não queremos apenas uma linha de -produtos mais sustentável”, diz Miguel Krigsner, fundador de O Boticário. “Queremos uma operação que a cada dia gere menos impactos no meio ambiente e mais benefícios para as pessoas.”


COMEÇANDO PELO BÁSICO PARA POUPAR RECURSOS

Enquanto revê o rumo de seus negócios no Brasil, a japonesa Ajinomoto supera algumas metas globais para tornar suas fábricas mais eficientes no uso de água e reduzir as emissões de gases Michele Loureiro

A japonesa Ajinomoto, fabricante de temperos, alimentos processados, produtos farmacêuticos e químicos, está há 62 anos no Brasil. Com quase 3.000 funcionários e quatro fábricas, a operação brasileira é a terceira maior do grupo fora do Japão, atrás apenas da Tailândia e dos Estados Unidos. Além da relevância econômica para a companhia, as unidades brasileiras têm dado passos iniciais importantes na questão da sustentabilidade. O principal desafio é o uso mais eficiente dos recursos.

Para se tornarem mais sustentáveis, desde 2005 as unidades da multinacional seguem um plano elaborado pela matriz no Japão. A meta global é diminuir em 20% as emissões de gases de efeito estufa em todos as fábricas até 2020. No ano passado, o Brasil já tinha superado essa meta, com um índice de 41%. “Os resultados se deram principalmente pelos investimentos na mudança da matriz energética, de vapor gerado por combustível fóssil para biomassa, em todas as unidades”, diz Venâncio Forti, gerente de sistema de gestão integrada da Ajinomoto do Brasil.

A companhia substituiu as caldeiras a gás natural por caldeiras de biomassa de cavaco de eucalipto de reflorestamento e bagaço de cana-de-açúcar. O próprio reflorestamento consome o CO2 emitido pela queima do cavaco, por isso se torna uma energia mais limpa. O cavaco é oriundo de reflorestamentos com eucaliptos de várias regiões de São Paulo, enquanto o bagaço provém da moagem de cana para extração da matéria-prima principal dos processos da Ajinomoto.

Na questão da economia de água, a operação brasileira também superou a meta global, de 30%, ao obter no ano passado uma redução de 42% no consumo. Ações básicas, como troca de equipamentos dos sanitários e torneiras nas áreas administrativas e melhorias nas linhas de produção, ajudaram na conquista desse -objetivo. Apesar de a meta global ter sido superada, isso ocorreu considerando-se a média das unidades brasileiras — algumas fábricas ainda não atingiram a meta.

Enquanto avança na área ambiental, a Ajinomoto enfrenta desafios comerciais. A unidade de Pederneiras, no interior de São Paulo, que emprega 110 funcionários e fabricava o aminoácido lisina, encerrou sua produção em julho — uma decisão atribuída pela empresa à reformulação de seus negócios na área de nutrição animal. Os funcionários estão de licença remunerada até dezembro. Depois dessa data, a companhia decidirá os rumos da unidade industrial. Ao que tudo indica, a Ajinomoto terá de aliar a busca constante por sustentabilidade com os desafios mais urgentes do grupo.


UM NEGÓCIO SOCIAL PARA GARANTIR UM DIREITO BÁSICO

A fabricante de bebidas Ambev criou uma nova marca de água mineral cujo lucro é integralmente destinado a ajudar projetos que beneficiem pessoas sem acesso a água potável | Michele Loureiro

Cerca de 35 milhões de brasileiros não têm acesso a água potável — a maior parte vive na região do semiárido. Muitas famílias perdem até 6 horas por dia em busca de água. Como maior fabricante de bebidas do país, a Ambev resolveu olhar mais de perto essa questão. Depois de arrumar a casa — realizou um trabalho de conscientização de seus funcionários e diminuiu em 45% o consumo de água em suas unidades nos últimos 15 anos —, a companhia resolveu fazer mais. Em 2016, criou o Comitê de Especialistas em Segurança Hídrica e, em uma das reuniões, decidiu que iria liderar projetos de acesso a água potável. “Foi então que surgiu a ideia de criar a Ama, uma água mineral cujo lucro é totalmente revertido para projetos de acesso a água de qualidade para quem não tem”, afirma Carla Crippa, diretora de sustentabilidade da Ambev.

A empresa, que não revela valores, fez um investimento inicial para a produção dessa água, em estratégias de marketing e nos três primeiros projetos. A partir daí, a Ama (em língua tupi, é o prefixo de várias palavras que significam “chuva”) passou a ser produzida com o conceito de “negócio social” — o próprio negócio deve gerar recursos para sua viabilização. A Ama chegou ao mercado no Dia Mundial da Água, em 22 de março de 2017.

Vendida em embalagens de 500 mililitros em supermercados, bares e restaurantes em 12 estados, a bebida já gerou um lucro de 2,8 milhões de reais até outubro deste ano. Até agora, 14.500 pessoas em áreas rurais de Piauí, Ceará, Bahia, Paraíba e Pernambuco, em 20 projetos, foram beneficiadas pela Ambev. “Nossa expectativa é chegar até o fim de 2018 com mais de 25.000 pessoas beneficiadas com as vendas de Ama, em 28 projetos”, diz Carla.

Na prática, o trabalho funciona assim: é feito um diagnóstico para entender a causa principal do problema da falta de água em cada comunidade e como ajudá-la. As soluções variam de acordo com o caso e incluem a perfuração de poços profundos para captação de água, placas solares para baratear o custo de distribuição, revitalização de sistemas de distribuição que estavam inoperantes, construção de cisternas em escolas, manejo de hortas e sistemas de reúso.

No próximo ano, o negócio social da Ambev contará com garrafinhas de 300 mililitros, o que deverá ajudar a impulsionar as vendas, aumentar o lucro e, consequentemente, ajudar mais projetos. “O acesso a água é muito mais do que ter água para beber”, diz Carla. “O projeto tem o potencial de transformar a saúde, a educação, as relações sociais e a situação econômica dessas famílias.”


MEDIR O IMPACTO PARA MELHORAR SEMPRE

Dois em cada três produtos que a fabricante de cosméticos L’Oréal lançou ou renovou em 2017 no Brasil são melhores do que os anteriores do ponto de vista social ou ambiental | Judith Mota

Como definir objetivamente o que significa “melhoria” em um tema tão amplo quanto os impactos sociais e ambientais da produção e do consumo? Quais devem ser os focos de atenção para direcionar avanços reais? Durante quase três anos — de 2014 a 2016 —, as equipes de pesquisa, sustentabilidade e embalagens da fabricante de cosméticos L’Oréal trabalharam com especialistas externos para responder a essas perguntas. O resultado é um projeto batizado de Spot (abreviatura em inglês de “ferramenta de otimização de produtos sustentáveis”).

Aplicado a todos os produtos criados ou renovados pela subsidiária brasileira da L’Oréal em 2017, o Spot possibilitou aperfeiçoar o perfil social ou ambiental de 68% deles. Fórmulas mais biodegradáveis, uso de matérias-primas renováveis, parcerias com comunidades produtoras de insumos da biodiversidade e redução da pegada ambiental das embalagens foram algumas das estratégias usadas pela empresa, que tem a meta de estender as melhorias para a totalidade dos lançamentos e renovações a partir de 2020. “O desafio é grande, porque a meta tem um caráter progressivo”, diz Maya Colombani, gerente de sustentabilidade da L’Oréal. “Mesmo depois de chegarmos a 100%, tudo o que colocarmos no mercado terá de ser melhor do que o anterior.”

Com metas e planos definidos para 2020, a L’Oréal avança em três grandes áreas de atuação: cadeia de valor, mudanças climáticas e inclusão social. Já em 2016 a unidade brasileira havia ultrapassado a meta mundial do grupo de diminuir em 60% as emissões de gases causadores do efeito estufa em relação aos níveis de 2005. No ano passado, a redução foi de 71%. A meta, agora, é chegar ao carbono zero: todas as emissões que excederem os patamares de 2005 serão compensadas. O consumo relativo de água nas fábricas e nos centros de distribuição, medido em litros por produto acabado, diminuiu em 40% em relação ao de 2005, enquanto a geração relativa de resíduos (gramas por produto acabado) caiu 30%.

No âmbito social, um dos destaques são as iniciativas de abastecimento solidário. A L’Oréal investe na melhoria das condições de trabalho para apoiar o desenvolvimento de cooperativas e promove a extração sustentável e o comércio justo de insumos da biodiversidade. Em 2017, mais de 400 famílias foram beneficiadas. A próxima etapa do projeto Spot, ainda sem cronograma definido, será compartilhar com o consumidor informações sobre o desempenho dos produtos nos critérios sociais e ambientais avaliados. “A ideia é promover a escolha consciente entre os consumidores”, diz Maya.


CUPUAÇU, AÇAÍ E FLORESTA EM PÉ

Para uma pequena comunidade de produtores da Amazônia, evitar o desmatamento gera uma renda adicional próxima à que obtém com a venda de insumos para a empresa de cosméticos Natura | Judith Mota

O sustento de um grupo de pequenos produtores rurais do distrito de Nova Califórnia, em Rondônia, e de regiões vizinhas no Acre e no Amazonas sempre dependeu de como trabalhar a terra e comercializar a produção. Agora, além do cultivo de espécies como cupuaçu, açaí e andiroba, eles têm uma renda extra para preservar uma área de 5.000 hectares de floresta.

A meta: chegar a 2038 com desmatamento zero. O pagamento é feito pela fabricante de cosméticos Natura e constitui o primeiro projeto de compensação de carbono realizado pela empresa dentro da própria cadeia produtiva. Participam da iniciativa 109 famílias integrantes da cooperativa Reflorestamento Econômico Consorciado Adensado (Reca), que já fornecia óleos e manteigas para a produção de cremes e sabonetes.

Nos primeiros quatro anos de trabalho — de 2013 a 2017 —, a taxa de desmatamento nas 126 propriedades participantes foi metade da registrada na região e resultou no pagamento de 1,7 milhão de reais. O valor é próximo do movimentado pela empresa na compra dos insumos fornecidos pela Reca no período (2 milhões de reais). Metade dos recursos foi repassada diretamente aos produtores, considerando a participação proporcional de cada um na preservação, comprovada em monitoramento anual com imagens aéreas captadas por drones e satélite. A outra metade foi para um fundo coletivo da cooperativa para uso em projetos que beneficiem toda a região. Em 2018, os pagamentos passaram a ser anuais, sempre combinando a remuneração individual e a coletiva. “O reconhecimento do grupo ajuda na conscientização e pode engajar mais pessoas no esforço para melhorar o desempenho de todos”, diz Kevyan Macedo, gerente de sustentabilidade da Natura.

A escolha da Reca para participar da iniciativa-piloto teve vários motivos. Um deles é o histórico de relacionamento com a cooperativa, que fornece insumos da biodiversidade à linha de produtos Ekos desde 2001. A produção adota o modelo de sistemas agroflorestais, que combina árvores de diferentes ciclos de crescimento e culturas agrícolas, com impactos positivos na recuperação de áreas degradadas. Além disso, os produtores atuam numa região onde a exploração madeireira e a demanda por novas áreas de pastagem ou cultivo de soja exercem forte pressão pelo desmatamento. Frear a derrubada das árvores exige uma ação contínua e um esforço concentrado, proposta bem alinhada com os planos da Natura para a gestão do relacionamento com as comunidades produtoras.


QUANDO TIRAR ZERO É A GRANDE OBSESSÃO

Depois de eliminar o uso de energia elétrica de fontes não renováveis, a suíça Nestlé quer zerar o descarte de resíduos e reduzir significativamente as emissões de carbono | Michele Loureiro

Enquanto muitas empresas se preocupam apenas com o aumento de suas cifras nos balanços, a Nestlé, fabricante suíça de alimentos, mira também o número zero — ou algo perto disso — em vários temas ligados à sustentabilidade. Com 20.000 funcionários no Brasil, a companhia tem um plano ambicioso de zerar o descarte de resíduos, eliminar o uso de energia elétrica de fontes não renováveis e reduzir expressivamente as emissões de CO2.

Um dos objetivos já foi alcançado. Desde novembro de 2017, 100% da energia elétrica usada em unidades fabris, sedes administrativas e centros de distribuição no país vem de fontes renováveis, como eólica, solar, de biomassa e hidrelétrica. O Brasil é a primeira operação da Nestlé no mundo a atingir essa marca. Além disso, a empresa aboliu o uso de óleo como fonte energética. Com isso, evitou a emissão de 50.000 toneladas de CO2 no ano passado. As 31 unidades da Nestlé no -país consomem energia equivalente à demanda de uma cidade de 90.000 habitantes. Para reduzir os impactos, nos últimos dez anos a companhia investiu na diversificação de sua matriz energética, buscando fontes renováveis e limpas. “Migramos todas as nossas unidades para o mercado livre e contratamos energia elétrica de fontes 100% renováveis”, diz Gilberto Tonim, gerente corporativo de energias e utilidades da Nestlé.

A questão energética é crucial para a Nestlé, e a diversificação das fontes é a principal estratégia. A empresa foi uma das pioneiras no uso de biomassa para produção de energia no país — usa a fonte desde 1983, com a Floresta de Mirabela, unidade em Minas Gerais que representa um estoque de carbono de 290 000 toneladas. Outro exemplo é o modelo de geração de vapor na unidade de Araras, no interior paulista, onde o processo produtivo é alimentado por biomassa proveniente da borra de café. “A borra de café substitui o combustível fóssil”, diz Tonim.

Cumprida a meta de 100% da energia proveniente de fontes renováveis, a Nestlé do Brasil mira agora a redução das emissões e dos resíduos. A meta é diminuir 20% as emissões de CO2 por tonelada de produto fabricado até 2020, em relação aos níveis de 2011. Para isso, a empresa planeja ações de modernização tecnológica, mudança de processos e melhorias no uso de energia. Além disso, quer zerar o envio de resíduos a aterros até 2020 — recuperação energética, reciclagem e compostagem são algumas das alternativas para dar novos usos a materiais que antes eram descartados ou incinerados. No Brasil, a meta de zero resíduo já foi atingida em cinco fábricas da Nestlé.


CAÇA AO DESPERDÍCIO NAS LINHAS DE PRODUÇÃO

Com reutilização de materiais, compostagem e aproveitamento energético, a fabricante de bens de consumo P&G evita o envio de resíduos do processo produtivo a aterros sanitários | Judith Mota

Nenhuma fábrica da americana P&G no Brasil envia a aterros os resíduos da fabricação. Tudo o que entra no processo de produção se transforma em produto ou é reutilizado no local. O que não pode ser usado vai para reciclagem ou para ser reaproveitado por parceiros, passa por compostagem ou então vira insumo na geração de energia. A classificação “aterro zero”, alcançada no Brasil em 2016, é realidade em 80% das fábricas da empresa de bens de consumo em todo o mundo e uma meta a ser alcançada pelas demais até 2020. Chegar a esse patamar dependerá de estratégias coordenadas em todas as etapas da produção, começando pelo esforço de gerar cada vez menos resíduos.

Na fábrica em Louveira, no interior de São Paulo, a caça ao desperdício faz parte da rotina. “Há uma visão clara de que somos consumidores de recursos e que precisamos agir com responsabilidade”, diz Abraham Jose Sosa, coordenador de sustentabilidade na fábrica. A revisão periódica dos processos impulsiona ganhos de eficiência ano a ano. No ciclo 2017/2018, para cada tonelada de produto fabricado, foram gerados 87 quilos de resíduos, uma redução de pouco mais de 5% em relação ao ciclo 2015/2016.

Esses 87 quilos têm diferentes destinações, dependendo da natureza e da condição do material. A fábrica de Manaus firmou parcerias com empresas da região para evitar o desperdício. O resíduo de óleo mineral e sintético passa por novo processo de refino e volta ao ciclo produtivo; os restos de alimentos da cozinha e do restaurante da fábrica viram matéria-prima de ração animal; a madeira de paletes é incinerada em uma caldeira de produção de vapor de um parceiro fabricante de embalagens plásticas. No estado do Rio de Janeiro, as fábricas da P&G destinam papel, plástico e metal para reciclagem, o lixo orgânico vira adubo e toda a incineração de lixo comum envolve reaproveitamento energético. Além disso, há pesquisas para identificar novas destinações para os resíduos que ainda não estão sendo aproveitados, como alguns gerados na fabricação de creme dental e até o lodo da estação de tratamento de efluentes.

A visão global de sustentabilidade da P&G envolve ações em quatro âmbitos: produtos e marcas, cadeia de fornecimento, empregados e sociedade. Os objetivos foram definidos com a participação da liderança e integram um compromisso de melhorias a serem alcançadas até 2030. Em Louveira, uma conquista recente foi o aumento do reúso de água. No final de 2017, começou a operar um novo equipamento que purifica a água antes de devolvê-la ao processo produtivo.


AVANÇOS LOCAIS PARA ATINGIR METAS GLOBAIS

A Unilever já cumpriu 80% das metas de seu plano global de sustentabilidade até 2030. E a operação brasileira ganha destaque com várias iniciativas para reduzir as emissões de carbono e a geração de resíduos | Michele Loureiro

O plano de sustentabilidade da Unilever, líder em produtos alimentícios, de limpeza doméstica e de cuidados pessoais, tem metas grandiosas. A companhia quer tomar iniciativas para melhorar a saúde e o bem-estar de mais de 1 bilhão de pessoas no mundo até 2020, garantir que 100% de suas embalagens plásticas sejam reutilizáveis, recicláveis ou compostáveis até 2025 e reduzir à metade o impacto ambiental de seus produtos até 2030. Lançado em 2010, o plano já cumpriu 80% desses compromissos. Na receita global de quase 54 bilhões de euros do ano passado, o destaque foram as chamadas “marcas com propósito”, que tiveram crescimento 46% superior- ao do restante do negócio e responderam por 70% do crescimento da companhia. Além de contribuir para causas que beneficiem a sociedade, a sustentabilidade significa mais negócios para a Unilever.

Com centenas de operações no mundo, cada uma das peças precisa dar sua contribuição. E a operação brasileira tem feito sua parte. Um exemplo é a fábrica de Pouso Alegre, em Minas Gerais. A unidade, que fabrica produtos de linhas como Arisco, Hellmann’s e Knorr e emprega 700 pessoas, tornou-se uma “fábrica carbono zero” no ano passado — foi a 11a unidade a atingir essa condição no mundo e a primeira nas Américas. Nos últimos cinco anos, várias iniciativas contribuíram para esse resultado, como a instalação de uma nova caldeira de biomassa no lugar de caldeiras de combustíveis fósseis, o que diminuiu em 90% as emissões de CO2, a substituição de todas as empilhadeiras a gás pelas movidas a energia elétrica e a instalação de painéis solares para suprir as necessidades do restaurante. Além disso, 100% da energia elétrica passou a ser proveniente de fontes renováveis.

Para obter esses números, foi essencial engajar os funcionários. “Eles se sentiram responsáveis por fazer as mudanças necessárias, o que muitas vezes envolvia a quebra de paradigmas, como cozinhar para 700 pessoas sem usar fogo”, diz Fernando Fernandez, presidente da Unilever Brasil. Depois do pioneirismo da unidade mineira, a fábrica de Goiânia também se transformou em carbono zero.

Aos poucos, o Brasil se torna um dos destaques da Unilever quando o assunto é sustentabilidade. O país já abriga fábricas com emissão zero, enquanto globalmente a empresa diminuiu em 47% a geração de CO2 pelo consumo de energia. No mundo, a Unilever reduziu 98% da geração de resíduos, enquanto por aqui as fábricas não enviam mais resíduos a aterros sanitários. A operação brasileira da Unilever tem sido um exemplo, mas ainda há muito trabalho pela frente.


FABRICANDO MAIS COM MENOS RECURSOS

Na fabricante de móveis Zanzini, a palavra de ordem é a busca de eficiência nos processos. E os resultados aparecem: em um ano, a produção da empresa cresceu 22%, mas o consumo de energia diminuiu 10% | Judith Mota

A Zanzini, fabricante de móveis de madeira, vem buscando aprimorar seus processos para reduzir os impactos ambientais na produção. Os principais focos são energia e materiais. Do primeiro semestre de 2017 ao mesmo período de 2018, a produção cresceu 22% e, mesmo assim, a empresa conseguiu diminuir em 10% o consumo de energia. Para chegar a esse resultado, as equipes replanejaram o fluxo de produção e a divisão de tarefas em turnos. As ações concentradas reduziram o tempo de funcionamento das máquinas e deram mais velocidade ao trabalho. O monitoramento do uso de energia também entrou na rotina da equipe. “Acompanhamos de perto o indicador — quilo de móvel produzido por quilowatt-hora de energia consumida — para melhorar continuamente”, afirma Denise Zanzini Torrano, diretora de gestão. Toda a eletricidade vem de fontes renováveis.

No que se refere ao consumo de materiais, a Zanzini faz uma revisão constante dos processos para reduzir o desperdício do principal insumo — os painéis de madeira — e assegurar o uso racional das diferentes espessuras oferecidas por seus fornecedores. O compromisso com a economia se estende aos materiais acessórios. A Zanzini conseguiu diminuir em 14% o consumo de plástico stretch, que embala os móveis prontos, e em 27% o uso de fita adesiva no travamento das peças durante o transporte entre as diversas etapas de produção dentro da fábrica. Além disso, a Zanzini mudou o sistema de registro e emissão de formulários de controle interno e vendas, diminuindo em 61% o consumo de papel. “Pode parecer apenas um detalhe, mas no conjunto essas ações trazem um impacto grande, tanto financeiro quanto no meio ambiente”, diz Denise.

A Zanzini tem um histórico de quase duas décadas de ações sustentáveis. A produção é certificada pela norma ISO 14 001, de gestão ambiental, e a empresa compra painéis de madeira de fornecedores que possuem o selo FSC, de manejo ambiental. O sistema de gerenciamento de resíduos assegura a correta destinação dos principais materiais que sobram do processo: o pó de serra é incinerado para gerar energia, e os solventes são encaminhados para reaproveitamento por empresas especializadas.

Sediada em Dois Córregos, no interior paulista, a empresa tem também um papel importante para a comunidade local. Com o programa Reciclo, implantado em 2001, coleta anualmente 20% do material reciclável do município. Os recursos da venda do material são aplicados em ações de educação ambiental e no financiamento de bolsas de estudo para funcionários.

Acompanhe tudo sobre:AjinomotoAmbevBoticárioL'OréalNaturaNestléP&G (Procter & Gamble)SustentabilidadeUnilever

Mais de Revista Exame

Aprenda a receber convidados com muito estilo

"Conseguimos equilibrar sustentabilidade e preço", diz CEO da Riachuelo

Direto do forno: as novidades na cena gastronômica

A festa antes da festa: escolha os looks certos para o Réveillon