Equipe da Tencent (Flickr/EXAME.com)
Da Redação
Publicado em 18 de fevereiro de 2011 às 11h39.
A maior empresa de internet do mundo em valor de mercado é o Google, avaliado em 169 bilhões de dólares. Em segundo lugar vem a Amazon, com 70 bilhões. Ambas são nomes conhecidos e admirados mundo afora. Da terceira colocada, porém, pouca gente ouviu falar. Bem, pouca gente fora da China. A Tencent, que vale 40 bilhões de dólares na bolsa de Hong Kong, pode ser uma ilustre desconhecida fora de seu país de origem, mas é uma mania entre os jovens chineses. E sua história de sucesso é exemplar sobre o jeito chinês de fazer negócios. A Tencent nasceu como um serviço para facilitar o envio de mensagens de texto (o nome é uma referência ao preço de um SMS na China - 10 centavos), mas logo revelou um talento inato para copiar modelos de sucesso no exterior - mas sempre com adaptações para agradar à população local. São empresas como a Tencent que fazem da China, com seus 470 milhões de usuários, um mercado bastante difícil para os gigantes da internet no resto do mundo - mas Ma Huateng, o empreendedor da foto acima, não está muito preocupado com isso.
Ma, um cientista da computação de 39 anos de idade, fundou a Tencent em 1998 com um grupo de amigos. Ele era funcionário de uma empresa de telecomunicações nacional e decidiu largar o emprego depois de assistir a uma apresentação dos criadores do ICQ. Na época, o ICQ e as mensagens instantâneas eram uma novidade e uma das febres da internet. Não havia nada parecido na China. Ma decidiu "inspirar-se" na ideia e lançou o OICQ (de Open ICQ). Em apenas nove meses, seu serviço alcançou 1 milhão de usuários. "Com tantos consumidores, e com a ajuda do governo, não foi difícil crescer tão rápido", diz Will Hodgman, vice-presidente executivo na Ásia da empresa americana de pesquisas em internet comScore. Depois de uma disputa legal com a AOL, que comprou o ICQ, Ma mudou o nome de seu comunicador para QQ. O serviço tem atualmente 600 milhões de chineses cadastrados (muitos jovens têm diversas contas).
"Quando você é uma empresa pequena, tem de olhar sobre o ombro dos gigantes para crescer, não só copiando, mas localizando a criação", afirma Ma, numa referência à famosa frase de Isaac Newton. Isso ele sabe fazer como poucos. Com a enorme base de clientes de seu comunicador, Ma começou a copiar outros negócios. Ele tem o TenPay, um sistema de pagamentos online similar ao americano PayPal. Lançou o mecanismo de busca Soso.com, que replica o Google, e a rede social QZone, que emula o Facebook e a rede sul-coreana Cyworld. Mas reproduzir, ainda que com adaptações, o que deu certo em outros países não é suficiente para manter uma empresa viva. O que Ma Huateng consegue fazer como poucos é tirar dinheiro - ou monetizar, como é moda dizer no mundo das empresas da internet - dos seus usuários. "Talvez essa seja a grande especialidade da empresa", diz Cristiano Laux, da empresa de pesquisas em tecnologia Pyramid Research. A Tencent foi uma das pioneiras na venda de itens virtuais para que os usuários customizassem seus avatares. No ano passado, a empresa faturou 1,8 bilhão de dólares (um salto de 74% em relação ao ano anterior). A maior parte dessa receita veio desse tipo de transação de bens que, a rigor, não existem.
Apesar do faturamento bilionário, as vendas da Tencent ainda são muito inferiores às do site de comércio eletrônico eBay ou às do portal Yahoo!. O que explica a enorme diferença de valor de mercado a favor da Tencent é o grande potencial do mercado chinês. Os 850 milhões de celulares atuais devem chegar a 1,17 bilhão nos próximos quatro anos. Os 470 milhões de usuários de banda larga devem passar de 750 milhões nesse mesmo período. Os jogos online, que hoje movimentam 5 bilhões de dólares na China, devem dobrar em quatro anos. A Tencent está preparada como poucas empresas para crescer junto com a internet chinesa. Depois de vender 46,5% de seu capital ao grupo sul-africano Naspers em 2001, a Tencent fez uma das maiores ofertas públicas iniciais de ações da bolsa chinesa, em 2004.
O dinheiro, porém, não vai ser usado apenas para crescer dentro de casa. Em abril deste ano, a Tencent pagou 300 milhões de dólares para adquirir 10% da Digital Sky Technologies. A DST, de origem russa, é outra empresa de pouca fama: opera essencialmente em seu país de origem e no Leste Europeu. Mas a DST é dona de 1,9% do Facebook, um investimento pelo qual pagou 200 milhões de dólares em maio do ano passado. Também tem participação na Zynga, dona de jogos online famosos, como o Farmville. Não passou despercebida a ironia de a Tencent tornar-se sócia, ainda que indiretamente, de duas empresas que copiou. Para quem é virtualmente desconhecido além de suas fronteiras, porém, pode não restar outra alternativa para tentar ganhar o resto do mundo. "Eles sabem que é difícil uma expansão internacional levando apenas a identidade chinesa", diz Laux, da Pyramid Research. Segundo ele, entrando como investidora, a Tencent tem a possibilidade de aprender com empresas ocidentais e garantir presença em áreas de rápido crescimento. É por isso que notícias como a da aquisição da DST devem ser mais comuns nos próximos meses. "A estratégia vai fazer a empresa ser mais conhecida fora da China por profissionais da indústria de internet do que por consumidores", diz Duncan Clark, presidente do conselho da BDA, empresa especializada em pesquisas em tecnologia, telecomunicações e internet para o mercado chinês. É por isso que, apesar da discrição do presidente da Tencent, seu desafio de manter-se longe dos holofotes é cada vez maior. A Tencent está se tornando uma empresa global. Tornar-se um nome conhecido vai ser apenas uma questão de tempo.