Albert Einstein, em São Paulo: das 89 soluções de IA desenvolvidas, 60 fazem parte do dia a dia do hospital (Egberto Nogueira/imãfotogaleria/Divulgação)
Repórter
Publicado em 15 de agosto de 2024 às 06h00.
“Gerações” exemplifica uma das inúmeras possibilidades de uso da IA generativa pelas empresas. “Quando essa tecnologia surgiu, a Volkswagen decidiu que só iria utilizá-la se houvesse conexão direta com os negócios”, lembra Fernando de Andrade, gerente-executivo de tech foundation da montadora. “Em seguida, mapeamos todas as áreas que poderiam fazer uso dela”. As linhas de produção, por exemplo, passaram a ser monitoradas por câmeras que estão nas mãos da IA. Caso ela identifique algum defeito de fabricação, o processo é interrompido até a correção do problema.
Para muitas empresas, a adesão à IA generativa virou a ordem do dia. Segundo um levantamento da Bain & Company, 72% dos executivos de companhias brasileiras enxergam a tecnologia como prioritária para os investimentos de 2024. Só 9% dos respondentes, por outro lado, disseram que suas empresas já fazem uso de uma automação ou outra de maneira disseminada. “A IA generativa é uma alavanca para a produtividade e para a lucratividade”, afirma Lucas Brossi, head de advanced analytics da consultoria. “As companhias precisam agora priorizar usos mais simples para dar os primeiros passos e depois evoluir, aproveitando todos os benefícios dessa inovação.”
O Albert Einstein já testou e ajudou a desenvolver 89 soluções de IA — 60 já fazem parte do dia a dia do hospital. A agenda do centro cirúrgico, por exemplo, passou a ser organizada com a ajuda de uma automação. Ela indica qual é o melhor horário, sala, equipe e o tempo de cirurgia para cada paciente, permitindo o agendamento de pelo menos quatro cirurgias a mais por dia. “É possível afirmar que a medicina personalizada e a genômica não seriam o que são hoje sem a IA”, diz Sidney Klajner, presidente do Einstein. “Mas o poder de decisão continua com os médicos, agora apoiados por novas ferramentas.” Saiba mais, a seguir, como o hospital e grandes empresas, dos mais diversos setores, estão fazendo bom proveito da IA.
Avanços logísticos
Para a Mondeléz, dona de marcas como Belvita e Lacta, uma das maiores dores de cabeça é se deparar com grandes pedidos emergenciais — feitos, por exemplo, por supermercados que não deram a devida atenção ao próprio estoque. Trata-se de um problema que sobrecarrega tanto as linhas de produção como o departamento de entrega. Para resolver o problema, a multinacional desenvolveu o Lenses. Gerido por IA, esse sistema melhora a logística de toda a companhia ao fazer a predição das vendas de cada distribuidor. A solução já se debruça sobre 40% dos clientes e a meta é chegar a 100% até dezembro.
Automação inteligente
Com mais de 100 anos de atuação no Brasil, a Nestlé mantém 14 fábricas no Brasil que somam 300 linhas de produção — a operação verde-amarela é a terceira da multinacional que mais vende, atrás da chinesa e da americana. Desde que a divisão brasileira passou a usar IA para gerir suas linhas de produção, a produtividade delas aumentou 7% e as paradas não planejadas diminuíram 30%. O sistema que passou a ser utilizado, afinal, é capaz de detectar qual é o melhor momento para interromper a operação de determinada linha de produção para limpeza, por exemplo, entre outras intervenções do tipo.
IA na palma da mão
O Galaxy AI, o conjunto de ferramentas de inteligência artificial da Samsung, foi lançado em janeiro deste ano. De lá para cá, as facilidades disponíveis foram utilizadas por mais de 100 milhões de dispositivos — a meta é chegar a 200 milhões até o final de 2024. Um dos recursos mais comentados do Galaxy AI é o “circule para pesquisar”. Basta circular qualquer nome ou imagem na tela do seu smartphone — pode ser com o dedo ou com a caneta S Pen — para o browser apontar todos os resultados relacionados. O Galaxy Z Flip6 é um dos dispositivos equipados com o conjunto de ferramentas de IA, que poderão deixar de ser gratuitas em 2025.
Automação no dia a dia
Determinada a fazer com que a IA seja utilizada pelos consumidores diariamente, a HP já a incorporou em diversos lançamentos. Seu mais recente laptop é o HP OmniBook Ultra de 14 polegadas. Dispõe de recursos como ajuste automático de iluminação da câmera, ideal para aprimorar chamadas de vídeo. Outra facilidade para reuniões online é a eliminação de ruídos de fundo e a melhoria de voz — tudo de maneira automática. Já as novas impressoras da marca sugerem para os usuários quais são os layouts mais indicados e até recomendam alterações de títulos.
Manobra sustentável
Determinada a só produzir e comercializar carros elétricos de 2030 em diante — e a liderar o segmento premium da categoria —, a Volvo recorre à inteligência artificial para tornar seu dia a dia mais sustentável. A tecnologia passou a ser utilizada para reduzir as emissões de CO2 e os custos relacionados ao transporte de peças automotivas — muitas delas costumam chegar de avião. Incorporada ao sistema de planejamento de recursos empresariais da montadora sueca, a IA reduziu o volume de carga aérea em 50% — ao mesmo tempo que aumentou o número de peças expedidas em 25%, o que se deve à otimização de espaço dos carregamentos.
Adeus, manual do veículo
Para a Volkswagen, o manual do veículo já ombreia com o afogador e o quebra-vento, entre outras inovações da indústria automotiva que ficaram no passado. A montadora substituiu o manual por um aplicativo que está sendo aprimorado pela IA generativa. Basta perguntar a ele o que você quiser a respeito do seu carro que a resposta aparece na hora. E o questionamento também pode ser feito por imagem em conjunto com perguntas escritas ou por áudio — a solução ideal para descobrir o significado daquele sinal que acendeu no painel. Mensalmente, o aplicativo registra mais de 25.000 interações com os clientes.
Análise de crédito mais eficiente
É no segmento de Banking as a Service (BaaS) que o BMP atua, permitindo que empresas de diferentes segmentos ofereçam serviços financeiros para os clientes delas. Para agilizar a análise de crédito, a fintech passou essa tarefa para as mãos da inteligência artificial. Ela constatou, por exemplo, que a maioria dos estabelecimentos comerciais de pequeno e médio porte tem dificuldades para pagar parcelas de empréstimos cobrados mensalmente. A solução encontrada: debitar um pequeno percentual todo dia. Com isso, o índice de liberação de crédito para empresas do tipo subiu de 42% para 53%.
Fôlego para a área jurídica
Nem todo mundo sabe disso, mas os bancos precisam dar conta de uma enxurrada de ofícios relacionados a demandas jurídicas. Referem-se, por exemplo, ao bloqueio de determinada conta por decisão de algum juiz. Para facilitar a vida do seu departamento jurídico, o Banco Inter encomendou uma automação à Stefanini. Hoje, quem se encarrega da leitura e da resposta dos ofícios é a IA, fazendo com que os advogados da instituição financeira se concentrem em tarefas mais estratégicas. Resultado: o tempo gasto com a resolução de demandas jurídicas caiu 75,56% e a quantidade de vezes que as respostas precisam ser refeitas, por culpa de imprecisões, diminuiu 45%.
IA em prol do bem-estar
O Paxlovid, medicamento da Pfizer para a covid-19, deixa claro o que a inteligência artificial pode fazer pela indústria farmacêutica. Em resumo, essa tecnologia ajuda no entendimento das linguagens biológicas que governam a regulação e a função dos quase 30.000 genes que compõem o genoma humano. Com ajuda da IA, a farmacêutica americana avaliou milhões de componentes químicos até desenvolver a Nirmatrelvir, uma das moléculas que fazem parte do Paxlovid. Sem a automação, calcula a Pfizer, ela teria levado um tempo entre 80% e 90% maior para concluir os estudos necessários.
Doutor algoritmo
No Albert Einstein, a IA é tida como uma grande aliada para auxiliar nos tratamentos. O hospital passou a fazer uso, por exemplo, da ferramenta desenvolvida pela startup RapidAI. Trata-se de uma solução, gerida por algoritmos, para identificar AVC, sangramentos e tromboembolismo pulmonar com base em imagens de tomografia computadorizada. Em 2023, a ferramenta ajudou a equipe do Einstein a tomar decisões mais assertivas em relação a mais de mil casos. Outra inovação dotada de IA que passou a fazer parte do dia a dia é capaz de identificar problemas como pneumonia pneumotórax e nódulos a partir de radiografias. No ano passado, ela contribuiu com o processamento de mais de 20.000 imagens.
Atendimento hi-tech
A IA da IBM conecta profissionais de TI e saúde, desde cientistas de dados até médicos e enfermeiros, para tornar o atendimento aos pacientes mais hi-tech. Um exemplo é o Oncofoco, exame do Grupo Fleury que usa IA para analisar 72 genes relacionados a tumores, cruzando informações com estudos clínicos globais. Em minutos, o algoritmo gera um relatório detalhado, sugerindo possíveis tratamentos e medicações. Na Mayo Clinic, nos Estados Unidos, a tecnologia analisa dados de pacientes para identificar aqueles aptos a participar de pesquisas clínicas. Em 18 meses, os “matches” aumentaram em 84%, acelerando a publicação de resultados.
Manutenção preditiva
Até pouco tempo atrás, a Rhodia, uma empresa do grupo Solvay, não tinha outra escolha que não interromper a operação de sua fábrica, a cada cinco anos, por 45 dias. Só assim para inspecionar os reatores, que equivalem a prédios de dez andares. Cada interrupção se traduzia em um prejuízo de 2 milhões a 3 milhões de euros. Dois anos atrás, porém, as pausas foram abolidas. Isso porque a manutenção preventiva deu lugar à preditiva — quem a comanda é uma IA que se vale de sensores instalados na fábrica de cima a baixo. Com isso, os custos com manutenção diminuíram 20%.
Mais segurança e novos produtos
Em ambientes industriais, nem todo funcionário dá a devida atenção aos EPIs, os equipamentos de proteção individual. Nas fábricas da Basf, quem desrespeita as normas de segurança é imediatamente denunciado por um sistema de monitoramento que faz uso de câmeras e é gerido por inteligência artificial. Ela também tem ajudado a companhia no desenvolvimento de novos ingredientes para cosméticos. É o caso do PeptAIde, peptídeo vegano criado com a ajuda da IA. Obtido da proteína do arroz orgânico, previne o ressecamento da pele e restaura as fibras capilares, entre outros benefícios.
Na direção do crescimento
A Vero, que se fundiu à Americanet no ano passado, é a quinta maior operadora de banda larga fixa do país em número de assinantes. Ela deve boa parte de seu crescimento recente à Crystal Ball. Trata-se de uma plataforma, desenvolvida em parceria com a Stefanini, que faz uso de IA para mapear quais cidades, entre as que não estão no portfólio da Vero, oferecem melhores oportunidades para a expansão orgânica. Hoje em dia, a companhia marca presença em 420 cidades e contabiliza mais de 1,3 milhão de clientes — eram 977.000 em 2022.
Data centers automatizados
De origem francesa, a Schneider Electric é especializada em gestão de energia e automação. Das diversas soluções que oferece, as que envolvem os data centers explicam boa parte da fama da companhia. E exemplificam como ela está fazendo uso da IA. Dotados dessa tecnologia, os softwares da Schneider Electric que fazem a gestão de data centers se antecipam com precisão às demandas sazonais. Tudo para assegurar recursos adequados para enfrentar picos de demanda e evitar desperdícios durante períodos de baixa atividade. E a IA ainda está à frente do sistema de resfriamento, o que resulta em maior eficiência e redução dos custos operacionais.
Inovação antiapagões
Para a Neoenergia, o uso de IA abriu caminho para um sistema chamado de self-healing. Falamos da tecnologia por trás dos religadores automáticos das redes elétricas. Em caso de suspensões provocadas por defeitos temporários — motivadas, por exemplo, por galhos que caíram sobre a fiação, sem ocasionar maiores danos —, o sistema é capaz de restabelecer o fornecimento em até 60 segundos. Caso seja preciso redirecionar os endereços afetados para outras redes, ele também se encarrega disso. Graças ao self-healing, a concessionária reverteu 550 interrupções no Distrito Federal no ano passado.
Inovação em campo
A cada safra, estima-se, os agricultores são obrigados a tomar, entre o início do plantio e o fim da colheita, mais de 40 decisões. Muitos se baseiam na própria intuição ou no que deu certo no passado — o que, em razão das mudanças provocadas pelo aquecimento global, é cada vez menos recomendado. Daí as vantagens do Climate FieldView, desenvolvido pela divisão agrícola da Bayer, que faturou, globalmente, 23,2 bilhões de euros no ano passado. Com base na ciência de dados e o apoio da inteligência artificial, a plataforma ajuda as lideranças desse ramo a tomar decisões mais assertivas.