De onde menos se espera: não será do ministério de Dilma que sairão as ideias e as obras de que o Brasil tanto precisa (Roberto Stuckert Filho/PR)
Da Redação
Publicado em 27 de fevereiro de 2014 às 18h56.
São Paulo - Na sua primeira viagem a davos, para o grande evento internacional feito anualmente entre chefes de Estado, comandantes das maiores empresas do mundo, prêmios Nobel e daí para cima, a presidente Dilma Rousseff teve mais uma oportunidade de desvendar, para benefício do mundo (e dos brasileiros), o que passa por sua cabeça, neste momento, a respeito da seguinte questão: afinal, ela já chegou ou não, após três anos de governo, a alguma conclusão sobre o que pretende fazer com a economia? E, caso tenha chegado, pretende fazer o quê?
Respostas com um mínimo de clareza e objetividade talvez sejam mais úteis do que se pensa. Sim, o país já cansou de dar atenção ou crédito a qualquer coisa que venha desse pesqueiro.
Mas, na vida como ela é, o fato é que Dilma tem ainda um ano inteiro de mandato pela frente e, possivelmente, mais quatro a partir de 2015 — se o marqueteiro-mor João Santana, o homem mais competente do governo nos últimos anos, acertar de novo a mão na embalagem da candidata, e se o Tesouro Nacional investir na campanha as somas de dinheiro espantosas das quais se fala por aí.
Junte a isso a força de seu padroeiro, o ex-presidente Lula — e o resultado é uma concorrente difícil de ser batida em qualquer circunstância, como vêm indicando as pesquisas. Mais cinco anos seguidos de Dilma, então? É um monte de tempo, pensando bem.
Naturalmente, isso se saberá com certeza na hora adequada, mas a presidente daria desde já uma bela ajuda a todo mundo se conseguisse enfim explicar, de forma compreensível, coerente e realista, o que quer. É só isso: o que ela quer?
Não tem sido fácil, por mais que se preste atenção nas falas de Dilma, descobrir a lógica, a qualidade e a eficácia de suas decisões. Na verdade, a presidente não chega a ter propriamente uma política econômica — tem, no lugar onde deveria haver um projeto, uma mistura de desejos, crenças e opiniões a respeito de como a economia precisaria estar funcionando no Brasil e no mundo.
Não é uma caminhada em linha reta. Seu pensamento vive embaralhado por números inúteis, fé em teorias de fracasso comprovado e uma enorme dificuldade de executar as próprias decisões — nada ou quase nada do que manda fazer é feito, levado a sério ou possível de ser executado na vida prática.
Parte disso é causada por algo simples e ao mesmo tempo triste: a falta de ideias e a resistência da presidente a estudar, ou sequer a considerar, qualquer ideia que não combine com as suas.
É curioso: pela lei da oferta e procura, a Presidência da República deveria estar com fome e sede de ideias novas, produto em falta extrema em seu ambiente. Mas acontece o contrário: é um desses casos em que a escassez gera escassez.
A questão é agravada, é claro, pela opção da presidente em formar e manter há três anos um dos piores ministérios que o Brasil jamais teve. Não será daí, é óbvio, que sairão as ideias criativas, as transformações e as obras das quais o Brasil tanto precisa.
O lendário comunicador americano David Ogilvy tinha um conselho-chave para todo indivíduo encarregado de administrar alguma coisa: se formarmos uma equipe com pessoas maiores do que nós, seremos uma empresa de gigantes. Dilma faz exatamente o contrário.
Por questões de insegurança, cercou-se sempre de gente menor do que ela, jamais admitiu um ministro com capacidade para discutir qualquer de suas decisões e decidiu que a principal virtude de um colaborador é a mediocridade; pessoas assim concordam com tudo e nunca dão trabalho. Em compensação, nunca produzem nada de útil. O resultado é que a presidente formou um ministério de pigmeus.
Mais cinco anos assim? É bom estar preparado para tudo.