Loja em Belo Horizonte: o aquecimento da economia deverá pressionar pouco a inflação | Flávio Tavares/Hoje em Dia/Futura Press /
Da Redação
Publicado em 6 de dezembro de 2018 às 05h50.
Última atualização em 6 de dezembro de 2018 às 05h50.
O termo “renda fixa” deve voltar a fazer sentido. Depois de um 2018 de muita volatilidade até para esses investimentos de menor risco, os analistas acreditam que haverá mais estabilidade em 2019, em razão do fim da incerteza eleitoral. Os juros de longo prazo, que haviam subido em meio às dúvidas sobre quem ganharia a eleição, recuaram. Alguns especialistas acham que o Banco Central — que deverá ser presidido pelo economista Roberto Campos Neto no novo governo — nem precisará elevar os juros em 2019. Para eles, se o governo avançar na agenda de reformas, o real valorizará e haverá menos pressão sobre os preços.
A maioria dos analistas, porém, prevê um pequeno aumento da taxa básica de juro da economia, a Selic — de 6,5% para cerca de 8% ao final de 2019 —, porque a expectativa é que a inflação suba um pouco com o maior crescimento do PIB. Ainda assim, será uma taxa baixa. Isso é ótimo para o país. Mas, para o investidor, significa que será mais difícil ganhar dinheiro.
Para saber o que vale a pena agora entre as aplicações de renda fixa, EXAME consultou dez gestores de fundos e analistas. De forma geral, eles recomendam diversificar e correr mais riscos. É bom lembrar que uma parcela do patrimônio deve ser aplicada em fundos DI e outros investimentos conservadores, que podem ser resgatados rapidamente em situações de emergência. “Também é importante ter dinheiro em caixa para aproveitar as oportunidades que surgem”, diz Rodrigo Menon, sócio da gestora financeira Arbitral. As recomendações a seguir valem para o restante da carteira, a ser aplicado em renda fixa. Veja as opções mais indicadas pelos entrevistados.
O rendimento desses papéis — que determinam hoje o retorno que será pago no futuro — caiu, mas continua interessante, na opinião dos especialistas ouvidos por EXAME. A rentabilidade varia de 8% a 10%, dependendo do prazo de vencimento, que vai de 2021 a 2029. Quanto maior o prazo, maior o retorno oferecido, mas também maior o risco, porque é mais difícil prever o que poderá acontecer. Se a taxa de juro voltar a subir, o investidor ficará preso a um papel com retorno mais baixo do que a própria Selic. “O rendimento mais elevado compensa o risco de alongar o prazo da aplicação”, diz Paulo Clini, diretor de investimentos da gestora Western Asset.
Para Claudio Sanches, diretor de produtos de investimento e previdência do banco Itaú, se ocorrer o esperado e o governo avançar na agenda de reformas, a rentabilidade dos papéis prefixados deverá cair ao longo de 2019. “Estamos mal-acostumados porque as taxas, no passado, eram muito altas. O retorno atual vale a pena, é o momento de aproveitar”, diz Sanches. Antes de decidir qual título comprar, é importante considerar que apenas quem mantiver o papel até o vencimento receberá o rendimento prometido na hora da compra. Se precisar resgatar antes, o investidor ficará sujeito às condições de mercado e poderá perder dinheiro.
Exemplo de rentabilidade: 10% ao ano, no caso de um título que vença em 2025.
Risco: baixo.
A previsão média dos economistas é que a inflação se mantenha controlada em 2019, em torno de 4% ao ano, dentro da meta oficial. Com o desemprego ainda alto e as empresas com capacidade ociosa, a análise é que há espaço para a economia crescer sem pressão sobre os preços. Mas, se algo não sair como o esperado — por exemplo, o novo governo não conseguir aprovar reformas —, o real poderá desvalorizar e a inflação subir. Os títulos públicos atrelados à inflação funcionam como proteção nesse cenário. Além disso, o rendimento oferecido, de 4,5% a 5% ao ano, além da variação do IPCA, dependendo do prazo de vencimento, é considerado bom. “O investidor não perderá se o país avançar, e também conseguirá se proteger”, diz Evandro Buccini, economista-chefe da gestora Rio Bravo. Para receber a rentabilidade determinada na hora da compra, também é preciso manter os papéis até o vencimento, que varia de 2024 a 2050.
Exemplo de rentabilidade: 5% ao ano, acima da inflação, no caso de um título que vença em 2035.
Risco: baixo.
Para quem está disposto a correr mais riscos e abrir mão de liquidez, é possível conseguir retornos maiores do que os dos títulos públicos aplicando em papéis emitidos por bancos de menor porte. Quem investir 10 000 reais em um CDB prefixado com vencimento em 2021, por exemplo, conseguirá retorno de 11% ao ano (os papéis públicos de prazo semelhante pagam menos de 8%). Para vender os CDBs antes do vencimento, porém, é preciso abrir mão de parte do rendimento, porque esse mercado não tem liquidez (no caso dos títulos públicos, é possível fazer resgates toda semana). Além disso, existe o risco de o banco passar por dificuldades financeiras. Por isso, a recomendação é aplicar até 250 000 reais por CPF por instituição — até esse limite, o Fundo Garantidor de Créditos devolverá o dinheiro do investidor se houver problemas.
Exemplo de rentabilidade: 11% ao ano, no caso de um CDB que vença em 2021.
Risco: médio.
O mercado de crédito corporativo tende a se tornar mais acessível em 2019. Com o aquecimento da economia, mais empresas deverão emitir papéis de dívida, como debêntures, Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs) e Certificados de Recebíveis Agrícolas (CRAs). Os rendimentos estão entre os maiores da renda fixa, junto com os CDBs de bancos pequenos e médios. É possível conseguir um retorno real (acima da inflação) de 6% ao ano aplicando 1.500 reais em debêntures ligadas a projetos de infraestrutura — que ainda são isentas de imposto de renda (CRIs e CRAs também são isentos).
O retorno é mais alto porque o risco de calote é maior — diferentemente dos CDBs e títulos emitidos por bancos, os papéis corporativos não contam com a proteção do FGC. Se o investidor topar correr o risco, a recomendação é escolher papéis de empresas sólidas — e diversificar. “Nunca coloque mais de 3% do patrimônio numa mesma companhia”, diz Michael Viriato, coordenador do laboratório de finanças da escola de negócios Insper. Uma alternativa de risco mais baixo são os fundos de crédito privado, administrados por gestores especializados, que fazem uma seleção profissional dos papéis e diversificam as carteiras. Os fundos que aplicam em debêntures incentivadas, CRIs e CRAs são isentos de imposto de renda.
Exemplo de rentabilidade: 6% ao ano, no caso de uma debênture de infraestrutura, que ainda é isenta de imposto de renda.
Risco: alto.