Alexandre Sarnes Negrão, presidente da Aeris Energy: fabricação de 3.000 pás eólicas por ano no Ceará (Leandro Fonseca/Exame)
Da Redação
Publicado em 16 de agosto de 2018 às 11h20.
Última atualização em 23 de novembro de 2018 às 19h55.
Para tirar proveito dos ventos favoráveis do Ceará — estado com maior potencial de geração de energia eólica do Brasil —, um grupo de executivos oriundos da Embraer decidiu fundar em 2010 uma fábrica de pás para aerogeradores, a Aeris Energy, perto de Fortaleza. A ideia era atender parques eólicos da região e se beneficiar da proximidade do Porto do Pecém para embarcar os equipamentos para outros estados e ao exterior. O projeto despertou interesse do empresário Alexandre Funari Negrão, que, um ano antes, havia feito fortuna ao vender o laboratório Medley para a francesa Sanofi por 1,5 bilhão de reais.
Ainda em 2010, Negrão injetou capital no negócio e se tornou sócio majoritário da Aeris. “Depois da venda da Medley, nossa família buscava oportunidade de investimento que tivesse conexão com os setores elétrico e de infraestrutura”, diz Alexandre Sarnes Negrão (conhecido como Xandinho, pois o apelido do pai é Xandy), presidente da Aeris desde agosto do ano passado. “O que chamou a atenção foi a possibilidade de produzir energia limpa, atividade que já contava naquela época com amplo apoio no mundo inteiro.” Negrão é casado com a atriz global Marina Ruy Barbosa e concilia a administração da Aeris com o automobilismo — assim como o pai, ele é piloto de uma das equipes que disputam o campeonato brasileiro de Endurance, uma competição de resistência ao volante.
Por enquanto, Xandy e Xandinho não têm do que reclamar. Em 2017, a Aeris faturou quase 210 milhões de dólares, um crescimento de 45% em relação ao ano anterior. O lucro foi de 15 milhões de dólares, e isso significou um retorno de 41% sobre o patrimônio. A fábrica no complexo industrial de Pecém produz 3 000 pás eólicas por ano. Hoje, a principal preocupação de Negrão e seus sócios é reduzir os custos. No ano passado, uma força–tarefa de gestores da empresa recebeu ordem para cortar os custos de produção sem prejuízo da qualidade. As matérias–primas — como fibra de vidro, fibra de carbono, resina e tinta — somam 80% do custo da pá eólica.
A gestão correta dos resíduos passou a ser uma das metas da Aeris. Na impossibilidade de reaproveitamento, os materiais são vendidos para terceiros, gerando receita extra e evitando o gasto com o descarte. O foco da Aeris na redução de dispêndios se justifica pelas características do mercado de energia eólica. “No modelo de leilão adotado no Brasil, os agentes geradores pressionam toda a cadeia de energia eólica a reduzir custos, já que ganha a concorrência quem oferecer o menor preço”, diz Elbia Gannoum, presidente executiva da Associação Brasileira de Energia Eólica.
Com as medidas adotadas, a Aeris aumentou a margem de vendas de 6,9% em 2016 para 7,2% no ano passado. Além da preocupação com o corte dos custos, a Aeris tem adotado a estratégia de trabalhar apenas com contratos de longo prazo — de três a cinco anos —, renovados com um ano de antecedência. O cliente precisa comprar uma quantidade mínima de pás para que o vínculo contratual seja fechado ou renovado. “Esse modelo possibilita termos uma previsão de resultados financeiros de médio a longo prazo”, diz Negrão. Segundo ele, o contrato de longa duração é imprescindível porque a pá eólica é fabricada de acordo com as especificações de cada cliente. O modelo de pá desenvolvido para a GE é diferente do fabricado para a WEG ou para a Acciona, três clientes atuais. “Os gastos com a compra de materiais, com a adaptação do maquinário e com o treinamento dos funcionários devem ser sustentados por um compromisso longo”, diz Negrão. O vento não pode parar.