Revista Exame

Cocriação: a conexão entre o humano e a IA

Apesar de eficiente, a IA generativa não substitui a criatividade humana

Cyberpunk: Peach John: primeiro mangá japonês totalmente desenhado por IA com a ajuda de ferramentas como o Dall-E 2 (Philip Fong/Getty Images)

Cyberpunk: Peach John: primeiro mangá japonês totalmente desenhado por IA com a ajuda de ferramentas como o Dall-E 2 (Philip Fong/Getty Images)

Publicado em 29 de abril de 2024 às 06h00.

A cada ano, novas tecnologias prometem transformações sísmicas em diversos setores. Se em 2022 o foco estava no metaverso, agora a inteligência artificial emerge como protagonista. A previsão de que, até 2026, 90% do conteúdo online possa ser gerado por IA destaca o papel ainda maior que essa tecnologia terá em nossa vida. Com um mercado estimado para ultrapassar trilhões de dólares, é evidente que ele moldará significativamente o cenário econômico global, remodelando os universos da criação, produção e consumo de conteúdo. Da música à moda, da arte às narrativas de marca, a IA está emergindo como uma ferramenta poderosa, impulsionando a inovação e desafiando os conceitos tradicionais de criatividade. No centro desse fenômeno está a noção de cocriação: a colaboração entre humanos e máquinas para gerar resultados que transcendam as capacidades individuais.

Entre os principais propulsores mapea­dos pela WGSN a ganhar força, a criatividade sintética se tornará uma ferramenta poderosa. Nos próximos anos, as ferramentas de IA serão usadas para ampliar a imaginação. Além de tornarem a criatividade mais acessível, elas vão expandir as possibilidades. Desde a geração de imagens a partir de prompts até a criação de novas histórias, a IA tem a capacidade de explorar territórios inimagináveis, expandir os limites da imaginação e aumentar a velocidade da criação. Ferramentas como o Dall-E 2, da OpenAI, permitem que artistas e marcas visualizem novas possibilidades de maneira prática e eficaz. Outra aplicação interessante que vem sendo explorada através dessa tecnologia é a colaboração dos consumidores com marcas como forma de engajamento. Em meio a um período de atenção escassa, ferramentas como o BrandLab e a Boomy na criação de música democratizam o processo de criação musical, permitindo a usuários de todos os níveis de habilidade participarem ativamente na produção de novas faixas.

Porém, apesar de abrir novas oportunidades, o movimento levanta questões éticas sobre o futuro do trabalho criativo e a originalidade das criações. Artistas e criadores enfrentam desafios legais relacionados à propriedade intelectual. Exemplos como o da empresa de mídia Buzzfeed, que substituiu parte de sua equipe pelo ChatGPT, destaca tanto o potencial quanto os dilemas éticos dessa nova era da criação. Questões sobre propriedade intelectual, direitos autorais e autenticidade estão se tornando cada vez mais presentes. Afinal, o que é autenticidade dentro do universo da criatividade sintética, uma vez que a máquina se alimenta de outras criações para fazer a sua?

Enquanto a IA generativa oferece eficiência e escala, ela não substitui completamente a criatividade humana, exigindo uma colaboração entre humanos e máquinas para alcançar resultados verdadeiramente inovadores. À medida que exploramos as possibilidades da inteligência artificial, é fundamental considerar não apenas suas aplicações práticas mas também as implicações éticas e sociais de seu uso.

Desde 2017, a WGSN Insight acompanha de perto a ascensão da era da pós-verdade, onde os fatos muitas vezes são considerados irrelevantes e as evidências são deixadas de lado. Durante esse período, a desinformação crônica (narrativas falsas) e as narrativas deliberadamente falsas projetadas para espalhar medo, pânico ou indignação em grande escala começaram a se espalhar online. À medida que os usuários de IA se tornarem mais omnipresentes nos meios de comunicação social e na cultura, a definição da verdade poderá se tornar um grande problema, com implicações em escala mundial. Isso ocorre porque decifrar o real do falso nunca foi tão difícil como nos tempos atuais (35% dos americanos não conseguem determinar fotos reais a partir de imagens de IA).

A criatividade respaldada pela tecnologia vai confundir a linha entre realidade e fantasia, além de fornecer novos recursos para solução de problemas. E, por isso, o futuro da criatividade — e o impacto possível dessa cocriação no mundo dos negócios — está nas mãos dos líderes visionários. Ao adotarem uma abordagem colaborativa e ética para a criação com IA, precisarão estar dispostos a considerar uma visão em torno da intenção por trás do uso das novas tecnologias. É nossa obrigação, além de estimular a cocriação entre tecnologia e humanos, atuar como defensores da verdade e da transparência em tempos disruptivos; afinal, tecnologia é meio, e não fim. 

Acompanhe tudo sobre:exame-ceo

Mais de Revista Exame

Linho, leve e solto: confira itens essenciais para preparar a mala para o verão

Trump de volta: o que o mundo e o Brasil podem esperar do 2º mandato dele?

Uma meta para 2025

Ano novo, ciclo novo. Mesmo