Jogadores do Fluminense em campo: o campeão brasileiro de 2012 é um dos mais endividados (Daryan Dornelles/EXAME.com)
Da Redação
Publicado em 31 de janeiro de 2013 às 10h04.
São Paulo - O futebol brasileiro tem aproveitado — ao menos dentro do campo — a estabilidade da economia e a valorização da moeda nacional nos últimos anos. Desde 2007, quando o país foi escolhido como sede da Copa de 2014, os clubes brasileiros deixaram de vender jogadores em massa para o futebol internacional.
O que era impensável há alguns anos tem sido possível agora, como manter um ídolo como Neymar, repatriar Ronaldinho Gaúcho e Luís Fabiano e contratar estrangeiros como o uruguaio Forlán. Isso ocorre porque os times brasileiros nunca tiveram tanto dinheiro em caixa. A receita dos maiores clubes do país cresceu 35% em quatro anos, e a previsão é que ultrapasse 3 bilhões de reais em 2012.
A má notícia é que, apesar do crescimento recorde das receitas, as dívidas têm aumentado ainda mais (veja quadro). Se os clubes brasileiros fossem empresas, a maioria estaria à beira da falência. “Para compensar a queda na venda de jogadores, os clubes correram atrás de dinheiro novo, aumentando sua receita com direito de TV, patrocínio e licenciamento de produtos”, diz o consultor Amir Somoggi, especializado em marketing e gestão esportiva. “Mas os clubes não estão sabendo gerir esse aumento da receita.”
Um exemplo de sucesso dentro do campo — e mau desempenho fora dele — é o Fluminense, que venceu dois dos últimos três campeonatos brasileiros. Sustentado por um patrocinador há mais de uma década — a operadora de plano de saúde Unimed Rio de Janeiro —, o clube não adotou uma gestão profissional.
A Unimed é uma espécie de mecenas do time: compra jogadores, paga os salários e assume as principais despesas do futebol. Em um estudo recente, o banco Itaú BBA classificou como “caixa preta” as finanças do Fluminense, pela dificuldade de avaliar seus números e sua relação com a Unimed. Em 2011, o Fluminense encerrou com a segunda maior dívida entre os times brasileiros, atrás apenas do Botafogo.
Sair do enrosco financeiro em que os clubes se meteram não é tarefa fácil mesmo para administradores com experiência no mundo corporativo. É o que descobriu a nova diretoria do Flamengo, eleita no início de dezembro. O novo presidente, Eduardo Bandeira de Mello, é um executivo de carreira do BNDES, onde trabalha há 25 anos. Antes das eleições, Bandeira e sua equipe, que conta com Carlos Langoni, ex-presidente do Banco Central, imaginavam que bastaria aplicar um choque de gestão no Flamengo.
O que encontraram, porém, foi um clube que precisa entrar em recuperação judicial. Apenas 8 milhões dos 78 milhões de reais que o time deveria receber como direito de televisão em 2013 estão disponíveis. O restante já foi gasto para pagar dívidas. “A situação atual exige muita criatividade, e a Copa do Mundo poderia servir de catalisador de mudanças no Flamengo e nos demais clubes brasileiros”, diz Bandeira.
Um bom exemplo de país que soube capitalizar a Copa para fortalecer os clubes é a Alemanha. Para sediar a Copa de 2006, o país investiu 1 bilhão de euros na ampliação e na modernização dos estádios. Os clubes aproveitaram o aumento do conforto e da capacidade das arenas para atrair mais torcedores e fechar contratos de patrocínio mais lucrativos.
A média de público no campeonato alemão subiu de 38 000 para 42 000 torcedores por jogo — no campeonato brasileiro, são menos de 15 000 por jogo. Em cinco anos, o faturamento dos clubes alemães cresceu 30%, atingindo 2 bilhões de euros em 2011. Mas de nada adianta o aumento das receitas se não houver um controle dos gastos.
Na Alemanha, a folha de salários representa de 45% a 50% das receitas — ante 60% a 70% em outros países europeus. Os clubes são obrigados a publicar seus balanços de forma transparente. Quem não estiver com as contas em dia pode ser excluído dos campeonatos.
Inspirada no modelo alemão, a Uefa, entidade que dirige o futebol europeu, lançou em 2010 um programa chamado Jogo Limpo nas Finanças, que prevê punições para clubes que gastarem mais do que arrecadam — a ideia é evitar que se endividem para formar grandes times. Os clubes têm cinco anos para se ajustar às novas regras. Depois disso, quem gastar mais do que fatura pode ser impedido de participar de campeonatos continentais. Se a medida der certo, será um bom exemplo para os clubes brasileiros.