Vanzak e Schmidt, da Desinchá: negócios ligados ao bem-estar (Germano Lüders/Exame)
Karin Salomão
Publicado em 20 de junho de 2019 às 05h34.
Última atualização em 28 de junho de 2019 às 11h27.
Não é todo dia que se acha uma startup com crescimento acelerado que faz um produto milenar: chá. É a Desinchá, marca de chás naturais fundada em 2015 pelos administradores Eduardo Vanzak e Lohran Schmidt em Belo Horizonte. Presente em 18.000 pontos de venda e com 200.000 caixas de chá vendidas mensalmente, a startup cresce 20% ao mês e fatura estimados 6 milhões de reais a cada 30 dias (números não confirmados). O plano é usar o bom momento e entrar em novas frentes relacionadas a saúde e bem-estar. A Desinchá lançou novos sabores de bebidas, investiu no segmento de beleza, abriu lojas próprias, desenvolveu uma plataforma de conteúdo e acelerou a expansão internacional. “Nunca quisemos ser só uma fabricante de chá”, diz Vanzak. “Nossa meta é ser a maior marca de lifestyle do mundo”, afirma Schmidt.
A companhia se permite sonhar grande graças a uma bem azeitada estratégia de marketing digital. Tudo começou com o bom humor do trocadilho no nome. Influenciadores digitais, como Gabriela Pugliesi e Bruna Marquezine, estão entre os fãs da marca. A Desinchá tem 1,1 milhão de seguidores no Instagram, o mesmo número que a Coca-Cola no Brasil. O negócio de chás foi escolhido a dedo por ser pulverizado e servir como porta de entrada para um mercado muito maior, o de produtos naturais.
Sem experiência no mercado de alimentos, os empreendedores arregimentaram nutricionistas e amigos degustadores para chegar a uma receita ao mesmo tempo funcional e gostosa, com oito ingredientes: chá-verde, carqueja, mate-verde, hortelã, gengibre, guaraná, sálvia e alecrim. A rigor, não tem nada de mais. Mas é um sucesso. A produção foi terceirizada para três fabricantes de chás, e Vanzak e Schmidt concentraram-se no marketing e no comercial.
O mercado brasileiro de chás é pequeno, mas cresceu 25% nos últimos cinco anos. Para estimular o consumo, a Desinchá busca criar o hábito nos consumidores. Por isso as caixas são grandes, com 60 sachês cada uma (e caras: cada caixa custa 86 reais). As vendas podem ser em pontos físicos ou online, num site próprio, e há a possibilidade de uma assinatura mensal. A marca também é vendida nos Estados Unidos, pela Amazon.
No Brasil, uma das primeiras lojas a vender o Desinchá foi a Mundo Verde, rede especializada em produtos naturais e orgânicos. “A categoria de chás mudou depois da Desinchá. Surgiram outras marcas e criamos até uma linha própria”, diz Leonardo Lima, diretor comercial da Mundo Verde. Segundo ele, cerca de dois terços das vendas de chá na rede são da Desinchá. Uma das frentes de crescimento são as lojas próprias. A Desinchá tem um ponto na Rua Oscar Freire e um quiosque no Shopping Iguatemi, além de uma loja multimarcas nos Jardins, todos pontos nobres de São Paulo. O plano é chegar a dez unidades próprias até o fim do ano. Os sócios estudam abrir neste ano uma clínica para nutricionistas que funcionaria no modelo de franquia.
Mas a ambição da dupla de empreendedores não coube num saquinho. A empresa criou, recentemente, a holding Novu para liderar a expansão e vem lançando novidades a toque de caixa. Começou pelo Desinchá Noite, parecido com o original, mas sem estimulantes como o guaraná. Depois veio o Evolution Coffee, bebida solúvel que acelera o metabolismo para ser consumida antes de exercícios físicos.
A maior aposta está no segmento de beleza, com a Desinchá Beauty. A meta é lançar até 27 produtos, entre maquiagens e perfumes. Os produtos de beleza serão orgânicos, veganos e sem testes com animais. Vanzak e Schmidt acreditam que há muita sinergia entre bebidas e cosméticos. Cerca de metade dos milhares de pontos de venda que já vendem os chás poderá oferecer também os cosméticos. E, claro, há centenas de influenciadores digitais de beleza para impulsionar a divulgação. A Desinchá Beauty, recém-lançada, já tem 869.000 seguidores no Instagram.
A diversificação não para por aí. A empresa lançou a Desinchá Academy, chamada pelos sócios de “Netflix do estilo de vida”. É uma plataforma de conteúdo sobre exercícios e receitas saudáveis, por 29,90 reais por mês. Um próximo negócio será criar e gerir marcas de cosméticos para personalidades. “As novidades aumentam o engajamento do consumidor”, diz José Carlos Semenzato, presidente da holding de franquias SMZTO. “Mas é preciso tomar cuidado com as modas de consumo. Engajamento nas redes sociais não significa, necessariamente, recorrência de compra.” Assim como o chá, a expansão também tem dose certa.