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Carol Dweck defende em livro a importância de valorizar o esforço

Em livro recém-lançado no Brasil, pioneira no estudo sobre o desenvolvimento pessoal fala sobre como colocar a mentalidade a nosso favor

Carol Dweck: para a pesquisadora, é importante 
ter uma mentalidade voltada para o aperfeiçoamento

Carol Dweck: para a pesquisadora, é importante ter uma mentalidade voltada para o aperfeiçoamento

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Da Redação

Publicado em 8 de fevereiro de 2017 às 05h55.

Última atualização em 8 de fevereiro de 2017 às 07h40.

São Paulo – Carol Dweck, pioneira no estudo sobre o desenvolvimento pessoal e a personalidade, defende em livro a importância de valorizar o esforço. Leia um trecho inédito de Mindset, recém-lançado no Brasil:

"Quando eu era uma jovem pesquisadora em início de carreira, aconteceu algo que mudou minha vida. Eu era obcecada pela ideia de compreender como as pessoas lidam com fracassos, e resolvi estudar esse tema observando como os estudantes enfrentavam problemas difíceis. Assim, levei várias crianças, uma de cada vez, a uma sala na escola delas, onde as deixei ficar à vontade com uma série de quebra-cabeças para resolver. Os primeiros eram bastante fáceis, mas os seguintes iam ficando mais difíceis. Enquanto as crianças resmungavam, suavam e se esforçavam, eu observava as estratégias delas e investigava o que pensavam e sentiam. Esperava encontrar diferenças no modo como elas enfrentavam as dificuldades, mas percebi uma coisa que jamais havia imaginado.

Diante dos quebra-cabeças mais difíceis, um menino de 10 anos puxou a cadeira para mais perto, esfregou as mãos e exclamou: ‘Adoro um desafio!’ Outro, lutando com os quebra-cabeças, ergueu os olhos com uma expressão satisfeita e disse, com ar de autoridade: ‘Sabe, eu já esperava aprender alguma coisa com isso!’ ‘O que há de errado com eles?’, pensei.  Sempre havia achado que uma pessoa ou sabia lidar com o fracasso, ou não sabia. Nunca imaginara que alguém pudesse gostar de errar e falhar. Essas crianças seriam excepcionais ou teriam encontrado alguma coisa nova?

Todos temos um exemplo a seguir, alguém que nos indicou o caminho num momento crítico da vida. Aquelas crianças se tornaram meus modelos de comportamento. Evidentemente elas sabiam algo que eu desconhecia, e eu estava decidida a descobrir o que era — a entender o tipo de mentalidade (ou o mindset) capaz de transformar o fracasso em um dom.

O que sabiam as crianças? Elas sabiam que as qualidades humanas e as habilidades intelectuais podem ser cultivadas por meio do esforço. E era isso que estavam fazendo — tornando-se mais inteligentes. Não apenas o fracasso não as desestimulava, como elas nem sequer imaginavam que estivessem fracassando. Achavam que estavam aprendendo. Eu, por outro lado, achava que as qualidades humanas eram esculpidas em pedra. Ou você era inteligente ou não era, e o fracasso significava que não era. Simples assim. A pessoa que conseguisse planejar os êxitos e evitar os fracassos (a qualquer custo) continuaria sendo inteligente. Os esforços, os erros e a perseverança não faziam parte desse panorama.

No entanto, quais são as consequências de imaginar que a inteligência ou a personalidade são características que podemos desenvolver, em vez de ser algo fixo, um traço profundamente arraigado? Minhas pesquisas ao longo de 20 anos demonstraram que a opinião que você adota a respeito de si mesmo afeta profundamente a maneira pela qual leva sua vida. Ela pode decidir se você se tornará a pessoa que deseja ser e se realizará o que é importante para você. Como acontece isso? Como pode uma simples crença ter o poder de transformar a vida?

Acreditar que suas qualidades são imutáveis — o que eu chamo de um mindset fixo — cria a necessidade constante de provar a si mesmo seu valor. Se você tem uma quantidade determinada de inteligência, uma personalidade e um caráter moral específicos, nesse caso terá de provar a si mesmo que essas doses são positivas. Não lhe agradaria parecer ou sentir-se deficiente quanto a características pessoais tão fundamentais.

Alguns de nós aprendemos a adotar o mindset fixo desde a infância. Ainda criança, eu me preocupava em ser inteligente, mas o verdadeiro mindset ficou marcado em mim por causa da senhora Wilson, minha professora da 6a série. Ela achava que os resultados do teste de QI revelavam exatamente quem eram os alunos. Nossas carteiras eram arrumadas em ordem de QI, e só os estudantes de QI mais elevado eram incumbidos de carregar a bandeira, cuidar dos apagadores ou levar um bilhete ao diretor.

Além da ansiedade que a divisão provocava, ela criava também um mindset fixo no qual cada criança da classe tinha um objetivo primordial: parecer inteligente, não boba. Quem poderia se esforçar para aprender, ou achar isso divertido, quando nos sentíamos ameaçados cada vez que a professora nos dava uma prova ou nos fazia uma pergunta na aula?

Já vi inúmeras pessoas que têm o único objetivo de provar a si mesmas — na sala de aula, na profissão e nos relacionamentos. Cada situação exige uma confirmação da inteligência, da personalidade ou do caráter delas. Cada situação é uma avaliação: terei sucesso ou fracassarei? Farei papel de tolo ou me mostrarei inteligente? Serei aceito ou rejeitado? Vou me sentir vencedor ou derrotado?

No entanto, existem outras maneiras de pensar. Há outro mindset no qual as características humanas não são simplesmente como cartas de baralho que você recebe e com as quais tem de conviver — tentando convencer a si mesmo e aos demais que tem um royal flush nas mãos, quando no íntimo você teme ter somente um par de 10. Nesse outro mindset, as cartas recebidas são apenas o ponto de partida do desenvolvimento.

Esse mindset de crescimento se baseia na crença de que você é capaz de cultivar suas qualidades primordiais por meio do esforço. Embora as pessoas possam diferir umas das outras de muitas maneiras — em talentos, aptidões iniciais, interesses ou temperamento —, cada um de nós é capaz de se modificar e se desenvolver por meio do esforço e da experiência.

Será que as pessoas dotadas desse mindset acreditam que qualquer um pode se tornar qualquer coisa? Que qualquer pessoa com a motivação ou com a instrução adequada pode se transformar em um Einstein ou em um Beethoven? Não, mas elas acreditam que o verdadeiro potencial de uma pessoa é desconhecido (e impossível de ser conhecido); que não se pode prever o que alguém é capaz de realizar com anos de paixão, esforço e treinamento.

Para as pessoas que adotam um mind-set de crescimento, a crença de que é possível desenvolver as qualidades desejadas cria uma paixão pelo aprendizado. Por que perder tempo provando a si mesmo suas qualidades se você pode se aperfeiçoar? Por que ocultar as deficiências, em vez de vencê-las? Por que procurar amigos ou parceiros que nada mais farão do que sustentar sua autoestima, em vez de outros que o estimularão efetivamente a crescer?

E por que buscar o que já é sabido e provado, em vez de experiências que o farão se desenvolver? A paixão pela busca do desenvolvimento e por prosseguir nesse caminho, mesmo (e especialmente) quando as coisas não vão bem, é o marco distintivo do mindset de crescimento. É o que permite às pessoas prosperar nos momentos mais desafiadores da vida.

Estabilidade ou desafio?

É evidente que as pessoas de mindset de crescimento prosperam ao ir além dos limites. E como evoluem as pessoas de mindset fixo? Elas progridem quando as coisas estão seguramente ao alcance delas. As pessoas perdem o interesse se as coisas forem muito desafiadoras — por não se sentirem inteligentes nem talentosas.

Observei isso acontecer ao acompanhar alunos do curso básico de medicina durante o primeiro semestre de química. É um curso bastante puxado. A nota média em cada prova é 5, para estudantes que raramente tiravam menos do que 9. A maior parte começou com grande interesse pela química. Mas, ao longo do semestre, algo aconteceu. Os alunos de mindset fixo permaneceram interessados somente enquanto se davam bem. O interesse e o prazer dos que acharam o curso difícil reduziram muito. Não eram capazes de satisfazer-se com um curso que não servia de confirmação para a inteligência deles.

Por falar em desejar ser considerado perfeito, você não se surpreenderá ao saber que isso é muitas vezes chamado de ‘a doença do CEO’. O executivo Lee Iacocca foi um caso desses. Depois do sucesso inicial como chefão da montadora Chrysler nos anos 80, Iacocca continuou a produzir os mesmos modelos de carros, com modificações superficiais.

Infelizmente, eram modelos que ninguém queria mais. Enquanto isso, as concorrentes japonesas estavam repensando qual deveria ser a aparência dos automóveis e como deveriam funcionar. O resultado disso foi que os carros japoneses rapidamente conquistaram o mercado americano.

Os presidentes de empresas se veem constantemente diante de uma escolha. Deveriam enfrentar suas deficiências ou criar um mundo em que não tenham nenhuma? Iacocca escolheu a segunda opção. Cercou-se de adoradores, exilou os críticos e perdeu o contato com o rumo da indústria automobilística. Tornou-se uma pessoa que já não aprendia.

Existe ainda outro dilema enfrentado pelos executivos. Eles podem preferir estratégias de curto prazo que aumentem o valor das ações e façam com que pareçam heróis. Ou podem buscar um aperfeiçoamento de longo prazo, correndo o risco de serem desaprovados por Wall Street ao lançar as bases para um crescimento saudável num tempo mais longo. O executivo Albert Dunlap, que confessava ter um mindset fixo, foi levado à fabricante de eletrodomésticos Sunbeam para reorganizá-la.

Preferiu a estratégia de curto prazo: aparecer como um herói para a bolsa de valores. As ações se valorizaram, mas a firma se esfacelou. Já Lou Gerstner, que afirmava ter um mindset de crescimento, foi chamado para reformular a IBM nos anos 90. Ao dedicar-se à imensa tarefa de mudar a cultura e as políticas da multinacional de tecnologia, os preços das ações estagnaram, e Wall Street torceu o nariz. Ele foi considerado um fracasso. Poucos anos depois, no entanto, a IBM voltou à liderança em seu mercado.

É possível mudar?

À medida que você começa a compreender os mindsets fixo e de crescimento, passa a ver exatamente como uma coisa leva a outra; como a crença de que as qualidades são imutáveis gera diferentes pensamentos e atos. Se você acreditar que é capaz de se aperfeiçoar, estará aberto a informações exatas sobre suas habilidades — ainda que não sejam lisonjeiras — a fim de aprender. No entanto, se quaisquer dados sobre suas preciosas características forem vistos como boas ou más notícias, é quase inevitável que aconteçam distorções. Alguns resultados serão enaltecidos, outros, desprezados, e você acabará sem se conhecer.

Quando adotamos um mindset, ingressamos em um de dois mundos. No primeiro — o das características fixas —, o sucesso consiste em provar que você é inteligente ou talentoso. Afirmar-se. No outro mundo — o das qualidades mutáveis —, ter sucesso é abrir-se para aprender algo novo. Desenvolver-se. No primeiro mundo, o fracasso é encontrar uma adversidade. Tirar uma nota baixa. Perder um torneio. Ser despedido do trabalho. Ser rejeitado. Isso quer dizer que você não é inteligente nem talentoso.

No segundo mundo, o fracasso significa não crescer. Não atingir as coisas a que você dá valor. O que quer dizer que você não está realizando seu potencial. No mundo do mindset fixo, o esforço é ruim. E o fracasso indica que você não é inteligente nem talentoso. Se fosse, não precisaria fazer esforço. No mundo do mindset de crescimento, o esforço é o que torna você inteligente ou talentoso.

Existe escolha. Os mindsets nada mais são do que crenças. São crenças poderosas, mas são apenas algo que está em sua mente, e você pode mudar sua mente. Pense aonde gostaria de ir e qual mindset pode levá-lo até lá.”

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