Marcelo Pimenta: head de agronegócio da Serasa (Serasa/Divulgação)
Repórter de agro e macroeconomia
Publicado em 23 de janeiro de 2025 às 06h00.
A preocupante e ainda localizada onda de recuperações judiciais no agronegócio brasileiro do ano passado pode se intensificar em 2025.
Um levantamento exclusivo da Serasa Experian, realizado para a EXAME, mostra que o endividamento dos agricultores aumentou 1,8 ponto percentual entre o terceiro trimestre de 2021 — início da série histórica — e o terceiro trimestre de 2024, passando de 5,9% para 7,7%.
Segundo Marcelo Pimenta, head de agronegócio da Serasa, nos últimos três anos o setor experimentou um crescimento acelerado, impulsionado pela valorização das commodities durante a pandemia. Muitos produtores reinvestiram seus lucros em terras, ativos e equipamentos, reduzindo sua poupança.
A queda nos preços das commodities e o aumento dos custos de insumos, agravados pela guerra na Ucrânia, reduziram as margens de lucro para níveis inferiores aos do período pré-pandemia.
A situação se intensificou em 2024, com uma crise climática que afetou a produtividade e manteve a pressão sobre os custos. “Com margens comprimidas, muitos produtores não conseguem mais renovar suas dívidas. É raro que eles criem reservas financeiras para enfrentar crises”, diz Pimenta.
Com a provável elevação da taxa Selic a 15% ao ano, como apontado pelo Boletim Focus, do Banco Central, e um dólar valorizado, o acesso ao crédito pelos agricultores tende a ficar mais restrito.
“Com o estoque de dívidas elevado, os bancos dificilmente aumentarão os limites de crédito. Se o produtor conseguir renovar o limite, já será uma grande conquista”, afirma David Télio, diretor de Novas Estruturas Financeiras da TerraMagna. “Mas não é isso que estamos observando.”