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Campo árido: endividamento crescente e risco de recuperação judicial deixam o agronegócio em alerta

O endividamento do produtor rural brasileiro aumenta lenta e consistentemente desde 2021. A alta da Selic e a valorização do dólar podem agravar a situação neste ano

Marcelo Pimenta: head de agronegócio da Serasa (Serasa/Divulgação)

Marcelo Pimenta: head de agronegócio da Serasa (Serasa/Divulgação)

César H. S. Rezende
César H. S. Rezende

Repórter de agro e macroeconomia

Publicado em 23 de janeiro de 2025 às 06h00.

A preocupante e ainda localizada onda de recuperações judiciais no agronegócio brasileiro do ano passado pode se intensificar em 2025.

Um levantamento exclusivo da Serasa Experian, realizado para a EXAME, mostra que o endividamento dos agricultores aumentou 1,8 ponto percentual entre o terceiro trimestre de 2021 — início da série histórica — e o terceiro trimestre de 2024, passando de 5,9% para 7,7%.

Segundo Marcelo Pimenta, head de agronegócio da Serasa, nos últimos três anos o setor experimentou um crescimento acelerado, impulsionado pela valorização das commodities durante a pandemia. Muitos produtores reinvestiram seus lucros em terras, ativos e equipamentos, reduzindo sua poupança.

A queda nos preços das commodities e o aumento dos custos de insumos, agravados pela guerra na Ucrânia, reduziram as margens de lucro para níveis inferiores aos do período pré-pandemia.

A situação se intensificou em 2024, com uma crise climática que afetou a produtividade e manteve a pressão sobre os custos. “Com margens comprimidas, muitos produtores não conseguem mais renovar suas dívidas. É raro que eles criem reservas financeiras para enfrentar crises”, diz Pimenta.

Com a provável elevação da taxa Selic a 15% ao ano, como apontado pelo Boletim Focus, do Banco Central, e um dólar valorizado, o acesso ao crédito pelos agricultores tende a ficar mais restrito.

“Com o estoque de dívidas elevado, os bancos dificilmente aumentarão os limites de crédito. Se o produtor conseguir renovar o limite, já será uma grande conquista”, afirma David Télio, diretor de Novas Estruturas Financeiras da TerraMagna. “Mas não é isso que estamos observando.”

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