Revista Exame

Brasil tem R$ 1,6 trilhão em jogo nas eleições presidenciais

A economia brasileira pode ter um novo ciclo de expansão ou voltar à recessão. A diferença daqui a cinco anos pode ser equivalente ao PIB da Polônia

Palácio do Planalto: o vencedor das eleições presidenciais em 2018 pode conduzir o Brasil a um futuro mais rico ou ao abismo da recessão | Andre Dib/Pulsar Imagens /

Palácio do Planalto: o vencedor das eleições presidenciais em 2018 pode conduzir o Brasil a um futuro mais rico ou ao abismo da recessão | Andre Dib/Pulsar Imagens /

LB

Leo Branco

Publicado em 18 de janeiro de 2018 às 15h01.

Última atualização em 3 de agosto de 2018 às 10h10.

Em 2022, os brasileiros vão comemorar os 200 anos de independência nacional e, se nada mudar no calendário eleitoral até lá, escolher mais uma vez o presidente da República. A economia do país que estará indo às urnas, então, poderá ser bastante diferente da atual — para o bem ou para o mal. Esse destino começará a ser traçado nas eleições de 2018. A depender do nome que sair vencedor nas eleições agora, o Brasil pode trilhar caminhos bem distintos. Numa visão mais otimista, projetada pela consultoria 4E, a retomada da economia ganha força a ponto de ampliar em 23% a soma de riquezas geradas, para 8 trilhões de reais em 2022, em valores atuais. O produto interno bruto cresceria à média de 4,2% ao ano, com a inflação se mantendo estável. Na pior hipótese, o PIB em 2022 seria de 6,4 trilhões de reais — 2% menos do que o atual — com inflação elevada e o câmbio com o dólar em 6,3 reais. A diferença de 1,6 trilhão entre os dois cenários equivale ao PIB da Polônia, 24a economia do mundo, e seria decisiva para conter a trajetória de expansão do endividamento público.

Na melhor hipótese, a dívida estará em 77% do PIB. Na pior, irá para 103%, nível bem superior ao de outros emergentes, como Argentina e México, na casa dos 50% do PIB. Tudo isso deverá afetar o humor dos investidores. Se ele estiver bom, o país deverá receber 101 bilhões de dólares em investimento direto estrangeiro em 2022. Agora, se o mau humor imperar, deverão vir 34 bilhões de dólares a menos. Portanto, é grande a diferença que fará quem vai se instalar no Palácio do Planalto. “A eleição de 2018 será um divisor de águas na trajetória de desenvolvimento do Brasil”, diz o economista Bruno Lavieri, sócio da consultoria 4E.

A importância da eleição de 2018 decorre da quantidade de reformas que ficaram pelo caminho com o enfraquecimento do governo Temer — e que podem mudar o rumo do país no próximo governo. O cenário mais otimista, na visão de dez economistas e cientistas políticos consultados por EXAME, é o de vitória de um candidato que, já durante a campanha eleitoral, se comprometa com a agenda iniciada por Temer. Caso isso se concretize, é possível esperar mudanças a partir de 2019. “As reformas são inadiáveis. Minha esperança é que o próximo governo tenha um mandato claro para tocá-las”, diz a economista Monica de Bolle, do centro de pesquisas Peterson Institute, de Washington. Um exemplo é a retomada de algo próximo ao projeto original das mudanças na Previdência, que previa equiparar as condições para a aposentadoria dos funcionários públicos às do setor privado e economizar 800 bilhões de reais para os cofres públicos em dez anos. Em seguida, na agenda do futuro governo, viriam a retomada das discussões para simplificar o pagamento de impostos — como o projeto de unificação dos tributos federais PIS e Cofins, em discussão no Congresso — e a continuidade de um programa de microrreformas para melhorar o ambiente de negócios, como a ampliação da Lei de Falências.

A probabilidade desse cenário se concretizar, porém, é baixa: 10%. Boa parte dos analistas acredita que o mais provável é um cenário reformista, com 65% de chance, mas sem força política suficiente para a implementação de projetos ambiciosos. “As mudanças viriam mais pela necessidade de ajuste, sobretudo em decorrência da Lei do Teto de Gastos, do que pela convicção dos benefícios que uma agenda reformista traria”, diz Rafael Cortez, analista político da consultoria Tendências. Nesse caso, a economia cresceria à média anual de 3,3%, e o PIB iria para 7,7 trilhões de reais no final de 2022.

No curto prazo, porém, é preciso manter certa cautela em relação à composição do próximo governo. Aqui, as consultorias 4E e Tendências colocam a chance de um governo não reformista entre 25% e 30%, um patamar que não é baixo no barômetro eleitoral. Lá fora, o resultado da eleição é aguardado com ansiedade pelos investidores. “Dada a quantidade de reformas econômicas cruciais que o próximo governo enfrentará, vemos as eleições como o maior risco para os ativos brasileiros”, diz o economista Jeffrey Lamoureux, analista sênior de América Latina da BMI, braço de consultoria da agência de classificação de risco Fitch, em Nova York. Basta lembrar que o ex-presidente Lula (PT), líder nas pesquisas até agora, já declarou a intenção de reverter vitórias do governo Temer, como a Lei do Teto de Gastos e a reforma trabalhista. Para reduzir o temor em relação ao que fará, Lula deverá divulgar em fevereiro uma nova Carta aos Brasileiros, repetindo o gesto que fez para pavimentar o caminho de sua primeira eleição, em 2002. Mas antes ele tem de superar o julgamento marcado para o dia 24 de janeiro sobre crimes revelados na Operação Lava-Jato, uma data decisiva para o andamento das próximas eleições. Outra incógnita, o deputado Jair Bolsonaro (PSL-RJ), segundo colocado nas pesquisas, ainda não disse claramente o que pretende fazer. Mas, primeiro, tem de explicar a evolução de seu patrimônio diante de revelações nos últimos dias.

O risco eleitoral, aliado ao atraso nas reformas prometidas por Temer para o ano passado, já vem minando a confiança dos investidores na economia brasileira — vide o rebaixamento da nota de crédito do país pela agência de risco S&P em 11 de janeiro. Por ora, o efeito da incerteza não afetou o dia a dia dos brasileiros. No dia seguinte ao revés da S&P, a cotação do dólar foi a menor em três meses. Mas, se a eleição de outubro marcar a vitória de uma agenda claramente contrária às mudanças, a perspectiva mudará. A desconfiança sobre a capacidade do governo em frear a escalada de sua dívida provavelmente levará à desvalorização do real e à volta de uma inflação alta nos próximos anos. O índice de preços ao consumidor poderá chegar a 15% em 2022, 5 pontos acima da taxa registrada em 2015, a maior em 13 anos. O mercado de trabalho também deverá sentir os efeitos. De acordo com a consultoria GO Associados, até 2022 o abandono da agenda reformista deverá acrescentar 600 000 desempregados aos atuais 12,7 milhões. No cenário com aprovação das mudanças, o número dos sem-emprego cairia para 7 milhões.

Posto do INSS, em São Paulo: a Previdência deverá continuar no centro de uma agenda reformista no Brasil em 2019 | Fábio Rodrigues Pozzebom/ABr

A discrepância das projeções reflete as inseguranças no longo prazo para boa parte das empresas brasileiras. É o que acontece na paulista Niplan, de montagem e manutenção industrial. Em 2014, antes da crise, seu faturamento beirava 1 bilhão de reais. No ano passado, caiu pela metade. A expectativa positiva, agora, é que as reformas estimulem a competitividade da indústria automobilística, um dos principais clientes da Niplan, e façam o negócio retomar o patamar antigo já em 2020. “Mas, num cenário sem reformas, poderemos ficar estagnados por muito tempo”, diz Nelson Branco Marchetti, presidente da Niplan. A sensação de o país estar dividido entre avançar ou recuar na economia deverá ser a tônica da eleição deste ano. Resta saber se os brasileiros vão escolher em 2018 o caminho que vai conduzir o país a um futuro mais próspero ou vai aprofundar os problemas que já conhecemos. 

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