Revista Exame

Assinar parceria com a ONU é a parte fácil...

A ONU não pode auditar as empresas que dizem seguir seus princípios de responsabilidade corporativa. Mas está tentando forçá-las a ser mais transparentes

Encontro de líderes do Pacto Global: a ONU está menos complacente com o setor privado e proibiu 2 000 empresas de usar seu logotipo azul (Michael Dames/ONU)

Encontro de líderes do Pacto Global: a ONU está menos complacente com o setor privado e proibiu 2 000 empresas de usar seu logotipo azul (Michael Dames/ONU)

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Da Redação

Publicado em 11 de março de 2011 às 06h52.

A partir de agora, as empresas que quiserem alardear que são parceiras das Nações Unidas terão de se esforçar mais. A ONU determinou que, para ser signatárias do Pacto Global — sua iniciativa voltada para o setor privado que preconiza a adoção de princípios de combate à corrupção e de defesa dos direitos humanos, das condições de trabalho e do meio ambiente —, elas terão de enviar à entidade um relatório detalhado das ações que vêm realizando nessas áreas.

Esse documento terá de conter informações suficientes para que as companhias consigam se adequar, no mínimo, ao que a ONU batizou de signatária ativa. Empresas mais ambiciosas no relato de suas políticas podem ganhar o carimbo de signatárias avançadas. Mas o que a ONU quer mesmo com essa medida é reduzir o número de corporações que assinam o pacto e passam a usar seu logo azul em troca de nada.

Daqui para a frente, segundo os representantes da entidade, quem não conseguir entregar um relatório decente terá um ano para se adequar, ou nada feito. O Pacto Global foi lançado em 2000 pelo então presidente da ONU, Kofi Annan. Seu objetivo era estreitar a relação da organização com o setor privado e motivá-lo a se envolver com as principais causas que ela defende. No final de 2010, 6 232 empresas, de cerca de 130 países, faziam parte do pacto.

O Brasil tem a quarta maior rede do mundo, com 373 signatárias. Tais números grandiosos, porém, representavam pouco em matéria de ação. A comunicação das práticas era deficiente. E a única reprimenda que as empresas relapsas em relação ao compromisso com o Pacto Global sofriam era a classificação como “inativas”. Em 2008, a ONU passou a expulsar associadas. No último dia 20 de janeiro, a organização divulgou o nome de 2 048 empresas que foram excluídas desde então — 72 delas brasileiras. Começaram então a circular rumores de que havia equívocos na lista dos excluídos.

Entre as companhias brasileiras expulsas está a Samarco Mineração, empresa que cultiva uma boa imagem no campo da responsabilidade corporativa e que aderiu ao Pacto Global em 2002. O que justificaria a reprimenda? Segundo a ONU, no passado a Samarco teria sido relapsa ao comunicar seus avanços. No início de 2008, foi expulsa. Em outubro do mesmo ano, voltou a aderir ao pacto e, desde então, sua atuação tem sido aprovada.

“É pertinente discutir se essa lista deveria ter apenas quem foi excluído e nunca voltou”, diz Matthias Stausberg, porta-voz do Pacto Global. “Mas, por enquanto, decidimos tratá-la como um documento histórico que registra todas as expulsões.” Outra brasileira na lista negra da ONU é a Suzano Petroquímica. A companhia foi vendida para a Petrobras em 2007 e deixou de existir, mas ninguém se preocupou em comunicar o fato à entidade.

Episódios como esse poderiam ter sido evitados se o comitê do pacto no Brasil, que reúne 32 empresas e entidades, estivesse mantendo um relacionamento próximo com o escritório da iniciativa em Nova York. No último ano, porém, tudo que esse grupo fez foi conversar sobre uma mudança em seu modelo de atuação no Brasil.

A discussão culminou com a eleição de uma nova presidência, formada por Petrobras, CPFL, Braskem, Itaipu e Nutrimental. Agora, o objetivo desse time é fazer com que o Pacto Global volte a ganhar importância no país — o que significaria ir muito além do aumento do número de signatárias. “Deveríamos  participar de todas as discussões relevantes sobre os temas do pacto no Brasil”, diz o executivo de uma das  empresas do comitê. “Foi tudo o que não aconteceu nos últimos anos.”

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