Fábrica da Nissan no Paraná: atrair e manter pessoal qualificado é um desafio só comparável ao de gerar lucro (Germano Lüders/EXAME.com)
Da Redação
Publicado em 7 de fevereiro de 2013 às 07h11.
São Paulo - Executivos são pagos para encontrar respostas para problemas. Só para isso. Não vale reclamar das instabilidades do mercado, da rapidez cada vez maior com que os cenários mudam, das transformações que as novas tecnologias provocam ou dos novos hábitos dos consumidores. Ou se aceita a missão — e se tira prazer dela, acreditando que há um sentido e um propósito — ou é melhor arrumar outro trabalho. Instabilidade é a nova regra, aqui e em qualquer lugar do mundo.
Mas tenhamos alguma consideração extra para com os homens e as mulheres que hoje tocam as empresas do país. Para empresários e executivos, o Brasil — este lugar cheio de oportunidades, este mercado de 40 milhões de novos consumidores de renda média, esta nação emergente — é um dos mais difíceis e perigosos campos de prova do mundo civilizado.
Assim como acontece lá fora, somos perigosamente pressionados para entregar resultados de curto prazo, para manter a relevância de nossas empresas e produtos, para aumentar a produtividade do pessoal ao mesmo tempo que preservamos o “clima organizacional”, para entender a nova geração de consumidores, para delegar sem perder o controle, para equilibrar vida pessoal e carreira.
Já é muita coisa com que se preocupar. Mas nós, brasileiros, temos ainda a nossa própria lista de problemas 100% nacionais para administrar. (E, ainda assim, estamos entre os mais otimistas do mundo em relação ao futuro.)
No Brasil de 2013, nenhum desses obstáculos criados por nós mesmos parece tão grande quanto a crônica falta de trabalhadores educados e preparados para sustentar nossas expectativas de crescimento. Nos últimos anos, o Brasil aproximou-se de um cenário de pleno emprego.
Não tanto pelas taxas de crescimento — maiores em alguns anos, decepcionantes em outros —, mas muito pela baixíssima produtividade e qualificação de nossa mão de obra. Uma recente reportagem de EXAME mostra que, por uma conjunção de fatores que vão das fraquezas institucionais a um sistema educacional miseravelmente ruim em termos de qualidade, cinco trabalhadores brasileiros produzem o mesmo que um único americano.
Do ponto de vista individual, o pleno emprego oferece algum conforto material e emocional, sobretudo num mundo onde há quase 200 milhões de pessoas sem trabalho, número que deve crescer nos próximos anos, segundo o último relatório da OIT. Para quem produz, é sinal de que, enquanto a situação perdurar, haverá consumidores com dinheiro para comprar seus produtos e serviços.
Para governos, é quase garantia de popularidade nas alturas e sucesso eleitoral. No médio e longo prazo, porém, a manutenção de um mercado de trabalho aquecido, improdutivo, regido por uma legislação dantesca significa condenar o país e suas empresas a crescer de forma cambaleante — ou a não crescer.
Uma equipe de pesquisadores da Duke University e da Fundação Getulio Vargas perguntou aos principais executivos de finanças de algumas das maiores companhias do país quais os maiores desafios de 2013. Manter as margens de lucro — um ponto tradicionalmente caro ao pessoal das finanças — e atrair e manter profissionais qualificados foram os pontos citados por quase dois terços da amostra.
É óbvio. Só há crescimento se existir gente competente e preparada para tocar os velhos e novos projetos. Não há profissionais assim para todo mundo. Apenas na indústria, setor que sofre enorme impacto das novas tecnologias, serão necessários 7,2 milhões de profissionais de nível técnico até 2015, segundo divulgou a CNI. Nesse mesmo setor, o mais atacado pela concorrência internacional, o custo da mão de obra subiu quase 10% no último trimestre de 2012 em comparação ao ano anterior.
A massa de profissionais despreparados é um peso financeiro cada vez maior. E se transforma num legado perverso. Como demitir os improdutivos custa caro e não há como substituí-los, eles vão ficando, entregando menos e mal, corroendo aos poucos a competitividade das empresas, eliminando as chances de inovação, comprometendo o futuro. Assim fica difícil investir. Assim fica difícil crescer na medida das nossas ambições. Ainda bem que somos eternos otimistas.