Montadora de ônibus Marcopolo: uma ferramenta digital na fábrica (Germano Lüders/Exame)
Da Redação
Publicado em 9 de agosto de 2014 às 08h00.
Nova York - "Todo mundo usa um laptop ou um smartphone hoje em dia. E recentemente surgiu a questão: existe espaço para uma terceira categoria de aparelho no meio, entre o laptop e o smartphone?”
Foi com essa pergunta que, em janeiro de 2010, Steve Jobs, fundador da Apple, começou a falar do iPad, último grande produto que anunciaria antes de sua morte em outubro do ano seguinte. Durante quase quatro anos, as vendas do iPad seriam mágicas, para usar uma das palavras preferidas dos executivos da Apple.
As taxas de crescimento desafiavam as projeções mais otimistas dos analistas de Wall Street. Os concorrentes lançaram suas versões para disputar o mercado criado pelo iPad, e os tablets se multiplicaram — da casa das pessoas ao chão de fábrica. Mas, no começo deste ano, algo mudou para a Apple.
No primeiro trimestre de 2014, as vendas ficaram 16% abaixo das registradas no mesmo período de 2013. No segundo trimestre, a queda foi de 9%. Ao comentar os resultados mais recentes, Tim Cook, atual presidente da Apple, disse que os números estão de acordo com as expectativas da empresa e que não “há motivo” para preocupação.
O futuro do iPad, acredita Cook, passa pelo aumento expressivo do uso no mundo corporativo. Se a previsão estiver correta, um mercado ainda mais lucrativo vai ser criado para as produtoras de software.
Em julho, Cook e Virginia Rometty, presidente da multinacional de tecnologia IBM, anunciaram uma parceria global para elevar a presença de iPhones e iPads nas grandes empresas.
A ideia é que ambas as companhias — adversárias mortais nos primeiros dias da computação pessoal — desenvolvam juntas mais de 100 programas para o mundo corporativo e que a IBM sirva de cabeça de ponte para a entrada formal da Apple no mercado de tecnologia corporativa, que deverá atingir 3,8 trilhões de dólares neste ano, segundo a consultoria americana Gartner.
Há mais de 1,2 milhão de aplicativos para o sistema operacional iOS (da Apple), e seus criadores já receberam 20 bilhões de dólares da Apple (a empresa é responsável pela cobrança dos usuários e repassa 70% das receitas aos desenvolvedores).
Não existem números precisos sobre a participação dos programas destinados exclusivamente ao uso corporativo, mas o consenso entre os analistas é que ela esteja crescendo rapidamente.
“Quando se fala em viagem, ‘classe executiva’ significa uma experiência melhor. Em software, é completamente diferente: software empresarial é uma porcaria, a experiência não é boa”, disse Phil Libin, fundador e presidente da Evernote, em uma entrevista recente. A californiana Evernote, fundada em 2008, tem um aplicativo do mesmo nome que já foi baixado mais de 127 milhões de vezes.
O software é um bloco de notas multimídia, que coleta fotos, páginas da internet e gravações de áudio, além de texto, para referência futura. O enorme sucesso entre os consumidores — e entre os investidores, que já colocaram mais de 250 milhões de dólares em capital de risco na companhia — levou a empresa a lançar uma versão do programa para uso corporativo.
O sistema, chamado Evernote Business, conecta-se com o sistema empresarial desenvolvido pela Salesforce, uma das empresas líderes em software de CRM, ou gerenciamento do relacionamento com os clientes. A ideia é facilitar a vida de quem precisa caçar as informações relativas a um cliente que estão espalhadas pela empresa.
A analogia de Libin com os aviões ajuda a entender o porquê do sucesso dos smartphones e dos tablets nas empresas. Antes mesmo do anúncio do acordo com a IBM, a Apple já vinha conquistando espaço no mundo empresarial.
“Existe um movimento que vem ganhando muita força, conhecido como Byod”, diz Chris Fleck, vice-presidente de soluções móveis da Citrix, empresa de software corporativo. Byod é a sigla em inglês para bring your own device, literalmente “traga seu próprio aparelho”.
Em uma enquete realizada com 4 300 pessoas em 19 países, a empresa de pesquisas britânica Ovum apurou que sete entre dez trabalhadores usam smartphone ou tablet pessoais para acessar dados da empresa. “Os funcionários querem ter acesso aos sistemas da empresa no próprio tablet.”
Apps para os escritórios
A experiência positiva com smartphones e tablets em casa é um dos principais motores da transformação que acontece no departamento de tecnologia das companhias.
De acordo com uma pesquisa encomendada pela fabricante de microcomputadores Dell, 74% das empresas acreditam que o uso de aparelhos pessoais ajuda a aumentar a produtividade. Para os desenvolvedores de software, isso significa uma base instalada maior e, portanto, oportunidades visíveis — com a criação de aplicativos.
A KidoZen, empresa fundada pelo argentino Jesús Rodriguez nos Estados Unidos, desenvolveu um software para integrar os vários sistemas essenciais de uma empresa, como finanças, vendas e recursos humanos, de forma que sejam acessados em um aplicativo móvel.
A partir dessa base integrada, as companhias podem desenvolver internamente (ou encomendar) aplicativos. Aberta em janeiro do ano passado, a KidoZen recebeu 5 milhões de dólares de investidores e, com faturamento de 5 milhões de dólares em 2013, já é lucrativa.
A KidoZen tem entre seus clientes grandes corporações, como a montadora japonesa Toyota e a empresa aérea americana JetBlue. “As empresas tradicionais de software corporativo não respondem tão rapidamente às necessidades de seus clientes, e essa é nossa vantagem”, diz Rodriguez.