Revista Exame

Só R$ 0,02 a música. É quanto paga o Spotify às gravadoras

É isso que o serviço de streaming Spotify paga para as gravadoras em reais. Solução contra a praga da pirataria online ou exploração dos artistas?


	A cantora americana Taylor Swift: ela quer vender CDs
 (Lucas Jackson/Reuters)

A cantora americana Taylor Swift: ela quer vender CDs (Lucas Jackson/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 3 de dezembro de 2014 às 20h13.

São Paulo - Na última década, poucos setores da economia tiveram seus negócios abalados da forma como vem ocorrendo com a indústria fonográfica. Em 1999, o faturamento global era de 38 bilhões de dólares. No ano passado, esse valor caiu para 15 bilhões. Para artistas, produtores e gravadoras, a culpa é da internet, que permitiu a proliferação da pirataria digital.

Qualquer música está disponível para consumo grátis a alguns cliques de distância. Comprar discos, portanto, virou uma coisa anacrônica. A Apple lançou a loja online iTunes em 2001, e pagar por um arquivo digital de música parecia ser a solução, mas agora até isso começou a mostrar sinais de queda.

A sorte das gravadoras foi o surgimento do modelo via streaming, no qual é possível ouvir canções sem precisar fazer obrigatoriamente o download do arquivo. Na prática, funciona como se fosse uma rádio em que o usuário decide a ordem das músicas. No plano grátis, a receita vem de anúncios. Os que pagam uma mensalidade conseguem ouvir suas músicas favoritas mesmo quando não estão conectados.

Nenhuma outra empresa simboliza esse novo momento como a sueca Spotify, criada em 2008, mas que deslanchou nos últimos dois anos. Com 50 milhões de usuários que acessam a plataforma pelo menos uma vez ao mês, a empresa conseguiu convencer 12,5 milhões deles a pagar uma mensalidade equivalente a 15 reais.

Parece pouco dinheiro? Em 2013, o Spotify faturou 1 bilhão de dólares, crescimento de 74% em relação ao ano anterior. De cada dólar que entra, 80 centavos acabam nos cofres das gravadoras em forma de direitos autorais. De janeiro a novembro de 2014, 1 bilhão de dólares foram distribuídos em royalties — o mesmo valor foi pago no período de 2008 a 2013.

“Estamos ainda no estágio inicial desse mercado, mas o potencial é imenso. Se você considerar que todo mês 1  bilhão de pessoas assistem a vídeos na internet, dá para imaginar o que pode acontecer com um mercado de música que acabou de nascer”, afirma Jeff Levick, vice-presidente da área de negócios do Spotify.

Diante de tanta promessa, os gigantes da internet começam a mostrar interesse no segmento. No começo de novembro, o site YouTube, que pertence ao Google, passou a testar uma versão experimental de seu aplicativo de strea­ming Music Key. A expectativa é que o novo serviço alcance o mercado em 2015.

A investida do YouTube tem um olho no Spotify e outro na Amazon, que acabou de estrear no mercado fonográfico. Em agosto, a gigante do comércio eletrônico criou o pacote Prime Music, no qual seus clientes acessam sem restrição um catálogo de 1 milhão de canções.

Outro competidor em potencial é a Apple, que em maio comprou por 3 bilhões de dólares a Beats, fabricante de fones de ouvido e provedor de streaming. A empresa que inventou o comércio de música digital, com o iTunes,  tem registrado contínua queda nas vendas de canções.

Por isso, especula-se que a Apple deva lançar em breve um aplicativo de música via streaming. Sua vantagem é que pode incorporar o software em seus milhões de smart­phones e tablets em uso.

Quanto vale o show?

A indústria fonográfica tem vibrado com esse cenário. Atualmente, cerca de 75 milhões de pessoas no mundo são usuárias dessas plataformas. Estima-se que nos próximos três anos esse contingente chegue a 500 milhões.

“Em países como Suécia e Dinamarca, onde o streaming foi pioneiro, 40% da população consome música dessa forma”, diz Mathieu Le Roux, diretor do serviço de streaming francês Deezer para a América Latina, que opera no Brasil desde o ano passado. 

Se as gravadoras amam serviços como Spotify e Deezer, os artistas parecem estar divididos. A cantora pop americana Taylor Swift, que vendeu 1,3 milhão de CDs de seu último álbum na primeira semana de lançamento (o último a registrar o feito foi o rapper americano Eminem em 2002), acabou de retirar todo o seu catálogo dos serviços de streaming que oferecem pacotes pagos e gratuitos.

Taylor alega que os artistas são mal remunerados e que o sistema reduz as vendas físicas de discos. O Spotify, por exemplo, paga de 0,6 a 0,8 centavo de dólar para a execução de cada faixa — o que equivale a 2 centavos de real. Esse dinheiro cai diretamente nas contas das gravadoras.

Quanto cada artista recebe no fim é uma questão entre as gravadoras, os cantores e os compositores. Depois da repercussão da saída de Taylor Swift, o lendário produtor musical americano Quincy Jones deu sua opinião em sua página do Facebook. “O Spotify não é o inimigo. A pirataria é”, escreveu.

Ele afirmou que usaria o Spotify se tivesse de lançar hoje a música Thriller, gravada em 1982 por Mi­chael Jackson, que se transformou em um dos maiores sucessos da história da indústria fonográfica. 

O Spotify chegou ao Brasil no fim de maio e hoje conta com o apoio de cantores como Gilberto Gil, Claudia Leitte e Anitta. O engajamento dos artistas brasileiros tem ajudado a transformar a operação nacional num destaque. A empresa não revela os números locais, mas afirma que o Brasil foi, dos 58 países, o que teve o crescimento mais rápido de registros de usuários.

As metas iniciais do escritório brasileiro foram atingidas em quatro meses — no México, que recebeu o serviço em maio de 2013, foi necessário mais de um ano. A dúvida é se os brasileiros vão aderir ao modelo pago na mesma velocidade que abraçaram o serviço grátis. Namoro é namoro. Casamento é outra história. Não importa a trilha sonora.

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