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O governo zerou o imposto de importação sobre vários produtos, mas analistas acreditam que o impacto pode não ser tão rápido — e o agro se divide

Supermercado mais caro: alta nos preços acontece por fatores climáticos, que levaram a quebra de safra (Leandro Fonseca/Exame)

Supermercado mais caro: alta nos preços acontece por fatores climáticos, que levaram a quebra de safra (Leandro Fonseca/Exame)

César H. S. Rezende
César H. S. Rezende

Repórter de agro e macroeconomia

Publicado em 20 de março de 2025 às 06h00.

Um tema que mistura agronegócio, economia e política domina as atenções nacionais: a alta dos preços dos alimentos. Em março, o governo brasileiro zerou os impostos de importação de 11 alimentos, entre eles o azeite — símbolo do encarecimento da comida. A medida se soma a outras tentativas da gestão de Luiz Inácio Lula da Silva para conter a inflação dos alimentos e melhorar sua popularidade. Antes, o governo criou um comitê para monitorar preços, sinalizou que vai reduzir os juros ao agricultor familiar e lançou o Desenrola Rural, programa de regularização de dívidas para o pequeno produtor — além de mencionar medidas de intervenção que arrepiaram o mercado.

Na prática, a isenção do imposto de importação pode ter pouco efeito, em um momento em que o Planalto espera resultados mais rápidos para o bolso do consumidor. “O impacto na inflação não é imediato. O Brasil não importa muitos desses produtos, exceto azeite e óleo”, afirma Andréa Angelo, analista da Warren Investimentos. 

A alta nos preços dos alimentos acontece por fatores climáticos, que levaram a quebras de safra, e pela valorização do dólar diante do real. Essa valorização é causada, principalmente, pelas incertezas fiscais no Brasil e pelo efeito do novo presidente dos EUA, Donald Trump, no cenário global. Assim, zerar impostos sobre produtos nos quais o Brasil já é o principal produtor global não deve trazer um impacto relevante. “O Brasil é o maior produtor mundial de muitos desses itens, como o café. Reduzir o custo de importação provavelmente não terá efeito”, diz Welber Barral, sócio-fundador da BMJ Consultores Associados. Para ele, a isenção do ICMS sobre a cesta básica, outra medida defendida por ­Alckmin e que depende da adesão dos governadores, teria mais impacto. O problema: vários produtos estratégicos já estão desonerados do ICMS. “É preciso identificar sobre quais itens ainda incide ICMS na cadeia produtiva e avaliar a possibilidade de reduzir essa carga”, diz Barral.

No agro, as reações se dividiram. Algumas entidades apoiaram as medidas, enquanto a Frente Parlamentar do Agronegócio acusa o governo de jogar a responsabilidade do problema dos preços no setor. “Que recado o governo federal passa para nós, produtores rurais? Não faz ajuste fiscal, não corta gastos e, mais uma vez, tenta empurrar a conta da inflação dos alimentos para o campo”, afirmou o deputado Pedro ­Lupion, presidente da FPA.

Ou seja, além de convencer os governadores, o governo terá de alinhar o discurso com os produtores. A ver os próximos capítulos. 

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