Robôs: a história mostra que as inovações tecnológicas podem causar apreensão e desconforto no início, mas acabam se provando benéficas para a humanidade | Benoit Tessier/Reuters
Da Redação
Publicado em 1 de agosto de 2019 às 05h22.
Última atualização em 1 de agosto de 2019 às 11h06.
Entender o impacto das tecnologias na economia e na sociedade tem sido um dos passatempos preferidos de economistas e cientistas sociais ao longo da história. É uma coisa curiosa: quanto mais nos distanciamos das revoluções tecnológicas do passado, mais positiva tende a ser nossa visão das transformações ocorridas. Saudamos a energia elétrica, o surgimento de ferrovias, automóveis e aviões, a produção em massa de bens de consumo que libertou a humanidade da pobreza. A seu tempo, porém, cada uma dessas mudanças abalou um sistema antigo e gerou apreensão e real desconforto em multidões de trabalhadores. A tal “destruição criadora” de que falava o economista austríaco Joseph Schumpeter deixou, a cada evento histórico, um rastro de… destruição!
É que o distanciamento histórico evidencia que as mudanças tecnológicas de fato melhoram o mundo. Produzem crescimento, geram emprego, permitem uma vida melhor. Ao mesmo tempo, com o passar dos anos nos afastamos do sofrimento concreto de pessoas que foram deslocadas de seu emprego. É mais complexo falar do mesmo fenômeno em tempos atuais: essas pessoas estão à nossa volta. São elas que escolhem os líderes que ditarão o rumo a seguir. Já virou lugar-comum, para ficar em dois casos exemplares, associar a vitória de Donald Trump e do Brexit — que acaba de produzir a ascensão de Boris Johnson, o “Trump inglês” — aos perdedores da globalização e da revolução tecnológica. O desafio é aceitar os benefícios das mudanças e encontrar uma forma de acomodar os trabalhadores deslocados de seu setor de atuação. Poucas nações, infelizmente, conseguem equilibrar bem esses dois objetivos.
Esta edição de EXAME traz na reportagem de capa mais uma evidência de como as inovações oxigenam a economia. O fenômeno dissecado pelos jornalistas David Cohen e Filipe Serrano é o da economia da recorrência, em que o modelo tradicional de venda de produtos é substituído pela assinatura de um serviço. Ao que tudo indica, as pessoas estão cada vez menos desejosas de ter coisas; o que se quer hoje é usufruir delas. A posse está perdendo muito de seu encanto. E isso muda tudo no modelo de negócios das empresas e no próprio funcionamento da economia. É um modelo potencialmente mais sustentável, tanto no aspecto econômico quanto no ambiental. Mas que também deixará sua cota de feridos pelo caminho.
Não devemos coibir as inovações, alerta o economista Carl Frey, em outra contribuição de Filipe a esta edição. Uma das maiores autoridades mundiais no impacto das tecnologias no emprego, Frey defende que os robôs sejam cada vez mais presentes na produção. Devemos evitar a qualquer custo a “armadilha tecnológica”, situação vivida na Europa pré-Revolução Industrial, quando as inovações eram barradas pela classe dominante. Frey vê semelhanças preocupantes com o momento atual, especialmente nos países desenvolvidos. Por isso mesmo, cuidar das pessoas é essencial. As mudanças tecnológicas podem e devem beneficiar a todos — é nisso que acreditamos.