Rogério Melzi, da Estácio: “Não quero o segundo lugar” (Eduardo Zappia/EXAME)
Da Redação
Publicado em 26 de novembro de 2014 às 05h00.
São Paulo - Até o ano passado, o grande objetivo do engenheiro mecânico Rogério Melzi, presidente da rede de ensino Estácio, era criar a Ambev da educação. Ele dizia que sua empresa era como a Brahma nos anos 90 e a concorrente Anhanguera era a Antarctica (as duas se uniram para formar a Ambev em 1999).
Ex-funcionário da Ambev, Melzi levava a meta tão a sério que, por muito tempo, evitou abrir faculdades nos lugares em que a Anhanguera era forte, como o estado de São Paulo e as regiões Centro-Oeste e Sul. As empresas finalmente começaram a negociar uma fusão em abril de 2013 — que, se fosse concluída, criaria a maior companhia de educação do país, com quase 800 000 alunos.
Em duas semanas, prepararam um rascunho do contrato a ser assinado. Mas a Estácio fez exigências que a Anhanguera não estava disposta a cumprir, como uma auditoria prévia antes de concluir a fusão. Sem acordo, a negociação parou — para a Estácio.
A concorrente Kroton entrou em cena e, em apenas três dias, fechou a fusão com a Anhanguera, o que deu origem ao maior grupo de educação do mundo, com 1,5 milhão de alunos. O projeto da Ambev da educação foi-se embora. E a Estácio, de destinada à liderança, ficou bem atrás da líder inconteste Kroton. Ainda dá para sonhar com a liderança?
Hoje, a Estácio é a segunda maior companhia de educação de capital aberto do país. Vale 8,5 bilhões de reais, 150% mais do que há dois anos. É um número e tanto — mas a Kroton vale o triplo. Num setor em plena consolidação, é uma diferença grande demais para quem quer competir.
“Não vejo por que a gente não possa ser a maior em valor de mercado. Não quero o segundo lugar”, diz Melzi. Depois do baque da perda da Anhanguera, o executivo abriu a mão e partiu para novas aquisições. Em um ano e meio, gastou 748 milhões de reais para comprar cinco redes.
A principal delas foi a Uniseb, rede de ensino a distância com forte presença em São Paulo. Segundo Melzi, mais “duas ou três aquisições” podem ser anunciadas até o fim do ano (executivos do setor dizem que há uma negociação em curso no Nordeste). “Ainda temos 700 milhões em caixa. Não falta dinheiro para comprar”, diz.
Mas a tarefa de competir em igualdade com a Kroton é enorme. Para ficar maior do que a rival, a Estácio teria de comprar o equivalente a sete empresas como a SER Educacional, que é a terceira do ranking e tem valor de mercado de 3 bilhões de reais. E, claro, a Kroton teria de parar de crescer (neste ano, a expansão da líder foi de 70%).
A busca por crescimento se deve ao fato de tamanho ser uma variável relevante para o setor de educação. Primeiro, porque reduz, proporcionalmente, as despesas administrativas. Além disso, as grandes empresas costumam ter mais recursos para investir em tecnologia e expandir o ensino a distância, um dos mercados que mais crescem no Brasil.
Antes de perder a Anhanguera, a Estácio já vinha comprando empresas menores — entre 2008 e 2012 fez 12 aquisições. Suas concorrentes estavam no mesmo caminho. Só em 2008 a SER comprou faculdades em Maceió, Natal e Salvador.
Ao ganhar escala, a Estácio espera conseguir elevar sua margem de lucro, que vem subindo, mas ainda é 20% menor do que a da Kroton. Para não depender apenas de aquisições para fazer isso, a Estácio está aumentando a oferta de cursos mais caros, como os de engenharia e medicina. O objetivo é elevar o valor médio das mensalidades, que hoje é de 569 reais, inferior aos 650 reais da Kroton.
Neste ano, absorveu os alunos das universidades Gama Filho e UniverCidade, que tinham milhares de alunos de engenharia e medicina e fecharam as portas depois de terem sido descredenciadas pelo Ministério da Educação. Também inaugurou um novo prédio no campus de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, para lançar um curso de medicina.
Se quiser cobrar mais, a Estácio precisa ainda melhorar a qualidade de seus cursos, que, na média, está abaixo da Kroton nos rankings do Ministério da Educação.
Conta a favor da Estácio o fato de ser uma empresa arrumada. Isso se deve, principalmente, aos ajustes feitos na época em que a gestora de fundos de private equity GP era sócia da companhia (a GP comprou 20% da empresa em 2008, o controle em 2010 e vendeu tudo no ano passado).
Entre 2008 e 2010, cerca de 2 000 funcionários foram demitidos e a maioria dos 10 000 que restaram, incluindo os professores, passou a receber bônus por desempenho. Além disso, o número de cursos foi reduzido e as compras de material foram centralizadas para melhorar a negociação de preços.
Os números mostram que o plano de Melzi está surtindo efeito. O lucro dos últimos 12 meses, de 390 milhões de reais, foi 60% maior do que o dos 12 meses anteriores. Os investidores estão gostando. O valor de mercado da Estácio aumentou 42% no ano. Tudo bem que o da Kroton subiu 80% no mesmo período. Mas não deixa de ser motivo para comemorar.