Da Redação
Publicado em 16 de agosto de 2018 às 11h13.
Última atualização em 17 de agosto de 2018 às 19h45.
Em seu primeiro ano no comando da empresa que teve o maior lucro líquido entre as 500 maiores do país em 2017, excluindo as instituições financeiras, Fabio Schvartsman diz com humildade: “O resultado se deve à qualidade dos ativos e à operação integrada. A Vale vai da mina no Brasil ao porto na China. Lavra do doutor Eliezer. Isso foi legado de um visionário”. Schvartsman se refere a Eliezer Batista, morto em junho deste ano, que foi o presidente da Companhia Vale do Rio Doce nos anos 60 e de 1979 a 1986. A Vale cresceu 33% no ano passado e faturou 19,7 bilhões de dólares, com um lucro de quase 5,3 bilhões de dólares — mais que o dobro do valor obtido pela segunda empresa com maior ganho, a cervejaria Ambev.
O desempenho foi impulsionado pelas cotações do minério de ferro, que subiram em 2017 com o aumento da demanda global de aço. Mas o que fez a diferença para a Vale foi a qualidade do minério que extrai de sua mina na Serra Sul de Carajás, no Pará. A mina no complexo S11D, batizado de “Eliezer Batista”, em homenagem ao ex-presidente da empresa, começou a operar em dezembro de 2016. É o maior empreendimento da Vale em seus 70 anos e tem capacidade para produzir 90 milhões de toneladas por ano. Lá, o teor de ferro do minério é de quase 67% — as reservas das mineradoras da Austrália, principais concorrentes da Vale, não costumam apresentar teor acima de 62%. E a lógica do mercado tem mostrado que as fabricantes de aço estão dispostas a pagar um prêmio superior a 30% por minério de alta qualidade.
A tendência é puxada por restrições à emissão de poluentes na China. Isso estimula a demanda por minério mais limpo e também os esforços das siderúrgicas para aumentar a eficiência na produção de aço. “Em 2017, ficou claro para o mundo que qualidade faz diferença”, afirma Schvartsman. “O que alavancou o resultado da Vale foi o fato de o mercado pagar pela qualidade.”
Outra variável que costuma afetar os resultados é o câmbio, que tem sido um problema para companhias endividadas. No caso da Vale, que obtém quase 90% da receita com vendas para fora do país e reduziu a dívida ao equivalente à metade da geração de caixa, o efeito cambial tem sido menor. Com isso, a empresa prevê que 2018 fechará como mais um ano excepcional, devendo crescer cerca de 10% em dólar. Seu diagnóstico do mercado indica que grandes produtores de minério de ferro em outros países enfrentam a exaustão das minas, situação que reduz a qualidade do que têm para vender. É mais um trunfo para a Vale, que está investindo para aproveitar as oportunidades. A empresa retomou as atividades de três usinas de pelotização que estavam paradas, uma no Maranhão e duas em Tubarão, no Espírito Santo, para atender ao crescimento da demanda por produtos de alta qualidade.
A mineradora pretende destinar 4 bilhões de dólares neste ano para manter as operações no Brasil e no mundo e para concluir a duplicação da Estrada de Ferro Carajás, ferrovia que leva o minério de S11D até o terminal marítimo de Ponta da Madeira, no Maranhão. De olho também na nova onda de metais destinados às baterias de carros elétricos, a Vale está investindo 2 bilhões de dólares na produção de níquel, cobalto e cobre no Canadá. O níquel, que sempre foi pouco valorizado, é negociado atualmente no mercado internacional por 15 000 dólares a tonelada — a Vale é uma das maiores produtoras desse metal no mundo. “Ainda não sabemos quando vai se tornar significativa, mas a revolução do carro elétrico é uma certeza”, afirma Schvartsman.