Ruschi Filho, presidente da Unimed: “De 80% a 90% das questões de saúde podem ser resolvidas por um médico de família” (Germano Lüders/Exame)
Da Redação
Publicado em 7 de novembro de 2019 às 05h02.
Última atualização em 7 de novembro de 2019 às 10h22.
A volta do médico de família. É nisso que aposta a Central Nacional Unimed para reduzir custos e aumentar a eficiência dos tratamentos de saúde, fazendo com que as pessoas se tratem com clínicos em vez de recorrer a hospitais. “Cerca de 80% a 90% das questões de saúde podem ser bem tratadas e resolvidas por um médico de família. É um modelo consagrado nos países com os melhores indicadores de saúde do mundo”, afirma Alexandre Augusto Ruschi Filho, presidente da Central Nacional Unimed.
“Não estamos decretando o fim dos hospitais, e sim o cuidado por uma equipe que possa acompanhar a pessoa ao longo da vida.” Em 2017, quase 9.000 pacientes haviam recebido o cuidado de uma equipe multidisciplinar liderada por um médico de família. No ano passado, foram mais de 16.000.
De um lado, o médico que acompanha o histórico do paciente tem mais possibilidades de detectar problemas cedo, quando eles são menores e têm mais chance de cura. De outro lado, a prática de recorrer a hospitais diminui a capacidade de tratar os casos mais sérios. “Isso prejudica a gestão da saúde pública e privada”, diz Ruschi Filho.
Além dos médicos de família, a Unimed, que tem 37% de participação no mercado de operadoras de saúde, vem investindo no monitoramento de beneficiários com mais riscos de desenvolver doenças como câncer, diabetes e hipertensão, assim como gestantes de alto risco.
De novo, há uma junção de interesses: os clientes são mais bem cuidados e apresentam uma redução de 35% nos gastos com consultas, exames e internações, de acordo com a empresa.
Os idosos são outra preocupação. “Em 2060, um em cada quatro brasileiros terá mais de 65 anos. Esse cenário é muito desafiador”, afirma Ruschi Filho. Uma das medidas de maior impacto nesse campo é o Unimed Ativa, que oferece espaços de convivência e socialização com atividades físicas, oficinas e palestras sobre envelhecimento saudável. O programa tem capacidade para atender cerca de 200 pessoas em São Paulo e 100 em Salvador.
Outra iniciativa é o curso de formação de cuidadores. Lançado em 2014, o programa de 100 horas de aula, presenciais e a distância, já capacitou mais de 1.000 pessoas. A meta é formar outras 600 neste ano por meio de uma parceria firmada com o Senac em 18 cidades. O programa foi acelerado em 2018 quando a Unimed percebeu que mais de 70% dos alunos saíam empregados antes de concluir a formação. “Nosso intuito é acolher o idoso, já que muitas vezes um familiar tem de pedir demissão do emprego para assumir esses cuidados”, diz Ruschi Filho.
Para o Grupo Fleury, aderir a movimentos nacionais ou globais de responsabilidade socioambiental é uma forma de desenvolver suas políticas internas | Lia Vasconcelos
Cite algum dos grandes compromissos públicos de boas práticas e é bem provável que o Grupo Fleury seja um signatário: Pacto Global da Organização das Nações Unidas, de responsabilidade socioambiental; Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, também da ONU; Pacto Empresarial pela Integridade e Contra a Corrupção; Carbon Disclosure Project (organização para controle de emissões de carbono); GHG Protocol (que incentiva o controle das emissões de gases de efeito estufa)… Não se trata de marketing politicamente correto, segundo Daniel Périgo, gerente sênior de sustentabilidade do Fleury. É uma forma de promover mudanças na direção certa. “Fazemos sempre um diagnóstico do nosso grau de adesão. O último, em relação à sustentabilidade, gerou um relatório de 40 páginas no qual refletimos sobre o que está bom e o que pode melhorar. Usamos esses compromissos como norteadores da nossa ação”, afirma Périgo.
Um exemplo é a política de diversidade, que existe desde 2012 e foi revisada em 2017 após pesquisa com os colaboradores. Hoje há comunidades que discutem o tema na intranet, um plano de comunicação voltado para o assunto e uma semana de diversidade.
Além disso, o Fleury elegeu alguns temas prioritários para discussão, como identidade e equidade de gênero, orientação sexual, deficiência e diversidades geracional, étnica e racial. “Queremos quebrar paradigmas internos. Em 2018, trabalhamos a inclusão de deficientes intelectuais, autistas e transgêneros na área de tecnologia da informação e a formação de aprendizes com deficiência”, diz Périgo. Não à toa, o grupo, que tem 217 unidades em sete estados e no Distrito Federal, faz parte do Índice de Sustentabilidade Empresarial, uma carteira de ações que valoriza companhias comprometidas com o desenvolvimento sustentável, e aderiu aos Princípios de Empoderamento das Mulheres, da ONU Mulheres.
Uma mostra de como essas práticas se refletem no próprio negócio do Grupo Fleury é um projeto do ano passado: um estudo científico inédito feito em parceria com o Hospital Pérola Byington, de São Paulo. Em 111 pacientes do hospital com câncer de mama em estágio inicial foi realizado um teste genômico de uma empresa americana. O exame, que é distribuído no Brasil pelo Fleury, detalha o risco de agressividade do tumor. Graças a ele, 76 de 109 pacientes que seriam encaminhadas à quimioterapia começaram a ser tratadas com hormonioterapia ou radioterapia, tratamentos que são bem menos agressivos para as pacientes e que proporcionaram uma economia equivalente a 420 000 reais ao hospital.
O Einstein mapeia os fornecedores de maior risco ou maior impacto ambiental e social para monitorá-los e treiná-los de acordo com práticas de sustentabilidade | Lia Vasconcelos
Os números impressionam: 44.058 cirurgias, 1.070.809 pronto-atendimentos, 1.014.731 consultas e 8.059.153 exames laboratoriais e de imagem foram feitos, em 2018, pela Sociedade Beneficente Israelita Albert Einstein.
Considerado o melhor hospital da América Latina pelo décimo ano seguido no ranking da consultoria AméricaEconomía Intelligence, o Einstein, fundado em 1955, opera 25 equipamentos públicos de saúde na cidade de São Paulo, nos quais presta atendimento pelo Sistema Único de Saúde, além das nove unidades voltadas para a saúde suplementar. Com números assim, um dos principais desafios ambientais da entidade é o lixo. Se não receberem tratamento adequado antes do descarte, resíduos químicos e infectantes podem causar sérios danos ao meio ambiente.
Daí a importância do Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviço de Saúde, o qual estabelece diretrizes para descarte, tratamento e disposição final dos resíduos. Além dele, o Einstein tem um Plano Diretor de Sustentabilidade que segue as recomendações da Organização das Nações Unidas. Um ponto crucial é a relação com os fornecedores. “Para a segurança de todo o processo de destinação de resíduo gerado, exigimos o comprometimento de fornecedores com a melhoria contínua e a responsabilidade com o meio ambiente”, diz Sidney Klajner, presidente do Einstein.
O hospital mapeia os prestadores de serviço que têm maior risco ou maior impacto ambiental ou social em suas atividades. Eles preenchem um questionário de sustentabilidade e são classificados de acordo com sua aderência às boas práticas. Além disso, há auditorias periódicas dos fornecedores considerados críticos. Quando são encontrados problemas, elabora-se um plano de ação com prazo determinado.
“Além disso, convidamos os prestadores de baixo desempenho para o projeto de desenvolvimento de fornecedores, que consiste em treinamentos, reuniões individuais e visitas in loco com o intuito de identificar oportunidades de melhoria e ajudar a implantá-las”, diz Klajner.
Outro desafio é a gestão de gases de efeito estufa, realizada desde 2008. Os maiores riscos são o consumo de energia elétrica e o uso de óxido nitroso (N2O) em procedimentos anestésicos. Para reduzir as emissões, o Einstein adotou as bicicletas na entrega de laudos e favorece o etanol nas frotas de veículos. Em relacão ao N2O, o consumo caiu cerca de 40% desde 2013, ou 9 000 tCO2e (toneladas de CO2 equivalentes) graças à conscientização dos anestesistas e à manutenção da rede de distribuição de gases, feita pela equipe de engenharia clínica.
Para ajudar no combate a crimes sexuais, o braço social do laboratório Sabin treinou 400 profissionais que atuam em 107 ludotecas de atendimento às vítimas | Bruno Toranzo
Do total de estupros cometidos no Brasil contra mulheres em 2017 e 2018, 52% tiveram como vítimas meninas de até 13 anos. No mesmo período, quatro garotas sofreram abuso a cada hora. Os números estão na mais recente edição do Anuário Brasileiro de Segurança Pública. Há 11 anos, o Instituto Sabin, entidade sem fins lucrativos ligada ao Laboratório Sabin, mantém um projeto de atendimento às crianças e aos adolescentes vítimas de abuso sexual. “No ano passado, começamos a atuar em um novo pilar, o de capacitação dos profissionais que exercem esse trabalho, como os da área da saúde e os ligados à assistência social, Justiça e segurança pública”, diz Lídia Abdalla, presidente executiva do Laboratório Sabin.
Somente no ano passado foram capacitados 400 profissionais por meio de seminários e oficinas. Também passou a ser oferecido um programa de formação, com consultoria especializada, que leva em conta os desafios enfrentados pelos agentes.
Um dos assuntos trabalhados é a ludoterapia, técnica psicoterápica que usa jogos e brinquedos para aliviar o sofrimento dos jovens pacientes e ganhar sua confiança para que possam relatar a experiência traumática.
Como a criança ou o adolescente pode ter dificuldade de falar, por sentir medo ou ficar intimidado em lugares como uma delegacia, pode ser difícil para as autoridades a obtenção de informações sobre o crime. Na ludoterapia, ainda que não fale, a criança é encorajada a demonstrar o abuso por meio de bonecos. Essa e outras técnicas são desenvolvidas nas 107 ludotecas construídas pelo Sabin em dez estados e no Distrito Federal — um investimento de 2,3 milhões de reais. Os espaços foram instalados em hospitais, delegacias e fóruns.
Outro projeto social mantido pelo Sabin é uma plataforma de empréstimo coletivo desenvolvida em parceria com a startup Sitawi Finanças do Bem. Por meio dessa plataforma, empreendedores sociais têm acesso a linhas de crédito com juros mais baixos. Entre os negócios já beneficiados está a UP Saúde, uma empresa do Rio Grande do Norte que criou um aplicativo para diminuir as filas no atendimento público, facilitando o agendamento de consultas e a gestão dos dados médicos.
Os resultados já estão aparecendo, com redução média de 38% no tempo de atendimento nos municípios que contrataram o serviço. O aporte inicial do Sabin na plataforma foi de 500.000 reais, valor empregado para criar a estrutura de empréstimo. O objetivo é consolidar, entre as empresas de impacto social, o financiamento coletivo como possibilidade de acesso a crédito com juros reduzidos.