Revista Exame

A mansão sobe, a casa cai na RedeTV!

Com salários atrasados e estrelas em fuga, a RedeTV! vive seu período mais difícil em 13 anos — um problema e tanto para o dono da maior mansão do Brasil

A apresentadora Hebe Camargo: ela diz que fica na RedeTV!, apesar da crise (Luciana Prezia/EXAME.com)

A apresentadora Hebe Camargo: ela diz que fica na RedeTV!, apesar da crise (Luciana Prezia/EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 16 de março de 2012 às 07h32.

São Paulo - Aos 54 anos, o empresário paulista Amilcare Dallevo vive dias de Luís 16. Ele está erguendo em Alphaville, nas imediações de São Paulo, seu palácio de Versalhes: com dois helipontos, 50 vagas na garagem e uma suíte de 1 200 metros quadrados, a casa de Dallevo será a maior do Brasil.

Abrigará o empresário, sua mulher (a apresentadora Daniela Albuquerque), a filhinha que vem aí e alguns cachorros. Do lado de fora da mansão, porém, o mundo de Dallevo está em convulsão: sua emissora de televisão, a RedeTV!, passa por sua maior crise.

Os salários de parte dos funcionários atrasam, as principais estrelas vão-se embora e ele e seu sócio, Marcelo de Carvalho, estão sendo obrigados a debelar boatos de que os problemas da empresa não têm solução. Enquanto a mansão sobe, a casa parece estar caindo.

Os últimos 12 meses foram os mais conturbados da história da RedeTV!, quinta maior emissora do país. Isso, claro, tirando da conta o histórico de sua antecessora, a extinta Manchete, que quebrou nos anos 90 e cujo espólio foi comprado por Dallevo e Carvalho em 1999.

Os dois eram sócios de uma empresa de tecnologia. Logo fizeram barulho ao equipar a RedeTV! com máquinas de última geração — a até então moribunda emissora logo voltou a brilhar, a receita cresceu e, com sucessos como o programa Pânico na TV, tudo parecia ir bem.

Mas, no ano passado, ficou provado que essa calmaria escondia uma tormenta. Com problemas de caixa, a RedeTV! começou a passar por uma crise desconfortavelmente pública.

Perdeu para a Band os direitos de transmissão da Segunda Divisão do Campeonato Brasileiro de Futebol (prejuízo de 30 milhões de reais), para a Globo as lutas do MMA (mais 15 milhões) e, finalmente, sua estrela maior, o Pânico — a debandada dos comediantes do programa representa um rombo de pelo menos 50 milhões por ano para a emissora.

“Nós não somos emissora de um programa só”, diz Dallevo. “Com o custo de produção do Pânico, que é 20 vezes superior ao de qualquer outra atração, conseguimos fazer coisa melhor.”


No fim de 2011, uma jornalista da emissora anunciou no Facebook que os salários estavam atrasados havia três meses. Mais de 200 funcionários passaram a receber os vencimentos em parcelas quinzenais de 12% a 25%.

Culpa da Grécia?

Embora admitam a escala dos problemas, os sócios da RedeTV! os atribuem a fatores externos. “Tivemos, sim, problemas de pagamento”, diz Carvalho. “A explicação está na crise internacional, que restringiu o crédito no Brasil. Você viu a situação na Grécia, né? Com o que estava acontecendo lá fora, os bancos pararam de emprestar.”

Segundo EXAME apurou, o que deixou os bancos com o pé atrás não foi o imbróglio grego, mas a situação financeira da própria RedeTV! A emissora tem dívidas de curto prazo de 100 milhões de reais, gastou quantia semelhante na construção de sua nova sede e ainda carrega um passivo enquadrado no Refis, programa de refinanciamento do governo federal.

O Banco Rural, que há quatro anos teve de brigar na Justiça para receber o que a empresa devia, parou de financiar a RedeTV! No início de março, Dallevo e Carvalho visitaram uma série de bancos para reafirmar a saúde da companhia.

Quando se faz um apanhado das origens dos problemas da RedeTV!, não se pode subestimar o potencial destrutivo da rivalidade entre os sócios. Os dois são casados com apresentadoras. A mulher de Carvalho, Luciana Gimenez, é destaque da programação da emissora (seu programa, o SuperPop, tem média de 2,5 pontos de audiência).

Após seu casamento com Daniela Albuquerque, Dallevo decidiu dar um programa para ela, o Manhã Maior. Daniela, porém, ainda não decolou como apresentadora — a audiência resvala insistentemente no traço, e o Manhã Maior só caiu na boca do povo quando a apresentadora relatou seus contatos imediatos com ETs.

As mulheres dos sócios tornaram-se rivais, para delírio das publicações de celebridades. Luciana e o marido não foram convidados para a renovação dos votos do casal Dallevo, realizada na mansão prestes a ser inaugurada. Em troca, Luciana não chamou Daniela para sua festa de aniversário, em novembro.


As visões dos sócios para o negócio constantemente divergem. Dallevo, por exemplo, sonha em abolir os intervalos comerciais (que, em sua visão, afastam a audiência). Carvalho, que começou a carreira na área comercial da Globo, acha a ideia um absurdo.

Para tentar resolver a situação, Carvalho contratou no ano passado o banco de investimento BTG Pactual para vender sua participação de 30% no capital da RedeTV!. Começou pedindo 150 milhões de dólares, depois baixou o preço para 160 milhões de reais. No fim das contas, o único interessado em comprar foi Dallevo, que queria usar contratos de publicidade como moeda.

O negócio não foi fechado, mas o BTG continua procurando interessados. Segundo EXAME apurou, quem fizer uma proposta exigirá de Dallevo maior poder de decisão — uma espécie de controle compartilhado. Os empresários afirmam que não há negociação em andamento. “O que eu quero agora é vender tempo na TV”, diz Carvalho.  

Sai pânico, entra Rafinha

A vida da quinta maior emissora de TV do Brasil dificilmente será fácil. Com 38% da audiência total, a Globo domina 35% do faturamento publicitário no segmento de TVs abertas. No segundo lugar está a Record, ligada à Igreja Universal do Reino de Deus. Em terceiro e quarto, estão as tradicionais SBT e Band.

Pelos números atuais, o faturamento da RedeTV! é 40% inferior ao do SBT e o equivalente a 5% das vendas da Globo. “O mercado brasileiro só tem espaço para três emissoras ecléticas, com o modelo de programação da Globo”, diz José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, um dos maiores especialistas em TV do Brasil.

“O melhor, para a RedeTV!, seria investir num nicho específico e sair da briga direta com os grandes.” Os primeiros passos dos controladores da emissora após a crise mostram, no entanto, que eles pretendem redobrar a aposta no modelo atual.

Na tentativa de preencher o espaço deixado pelo Pânico, a emissora contratou o humorista Rafinha Bastos, que apresentará uma versão nacional do  programa americano Saturday Night Live.

O entrevistador Amaury Jr. renovou seu contrato por três anos. E a apresentadora Hebe Camargo avisou que não pretende deixar a emissora, apesar dos boatos em sentido contrário. Para Dallevo, a RedeTV! entra em março de casa arrumada. A mansão está quase pronta.

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