Forever 21 na Times Square: no telão exposto na fachada do prédio, as imagens são dos próprios clientes (Dimitrios Kambouris /Getty Images/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 10 de setembro de 2013 às 22h04.
Não tem sido fácil a vida de quem precisa convencer o cidadão americano a tirar do bolso o que sobrou de seu dinheiro. Mesmo com o fim da pior recessão em 70 anos, a meca do consumo ainda é um pesadelo para os lojistas.
Mas não para quem trabalha na rede de varejo de moda Forever 21, dona de 420 lojas nos Estados Unidos e 40 em outros 14 países. A grife de Los Angeles, voltada para mulheres de 18 a 30 anos, quase triplicou o faturamento nos últimos quatro anos — as vendas em 2010 devem somar 3,2 bilhões de dólares.
A ascensão da empresa é resultado do que os especialistas chamam de febre do fast fashion, varejistas que se “inspiram” nas tendências dos principais desfiles da alta moda e, num curtíssimo espaço de tempo, oferecem roupas quase idênticas por preços acessíveis.
Em época de desemprego no mundo rico, a combinação de roupas descoladas e preços baixos tornouse irresistível para uma empobrecida classe média — apesar de eventuais restrições à qualidade das roupas.
No mercado do fast fashion, a Forever 21 é uma espécie de caçula. Marcas como a espanhola Zara, a inglesa Topshop e a sueca H&M são muito maiores — a Zara, maior ícone do segmento, tem 4 700 lojas e 14 bilhões de dólares em vendas.
Todas elas se destacam pela velocidade. “A Forever 21 demora, em média, seis semanas para fabricar na China e colocar à venda nos Estados Unidos um vestido usado no último desfi le de moda. Uma loja de departamentos pode levar até três meses”, diz Simon Collins, reitor da Parson, renomada faculdade de moda de Nova York. Além disso, a empresa troca suas coleções mensalmente.
“Essa prática obriga as mulheres a sempre dar uma passada na loja”, afi rma Collins. Na comparação com as concorrentes do fast fashion, a vantagem da Forever 21 é o preço. Nas suas lojas, é comum haver blusas à venda por cerca de 5 dólares e casacos por 25.
A estilista Anna Corinna, sócia da butique Foley + Corinna, de Manhattan, recorreu à Justiça americana após ver nas vitrines da Forever 21 um vestido que diz ser idêntico ao que ela confeccionou. “O mais revoltante é o preço: 40 dólares, 10% do valor do meu produto”, diz Anna, que deu início a uma das 50 ações judiciais respondidas pela rede de varejo por suposta infração de direitos autorais.
Por trás das conquistas e das polêmicas da Forever 21, está Do Won “Don” Chang, um reservado imigrante coreano de 55 anos que, na adolescência, trabalhava como entregador de suco em Seul. Ao se mudar para a Califórnia, aos 18 anos, Chang fez jornada tripla numa cafeteria, numa empresa de limpeza e num posto de gasolina.
Enquanto abastecia carros luxuosos, percebeu que a maior parte dos ricos era comerciante. Inspirado por essa constatação, durante três anos juntou dinheiro para abrir sua primeira loja de roupas, uma butique popular voltada para a comunidade coreana e batizada de Fashion 21.
Em 1989, já com 11 lojas na Califórnia e clientela variada, mudou o nome para Forever 21. O ápice de seus negócios foi em junho do ano passado, quando Chang abriu uma loja gigantesca na Times Square, no coração de Manhattan. “É a maior passarela do mundo”, discursou Michael Bloomberg, prefeito de Nova York, na inauguração. Diariamente, mais de 100 000 pessoas visitam o espaço, que fica aberto das 8 às 2 horas da manhã do dia seguinte.
Esse fluxo é sete vezes superior ao de pessoas que vão diariamente conhecer a Estátua da Liberdade. Membro de uma igreja evangélica americana, Chang faz questão de que todas as sacolas da empresa tenham impresso no verso “João 3:16” — “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”.
Diante das várias acusações de que já explorou imigrantes em suas lojas na Califórnia, Chang costuma dar mais uma evidência de sua religiosidade: “Quando alguém bater em sua face direita, ofereça a esquerda”.