Revista Exame

A guerra dos outlets no Brasil

As empresas prometem construir 28 outlets no Brasil até 2019 — hoje, só existe um no país. Se vai deixar de valer a pena fazer compras em Nova York é outra história

Compras no outlet de Itupeva, em São Paulo: os brasileiros agora copiam o bem-sucedido modelo americano (Cláudio Rossi/EXAME.com)

Compras no outlet de Itupeva, em São Paulo: os brasileiros agora copiam o bem-sucedido modelo americano (Cláudio Rossi/EXAME.com)

DR

Da Redação

Publicado em 15 de junho de 2012 às 11h50.

São Paulo - Não resta dúvida, ao menos para quem viaja para o exterior com certa frequência, de que poucos povos do planeta são compradores tão contumazes quanto o brasileiro. Nenhum turista gasta tanto em Nova York quanto o viajante verde-amarelo: as compras são tantas que os Estados Unidos decidiram recentemente facilitar a concessão de vistos em seus consulados no Brasil.

E é nos outlets — centros de compras onde são encontradas roupas baratas de marcas famosas — que os brasileiros gostam de fazer a festa. Há 181 outlets nos Estados Unidos. O que ninguém conseguia entender é: por que, mesmo com uma gente tão compradora, o Brasil tem apenas um out­let?

Pois, finalmente, grupos empresariais acordaram para essa oportunidade óbvia — planeja-se, hoje, uma onda de inaugurações de outlets no Brasil. Se todos os investimentos anunciados recentemente saírem do papel, o país terá 29 outlets em sete anos. 

A administradora de centros de compras General Shopping saiu na frente: inaugurará, em 28 de junho, o Outlet Premium Brasília na rodovia BR-060, a 60 quilômetros da capital federal. A empresa também fechou parceria com o banco BR Partners para inaugurar outros cinco outlets.

A reação da BR Malls, maior administradora de shoppings do país, mostrou que as empresas do setor realmente veem nos outlets uma forma de diversificar sua atuação, hoje concentrada em centros de compras tradicionais. A companhia anunciou em abril parceria com a americana Simon Property Group, maior empresa de capital aberto do mercado imobiliário no mundo.

As duas empresas criaram a Premium Outlets Brasil — o plano é inaugurar 12 deles até 2019. A consultoria imobiliária Jones Lang LaSalle planeja inaugurar nove outlets até 2016, em parceria com diferentes construtoras. E a incorporadora JHSF completa a lista de interessados no setor. Para colocar todos os projetos de pé, essas empresas terão de investir cerca de 3 bilhões de reais.

A série de anúncios colocou os grupos empresariais em rota de colisão. Além de disputar o mesmo mercado, BR Malls e General Shopping terão de brigar pelo uso das marcas que escolheram para atuar no Brasil.


Os empreendimentos da General Shopping chamam-se Outlet Premium, mas a Simon utiliza nos Estados Unidos, há anos, a marca Premium Out­lets — procurada, a BR Malls afirmou que não comenta se vai contestar ou não o uso da marca pela rival.

O primeiro outlet da BR Malls ficará no quilômetro 45 da rodovia Castello Branco, no interior de São Paulo — a apenas 15 quilômetros de distância do Catarina Fashion Outlet Premium, da JHSF, que deve ser inaugurado em cerca de um ano. A briga promete.

Não é a primeira vez que as empresas investem em outlets no Brasil. Na década de 90, o país teve oito experiências, todas malsucedidas. Na época, o maior erro foi construir os outlets dentro das cidades, em terrenos caros — o que inviabiliza o modelo de negócios de quem pretende vender barato.

Os projetos atuais copiam o modelo americano de construir à margem de rodovias. As lojas têm apenas um andar e os espaços são abertos para reduzir os gastos com obras e energia elétrica. O grande chamariz para a atual onda de projetos foi o sucesso do único out­let do país, construído pela General Shopping na cidade de Itupeva, a 76 quilômetros de São Paulo. Seu faturamento cresce 20% ao ano.

O aumento da concorrência é uma esperança para que os outlets consigam algo que nunca aconteceu para valer no Brasil — ter preços realmente irresistíveis. Um levantamento feito por EXAME mostra que o desconto oferecido na venda de uma camisa polo da marca francesa Lacoste no outlet de Itupeva é de cerca de 40%.

Nos Estados Unidos, supera os 70%. As empresas  garantem que chegarão a patamar semelhante em seus outlets brasileiros. A triste realidade é que nem mesmo essa facada nos preços vai conseguir acalmar a turma que se habituou a fazer compras no exterior.

“Em razão de nossos altos custos de fabricação e de importação, ainda será muito mais barato comprar nos Estados Unidos”, diz a consultora especializada em luxo Gabriela Otto. “A maior vantagem de comprar aqui será a chance de parcelar no cartão de crédito, o que lá não é possível.” À vista em Nova York ou parcelado na BR-060? Os compradores brasileiros decidirão.

Acompanhe tudo sobre:ComércioCompetiçãoEdição 1016Investimentos de empresasVarejo

Mais de Revista Exame

Aprenda a receber convidados com muito estilo

"Conseguimos equilibrar sustentabilidade e preço", diz CEO da Riachuelo

Direto do forno: as novidades na cena gastronômica

A festa antes da festa: escolha os looks certos para o Réveillon